Rigor e tempo de tela influenciaram baixo número de redações nota mil no Enem, dizem professores

BRUNO LUCCA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Em sua última edição, o Enem registrou o menor número de redações nota mil da série histórica, iniciada em 2009. Foram apenas 12. Professores creditam isso a dois fatores: maior rigor na avaliação dos textos e menor repertório dos estudantes, muito influenciados pelas redes sociais.

A correção da redação no Enem é fundamentada em cinco competências, com valor de 200 pontos cada uma: o domínio do português, compreensão do tema e aplicação de conceitos, articulação de informações, coesão e proposta de intervenção.

“A banca já havia anunciado que ficaria mais atenta à estrutura do texto neste ano, cobrando um repertório de informações e citações mais articulado”, diz Sérgio Paganim, professor de redação do curso Anglo.

Paganim diz que o maior rigor da banca é devido ao tema da redação, os desafios da valorização da herança africana no Brasil. Segundo ele, o assunto é mais simples. Isso, afirma, faz com que os avaliadores cobrem mais profundidade na análise apresentada.

“É uma constante em bancas. Quando o tema é muito difícil, elas costumam ficar um pouco mais condescendentes. Já quando tem uma facilidade mais notada pelos corretores, eles optam por um olhar um pouco mais preciosista”, avalia o professor.

Porém, não foi só a correção que resultou no baixo número de notas máximas. Para Maria Aparecida Custódio, professora de redação do Objetivo, o repertório dos estudantes está pior, e a culpa é das redes sociais.

Ela afirma que o tempo passado nas telas causa dispersão nos jovens. Habituados a imagens e vídeos curtos, eles teriam problemas em fazer leituras mais longas, afetando seu conhecimento lexical e sociocultural.

“Assim, o candidato vai ter mais dificuldade de produzir argumentos consistentes, ser persuasivo, entender a proposta de redação”, diz Custódio. “E, inseguro em ter que escrever 30 linhas sobre um assunto que não entende, ele vai cometer deslizes.”

Apenas um aluno de escola pública, de Minas Gerais, conseguiu atingir a nota máxima na redação, os demais estudaram na rede particular.

Minas e Rio de Janeiro foram os únicos estados que tiveram dois estudantes com nota máxima. Alagoas, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Pernambuco, Rio Grande do Norte e São Paulo tiveram um.

O ministro da Educação, Camilo Santana, disse que o Inep, órgão responsável pela prova, irá analisar os resultados. “Vamos procurar entender o que significa esse resultado e pensar em ações e políticas a partir dessa análise”, disse em entrevista coletiva na manhã de segunda (13).

Apesar do menor número de notas máximas, a proficiência média na redação na prova mais recente foi de 660 pontos, acima dos 645 de 2023.

O Enem 2024 teve mais de 4,32 milhões de inscritos em todo o país, um aumento de 9,95% em relação a 2023. A proficiência média dos candidatos também teve aumento em relação ao ano passado, passando de 543 para 546 pontos.

“Quando há a ampliação de participantes, a tendência é de que a média diminua, por isso, esse aumento ainda que pequeno é muito positivo”, disse o ministro.

A média dos participantes, por outro lado, teve queda nas provas de matemática, ciências humanas e ciências da natureza.

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