Moradores do condomínio Sarandi, em Planaltina, contabilizam estragos da chuva

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CAROLINA FREITAS e MAIARA MARINHO
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Os moradores do condomínio Sarandi, situado na Estância Mestre D’Armas em Planaltina-DF, contabilizam os estragos causados pela forte chuva que atingiu o local na terça-feira (14). A água invadiu todas as 45 casas do condomínio, derrubou muros e residências. A maioria das famílias teve perdas materiais, como móveis, eletrodomésticos e itens de trabalho.

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Crédito: Carolina Freitas 

A vendedora autônoma, Elenice Araújo, 52 anos, foi uma das moradoras mais impactadas com o temporal. Ao Jornal de Brasília, ela contou que a casa dela foi derrubada com a enxurrada, e o prejuízo foi total. “Eu acordei com os estalos da telha e maneira e já fui chamando a minha nora e dizendo que a casa ia cair. Só foi o tempo de eu sair com os meninos, e ela desabou”, relatou.

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Crédito: Carolina Freitas 

Elenice mora no condomínio há 20 anos, e disse que essa foi a primeira vez que ocorreu algo dessa proporção no local. “Nunca tinha visto o córrego transbordando dessa forma e tomando conta de tudo”, ressaltou. Agora, ela espera colocar tudo em ordem e voltar para a sua casa. “Eu quero auxílio, aluguel e construção para eu voltar a minha vida ao normal. Quero voltar a ter a minha casa e dormir em paz”, completou.

O lote onde Elenice mora conta com três casas, uma dela, que desabou, e as outras duas dos seus filhos, que foram interditadas pela Defesa Civil. Toda a família teve que deixar o condomínio para ir morar de aluguel em outro local em Planaltina. “Perdemos tudo, tanto alimento como roupas e móveis. Estamos vivendo com a roupa do corpo e dos outros. A única coisa que sobrou foi a nossa vida porque na hora que a casa desabou estávamos todos dentro da casa”, lamentou o filho de Elenice, Júlio César, 26 anos.

A autônoma Rayane Cristine, 31 anos, que trabalha com aluguel de brinquedos de festa, ainda avalia o tamanho do prejuízo que a chuva causou à sua família e ao seu negócio. “Agora que estamos tirando de lugar para ver o que está funcionando ou não. Mas em questão de casa, a cozinha toda foi embora, máquina de lavar, geladeira, freezer. A água atingiu toda a casa, chegando perto do joelho a altura. Eu moro aqui há sete anos, e essa foi a primeira vez que a água chegou a essa altura”, explicou.

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Professor Valeriano Junior, 44 anos. Crédito: Carolina Freitas 

O muro da casa do professor Valeriano Junior, 44 anos, caiu com a enxurrada, o que fez com que mais água adentrasse a sua residência. “O prejuízo foi material, alguns móveis, estantes, cama e armário”, comentou. “Todo ano tem um alagamento ou outro, mas nessa proporção foi o primeiro. Já é, inclusive, a segunda vez que faço a construção desse muro. Em 2015, ele também desabou por conta da enxurrada”, acrescentou.

Falta de estrutura

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Ao JBr, os moradores relataram que o bairro da Estância, onde está situado o condomínio, não conta com captação de águas pluviais e rede de esgoto, o que, juntamente com o córrego pode ter ocasionado o alagamento. Segundo o síndico do condomínio, Nelson Gonçalves, apenas o empreendimento privado conta com os equipamentos para escoamento da água. Porém, o mesmo não foi suficiente para abrigar a enxurrada.

“A captação de água não foi feita. Como não tem drenagem, nem nada, o acúmulo de água de todo o bairro vem para a nossa área. Tanto que desabou muros com a pressão da água que veio do outro lado. Dessa forma, ficamos ilhados porque ficamos entre o córrego e essa captação que não é feita. Juntou os dois e o nível de água foi muito grande”, explicou Gonçalves. Os moradores do bairro já haviam solicitado a instalação das redes de águas pluviais e de esgoto na Administração Regional de Planaltina, mas até o momento não obtiveram resposta.

Na manhã desta quarta-feira (15), a vice-governadora Celina Leão e o administrador de Planaltina, Wesley Fonseca, estiveram no condomínio prestando apoio à população do local. Aos moradores foi prometido que o Governo do Distrito Federal (GDF), junto com os órgãos competentes, vão trabalhar em prol de conseguir recursos suficientes para a instalação de águas pluviais em todo o bairro.

“As famílias que moram no condomínio Sarandi estão instaladas às margens do rio São Bartolomeu e estão em processo de regularização”, explicou o administrador de Planaltina, Wesley Fonseca. “Fizemos o cadastro de todos os afetados, que já estão sendo assistidos pelo GDF. Além disso, criamos um gabinete de crise para centralizar todas as ações do governo, traçar um planejamento para futuras ocorrências relacionadas às condições climáticas e para definir o que podemos fazer daqui em diante para minimizar o impacto a essas famílias”, completou.

Áreas afetadas

De acordo com a Subsecretaria do Sistema de Defesa Civil (SUDEC), uma residência no condomínio foi totalmente interditada devido a danos estruturais e uma área foi isolada em razão do colapso parcial de um muro. Além disso, uma vistoria realizada nesta quarta-feira (15) no local não identificou novos pontos de alagamentos. “As casas mais baixas estão ainda em situação de escoamento da água acumulada. Equipes da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros Militar ainda estão no local”, cita a nota.

Segundo a SUDEC, mesmo com os alagamentos o condomínio não precisou ser interditado. A reportagem, a Administração Regional de Planaltina informou que segue monitorando as chuvas e os pontos de alagamento na cidade com total atenção. “Um abrigo foi preparado para atender possíveis famílias em situação de emergência, mas, até o momento, não houve necessidade de utilização. Em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Social, realizamos a distribuição de colchões para as famílias atingidas e mapeamos todas as pessoas em situações críticas. Esses casos estão sendo acompanhados de perto pelos órgãos de assistência, garantindo o suporte necessário por meio dos benefícios assistenciais disponíveis”, enfatizou.

Alagamento na Estrutural

Outras regiões do DF, além de Planaltina, foram impactadas pelas fortes chuvas que atingem a capital federal desde o último domingo (12). Uma delas é a Estrutural, no Setor de Oficinas, que foi inundada na segunda-feira (13). A líder comunitária, Ana Cleia Holanda, relatou à reportagem que a água chegou no joelho dos moradores e invadiu as casas. “A gente teve que carregar cachorro e crianças nas costas por causa da enchente”, disse.

“Na minha casa mesmo já está três dias sem luz, já queimou geladeira”, enfatizou a líder comunitária. “Sempre que chove ocorrem esses alagamentos e não temos respostas até o momento. A luz acabou e ficamos todos ilhados aqui”, acrescentou. O Jornal de Brasília entrou em contato com a Administração Regional da Estrutural, mas até o fechamento desta edição não havia recebido retorno sobre a situação do Setor de Oficinas.

Regiões em risco no DF

Conforme relatado pela SUDEC, o DF possui 36 áreas de risco, distribuídas por 19 regiões administrativas. São monitoradas devido a ameaças de erosões, deslizamentos e inundações, com destaque para regiões como Sol Nascente/Pôr do Sol, Fercal, Vicente Pires, Sobradinho II e Arniqueira. “O órgão atua executando ações preventivas, assistenciais e recuperativas, destinadas a evitar ou minimizar desastres, apoiando as ações dos órgãos de emergência, que realizam as primeiras intervenções. São monitorados locais que tenham declive acentuado, erosões, que sejam próximos a córregos e demais cursos d’água, com precariedade de drenagem de águas pluviais e ou de saneamento básico, que tenham fragilidades construtivas das edificações, que apresentem acúmulo de resíduos sólidos, como entulho e restos de obras, entre outros problemas”, diz a nota.

Serviço

Em caso de perigo, a Defesa Civil orienta as pessoas a saírem imediatamente do local de risco, avisando o Corpo de Bombeiros pelo telefone 193 e a Defesa Civil pelo número 199. Também é importante enviar o CEP do local onde reside para o número 40199 para que seja possível receber alertas para a região cadastrada.

Para acionar o serviço de alertas da Defesa Civil, basta enviar uma mensagem de texto ao número 40199. A mensagem de ativação pode ser qualquer palavra, que servirá para acionar o sistema automático. Como resposta, o morador recebe uma mensagem para que envie o CEP, sendo cadastrado assim que o número é enviado. Também há um número fixo de WhatsApp disponível (61 2034-4611) com um menu interativo que presta serviços de alerta e orientações para ocorrências.

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