Brasil se esquiva de agenda antiocidental em reunião do Brics


Movimento do bloco repercute até na ONU e gera cálculo por equilíbrio da diplomacia brasileira, que está de olho no próximo presidente dos Estados Unidos. Chefes de Estado do Brasil, China, África do Sul e Índia e o chanceler russo em encontro do Brics de 2023.
Getty Images via BBC
O Brasil vem adotando uma postura de cautela em relação aos debates que acontecem na reunião do Brics, esta semana, em Kazan, na Rússia. Um dos temas debatidos nos bastidores é a agenda antiocidental promovida especialmente por China e Rússia.
A agenda da reuniões em Kazan inclui discussões sobre multilateralismo e desenvolvimento global, com a participação de líderes de diversos países interessados em aprofundar os laços com o Brics. Entre os presentes estão o presidente chinês Xi Jinping, o presidente russo Vladimir Putin – anfitrião da reunião – e o primeiro-ministro indiano Narendra Modi.
Tanto Rússia quanto China têm se movimentado para desenvolver uma força antagonista ao Ocidente, especialmente após a adesão de novos países ao Brics no ano passado.
➡️ A busca por novos membros com agendas descoladas do panorama ocidental tem sido uma estratégia clara adotada por estes países para fortalecer suas posições.
Como Brics passou a ser visto como ‘bloco antiocidental’ – e qual o impacto para o Brasil
Uma reunião em Kazan definiu uma lista de países parceiros do bloco em seu plano de expansão. Cuba, Bolívia, Indonésia, Malásia, Usbequistão, Casaquistão, Tailândia, Nigéria, Uganda, Turquia, Vietnã e Belarus foram as nações convidadas. Argélia também pode entrar no grupo. No entanto, os nomes ainda precisarão ser aprovados pelos líderes.
Entre os cotados, mas que ficaram de fora, estava a Venezuela. Neste sentido, o Brasil resolveu demonstrar que sua política externa não abraçaria todas as estratégias dos países parceiros do Brics. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu assessor especial Celso Amorim se manifestaram, por exemplo, contra a entrada venezuelana no Brics.
Lula destacou que a inclusão de países com regimes autocráticos poderia desvirtuar os objetivos do bloco, enquanto Amorim reforçou a necessidade de manter o foco em cooperação econômica e desenvolvimento sustentável além de buscar a adesão de países que tragam uma contribuição prática na busca “de um mundo mais multipolar e mais pacífico”.
Os movimentos de alguns países do Brics, na Rússia, já provocam debates do outro lado do mundo. Segundo apurou a TV Globo, durante a semana, em conversas reservadas, diplomatas e integrantes da ONU em Nova York manifestaram preocupação com a possibilidade de o Brics se tornar um contrapeso à dominância ocidental. Fontes disseram que a percepção, a longo prazo, é de que uma não reforma na ONU, tornando-a mais inclusiva, pode alimentar essas forças a serem o contrapeso à dinâmica diplomática ocidental.
O cálculo do Brasil também passa por um olhar sobre quem vai comandar a Casa Branca pelos próximos 4 anos. As eleições americanas acontecem em duas semanas, no dia 5 de novembro, e a grande incerteza sobre quem vencerá o pleito é um combustível para a cautela. O governo Lula tem afinidade com os democratas, enquanto uma vitória de Donald Trump pode pôr mais lenha numa fogueira de desequilíbrio ocidente – oriente.
A postura brasileira, portanto, reflete uma tentativa de equilíbrio nas suas relações internacionais, evitando se alinhar completamente a uma agenda que possa gerar tensões com o Ocidente, ao mesmo tempo em que busca fortalecer a cooperação dentro do Brics.
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