Mundo vê volta de Trump com bons olhos e China superando EUA, aponta pesquisa

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GUILHERME BOTACINI
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

O tsunami prometido pela volta de Donald Trump à Casa Branca em 2025 incomoda mais os aliados dos Estados Unidos do que seus rivais geopolíticos e países de posição ambígua, de acordo com pesquisa global do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR), think tank com escritórios em sete nações do continente e em Washington.

O otimismo com Trump é maior na Índia, onde 85% dos entrevistados veem a volta do republicano como boa para os americanos, e 84% como boa para a Índia. O país é seguido por Arábia Saudita (69% na primeira métrica, 61% na segunda) e Rússia (59% e 49%).

A pesquisa foi conduzida em novembro do ano passado e ouviu um total de 28.549 pessoas. Em países fora da Europa, os questionários foram conduzidos pela Gallup ou parceiros; no caso brasileiro, a responsável foi a empresa MarketAnalysis, com 1.000 pessoas entrevistadas e amostra representativa do país, diz o ECFR.

Segundo a pesquisa, 56% dos entrevistados no Brasil veem a volta de Trump como boa para os americanos, e 43% como boa para Brasília.

Acham ruim para o Brasil o retorno do republicano, 25% dos entrevistados brasileiros; 33% disseram que a volta não seria nem boa nem ruim, ou não souberam opinar.

Suíça, Reino Unido, Ucrânia e Coreia do Sul, além da União Europeia, são países em que o pessimismo é mais pronunciado, ainda que com algumas diferenças.

Em Seul, 49% dos sul-coreanos veem a volta de Trump como positiva para os americanos, mas apenas 11% avaliam que os efeitos desse retorno são bons para a Coreia do Sul —que vive, além de grave crise política interna, uma crescente e perene tensão com a Coreia do Norte, e tem nos EUA seu maior aliado no conflito.

No Reino Unido, apenas 15% estão otimistas quanto à eleição de Trump e os efeitos dela em seu país (contra 54% que a veem com pessimismo); na União Europeia, esses valores são de 22% e 38%, respectivamente. Londres e Bruxelas têm estado em rota de colisão com o republicano e pessoas próximas dele, como o bilionário Elon Musk, mesmo antes da posse de Trump.

Já na Ucrânia, sob a perspectiva de que algum desfecho deve ser dado ao conflito com a Rússia, predomina o meio termo: 55% afirmam que a eleição de Trump não será nem boa nem ruim para o país, ou não sabem dizer (para 26% será boa; para 20%, ruim).

Outro ponto levantado pela pesquisa é a expectativa quanto ao fim da Guerra da Ucrânia. Em maio de 2024, 58% dos entrevistados avaliavam que Kiev vencer o conflito era o resultado mais provável. Já no levantamento atual, de novembro, o percentual caiu para 34%, e a variável mais aceita como provável é a assinatura de um acordo que termine o conflito (47% em novembro, contra 40% em maio).

“A Europa está bastante isolada em relação a sua ansiedade com o retorno de Trump à Casa Branca. Enquanto muitos europeus enxergam o presidente eleito como um desestabilizador, outros, em diferentes partes do mundo, o veem como um pacificador. Essa posição coloca a Europa em um ponto de inflexão em suas relações com a nova administração americana”, afirma Ivan Krastev, coautor da pesquisa e presidente do Centro de Estratégias Liberais.

“Em vez de tentar liderar uma resistência global contra Trump, os europeus deveriam assumir a responsabilidade por seus próprios interesses e buscar maneiras de construir novas relações em um mundo mais transacional”, diz Mark Leonard, cofundador e diretor do ECFR.

A pesquisa capta ainda uma segunda camada de percepções sobre a geopolítica que adiciona nuances à força de Trump à frente da Casa Branca.

Enquanto a pesquisa identifica que os EUA terão mais influência no mundo na próxima década, na opinião da maioria dos entrevistados, também capta o predomínio da visão de que Pequim vai ultrapassar Washington como maior potência do mundo nos próximos 20 anos.

Todos os países pesquisados veem os EUA como mantendo ou aumentando sua influência global atual para a próxima década. No caso brasileiro, o percentual que vê essa influência crescendo é de 70%, atrás apenas de África do Sul e Índia.

Mesmo os russos, os que mais duvidam dessa influência, ainda veem a força de Washington se mantendo (35%); 22% deles acham que ela irá aumentar, e 29%, que ela irá diminuir.

Tão predominante quanto a ideia dos EUA como potência ainda relevante nas próximas décadas é a de que Washington perderá a liderança global para Pequim, segundo a pesquisa.

A maioria, mesmo de britânicos e europeus, próximos dos EUA, avaliam ser provável que a China ultrapasse o aliado como maior potência do mundo (52% para o Reino Unido, 55% para a União Europeia). Apenas ucraniano e sul-coreanos pensam ser improvável esse cenário.

Os brasileiros se aproximam dos britânicos nesse quesito, com 56% achando provável um mundo em que Pequim seja a maior potência nos próximos 20 anos, contra 30% que acham isso improvável (14% não souberam ou não quiseram responder).

Países do Brics, aliás, grupo do qual Brasil e China fazem parte e que tenta se posicionar como alternativa ao Ocidente, são os que mais enxergam Pequim prevalecendo. Chineses (81%), russos (77%), sauditas (71%) e sul-africanos (67%), além dos brasileiros, veem o cenário como provável.

A exceção é a Índia, ora parceiro, ora grande rival regional da China, onde os indianos se dividem: 45% acham provável a China passar os EUA, contra 44% que acham improvável.

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