Projeto busca combater o racismo e o preconceito em Navegantes

O Ojinjé-Associação de Cultura e Tradições de matriz Africana encerrou no sábado (14) a terceira edição do projeto Òró Ìtán, Contando e Cantando Histórias Afro-brasileiras e Indígenas. O evento reuniu música, gastronomia, capoeira, palestras e contação de histórias e chegou ao seu final dando aos organizadores a sensação de missão comprida. A festa de encerramento foi na sede da instituição, na Meia Praia, em Navegantes.

O projeto foi pensado para levar histórias às escolas municipais ligadas às ancestralidades africana e indígena, buscadas em publicações escritores negros e indígenas, além de histórias que estão na oralidade desses povos. Contribui ainda para a aplicabilidade das leis 10.639/2003 e 11.645/2008, que tornaram obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira em escolas públicas e particulares, do ensino fundamental ao ensino médio.

“Nossos objetivos são trabalhar o respeito, a empatia e combater o racismo e a discriminação ainda, infelizmente, existente na sociedade, junto a alunos da Rede Municipal de Ensino de Navegantes”, explica a proponente Isabel Cristina Ribeiro Rosa, a “Mãe Cristina”. O projeto está no edital Vilma Mafra da Fundação Cultural de Navegantes. “Acredito que a terceira edição do Projeto Òró Ìtán foi excelente, fomos muito bem recebidos nas escolas e estamos com a sensação de missão cumprida”, acrescenta Mãe Cristina.

A luta é árdua e diária

“Vivemos num país racista e, pior do que isso, num dos estados mais racistas do Brasil, que é Santa Catarina. Precisamos continuar existindo e resistindo, e o conhecimento é crucial nesse processo. Nesse contexto, o projeto Òró Ìtán, Contando e Cantando Histórias Afro-brasileiras e Indígenas o projeto é muito importante para o resgate da cultura ancestral para difundir essa cultura”, diz o mestre de capoeira Gian Carlos Rio dos Santos, o mestre Latino. “Essa cultura precisa ir para as escolas, para as ruas, pois precisamos de liberdade para manifestar nossa cultura, nossas origens”, acrescenta.

Mãe Cristina diz que muito já foi feito, mas que ainda há um longo caminho.

Mãe Cristina destaca que a luta no combate ao preconceito, ao racismo e ao empoderamento dos descendentes dos negros e índios tem que ser diária. “No nosso município já foi muito pior, não se falava em consciência negra, não haviam eventos alusivos às culturas de matriz africanas e há três foi editada uma lei municipal, que vem se somar às leis federais e outras que obrigam a difusão das culturas afro e indígena nas escolas”, destaca.

A ativista antirracial diz que ainda há uma certa resistência, mas que a situação vem melhorando ano após ano. “No mês de novembro, na semana da consciência negra e no dia do Zumbi dos Palmares, 20 de novembro, não se fazia nada. Há três anos, com a lei municipal, a gente tem esse espaço nas escolas, tem recebido apoio do poder público, da Fundação Cultural de Navegantes. É um trabalho de formiguinha, mas aos poucos o trabalho vem sendo reconhecido”. 

A professora e doutoranda em Educação pela Universidade Federal do Paraná, Sara da Silva Pereira, diz que projetos como o Òró Ìtán, Contando e Cantando Histórias Afro-brasileiras e Indígenas promove, além da difusão das culturas ancestrais, o empoderamento, o fortalecimento das identidades das crianças e a resistência. 

“Esse trabalho busca atingir não apenas as crianças negras, mas também trazer engajamento do restante da população, para que as crianças e os adultos percebam a diferença de uma forma positiva. Isso vai fazendo com que desconstrua o preconceito e o racismo”, explica Sara. 

Conquista 

Os ativistas das causas antirraciais aguardam para a virada do ano o início das atividades do Conselho Municipal da Igualdade Racial. A lei que cria o órgão já foi aprovada e sancionada e a instituição do Conselho deve cobrir uma importante lacuna que segue aberta há alguns anos em Navegantes. “Essa é uma luta de muitos anos. Após diversas tratativas sem êxito, conseguimos, depois de três anos, aprovar a matéria. O próximo passo será a formação da diretoria do conselho”, explica Mãe Cristina.

Ela acrescenta que Navegantes era um dos poucos municípios da região que não tinham esse Conselho. “Era uma dificuldade conseguir esse Conselho aqui, mas hoje ele já existe e agora vai começar a sua formação. Pouco a pouco o caminho vai se abrindo, mas é difícil porque ainda existe muito preconceito, muito racismo, racismo estrutural, mas nós temos sangue do Zumbi dos Palmares. Às vezes a gente dá uma parada para observar, porque recuar também a estratégia, mas parar a nossa luta por igualdade, por equidade, por respeito, por direitos humanos, Jamais”, desabafa Mãe Cristina. 

 

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