Dólar sobe e Bolsa despenca com mercado à espera de dados dos EUA e posse de Trump

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O dólar operava em forte alta e a Bolsa caía nesta quinta-feira (16), com os investidores na expectativa pela posse do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, que será nesta segunda-feira (20).

Às 15h25, a moeda norte-americana subia 0,63%, cotada a R$ 6,062. Os investidores demonstram cautela enquanto se posicionam para o início do governo Trump e aguardam novos dados econômicos e eventos que podem moldar o sentimento durante a sessão.

Já a Bolsa caía 1,39%, aos 120.936 pontos, no mesmo horário, em meio a ajustes após alta de quase 3% na véspera. O anúncio de potencial fusão entre as companhias aéreas Azul e Gol e venda de ações da Vale pela Cosan movimentavam a sessão.

Como tem ocorrido frequentemente nos primeiros pregões deste ano, os agentes financeiros voltavam suas atenções nesta quinta para o cenário externo, à medida que continuam especulando sobre a trajetória da taxa de juros do Federal Reserve e as implicações das medidas do novo governo dos EUA.

Nesse último ponto, o destaque do pregão será a audiência do indicado de Trump para o Departamento do Tesouro, Scott Bessent, no Senado, com os mercados globais em busca de sinais de como o presidente eleito implementará suas promessas de campanha.

Analistas têm apontado que Bessent, um veterano de Wall Street, buscará controlar os déficits dos EUA e utilizar as prometidas tarifas de importação como uma ferramenta de negociação com aliados e adversários.

Bessent prometeu na quarta-feira garantir que o dólar continue sendo a moeda de reserva global.

O principal temor em relação às políticas do novo governo é de que possam ser inflacionárias, o que forçaria o banco central dos EUA a manter a taxa de juros em um patamar elevado, interrompendo seu atual ciclo de afrouxamento monetário.

Ainda há uma série de incertezas sobre as políticas que o presidente eleito implementará, mas analistas têm frequentemente apontado que suas promessas de campanhas, que incluem tarifas de importação e cortes de impostos, são inflacionárias, o que favorece o dólar ao elevar as taxas de juros futuras do país.

“Com poucos pregões até a inauguração de Trump e com o tópico das tarifas mais quente do que nunca, parece difícil acreditar que o mercado buscará desfazer suas posições em dólares, e a moeda norte-americana deve continuar em alta até lá”, disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.

O retorno de Trump e o enfraquecimento das expectativas por cortes na taxa de juros têm levado o dólar a atingir máximas de vários anos, e os investidores acreditam que essa força continuará, auxiliada pelas políticas pró-crescimento e inflacionárias do novo governo dos Estados Unidos.

Embora Trump tenha se queixado com frequência de que a força excessiva do dólar diminui a competitividade das exportações dos EUA e prejudica a produção e os empregos no país, suas políticas são vistas pelos mercados como um estímulo à moeda.

“Continuamos vendo o dólar como fundamentalmente supervalorizado, mas, pelo menos no curto prazo, é difícil encontrar catalisadores que façam com que o dólar se enfraqueça”, disse Brian Rose, economista sênior do UBS Global Wealth Management.

A posse presidencial na segunda-feira é um dos principais motivos que impedem os investidores de manter o dólar fraco, disseram agentes financeiros. Enqunto o dólar avança com as expectativas de tarifas amplas, seus detalhes ainda não estão claros.

“Não sabemos qual será a força, a intensidade, a abrangência e o valor das tarifas”, disse John Velis, chefe de câmbio e estratégia macro para as Américas do BNY Markets.

Na quarta-feira (15), o dólar encerrou com queda de 0,36%, a R$ 6,024, após a divulgação do índice de preços ao consumidor dos Estados Unidos (CPI, na sigla em inglês) de 2024, que veio levemente acima das expectativas, mas apresentou melhora nos núcleos, que excluem do cálculo preços de alimentos e energia.

Este é o menor valor registrado pela moeda norte-americana desde 12 dezembro do ano passado, quando fechou cotada a R$ 6,011.

Na abertura, o dólar rondou a estabilidade, com investidores à espera dos dados de inflação dos EUA.

Logo após a divulgação, desceu a R$ 6,010 na mínima do dia e voltou a operar estável na maior parte da tarde.

Já a Bolsa fechou em alta de quase 3% nesta quarta-feira, orbitando os 123 mil pontos na máxima, embalada pelo viés positivo em Wall Street e pela queda nos rendimentos dos títulos do Tesouro norte-americano após dados de inflação nos Estados Unidos.

Ao fim da sessão, encerrou com uma variação positiva de 2,80%, aos 122.650 pontos.

O Departamento do Trabalho americano divulgou nesta quarta que os preços ao consumidor dos Estados Unidos aumentaram 0,4% no mês passado. Já no acumulado de 12 meses até dezembro, o índice avançou e fechou 2024 a 2,9%. O resultado fica acima da meta de 2% estabelecida pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA).

A alta teve uma leve aceleração na comparação com novembro, quando registrou avanço de 0,3% no mês e de 2,7% no acumulado de 12 meses.

Economistas consultados pela Reuters previram avanço de 0,3% na comparação mensal e de 2,9% na base anual de dezembro.

No entanto, excluindo os componentes voláteis de alimentos e energia, o índice teve alta de 0,2% em dezembro, após um ganho de 0,3% no mês anterior. O chamado núcleo do CPI havia aumentado 0,3% por quatro meses consecutivos. Nos 12 meses até dezembro, o núcleo aumentou 3,2%, depois de ter subido 3,3% em novembro.

Os números foram bem-recebidos pelo mercado, que viu chances maiores de o Fed cortar juros mais vezes em 2025. Isso pesou sobre os rendimentos dos Treasuries e, em paralelo, sobre as cotações do dólar.

Com isso, operadores passaram a apostar em um afrouxamento monetário maior a ser realizado pelo Fed neste ano.

As apostas de reduções dos juros em 2025 saltaram para 37 pontos-base -antes da divulgação dos dados, era de 31 pontos-base. Ainda se espera que os juros fiquem inalterados na reunião de janeiro.

Juros mais baixos nos EUA tornam os treasuries, os títulos do tesouro americano -considerados os mais seguros do mundo- menos atrativos. Isso incentiva investidores a buscar mercados emergentes, como o Brasil, que oferecem maior rentabilidade, o que faz a Bolsa por aqui se valorizar.

Além disso, juros mais baixos por lá também tornam o dólar menos atrativo, levando à sua desvalorização frente ao real. Em outras palavras, fica mais barato comprar dólar no Brasil.

Na última terça-feira (14), o Departamento do Trabalho americano havia divulgado dados sobre o PPI, o índice de preços ao produtor dos EUA, que vieram abaixo do esperado. O PPI foi de 0,4% no mês de novembro para 0,2% em dezembro.

No período de 12 meses até dezembro, o índice PPI acelerou para 3,3%, após um aumento de 3,0% em novembro. A aceleração na taxa anual refletiu os preços mais baixos do ano passado, especialmente dos produtos de energia, que saíram do cálculo.

Os números ficaram abaixo do esperado por economistas, o que levou o dólar a cair 0,85%, a R$ 6,045. Já a Bolsa fechou com alta de 0,24%, aos 119.298 pontos, com o apoio das ações da Vale e do banco Bradesco.

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