Campeão brasileiro de paratletismo e jogador de basquete: quem é o paratleta cadeirante que denunciou motorista de aplicativo que arrancou com o carro


Kenned Batista pediu um carro para ir a um treino, mas o motorista arrancou com o carro antes do embarque ao ver que ele é cadeirante. O paratleta denunciou o homem ao Ministério Público. Kenned Batista Justino; paratleta; Uberlândia; cadeirante
Arquivo Pessoal
O paratleta Kenned Batista Justino, que denunciou um motorista de aplicativo de Uberlândia que teria arrancado com o carro quando viu que ele é cadeirante, é o atual campeão brasileiro de paratletismo no lançamento de dardo. Ele é representante da Associação dos Paraplágicos de Uberlândia (Aparu) e da Fundação Uberlandense do Turismo, Esporte e Lazer (Futel).
A situação com o motorista de aplicativo aconteceu no Bairro Santa Rosa, na segunda-feira (12), e foi gravada por uma câmera de monitoramento. Segundo o paratleta, ele se aproximou quando o carro parou em frente ao endereço, conversou com o motorista e, segundos depois, o carro acelerou e foi embora.
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Hoje com 42 anos, Kenned teve uma inflamação da medula espinhal causada por uma bactéria chamada mielite transversa em 2009 e ficou paraplégico. Quatros anos depois, quando morava em Uberaba, conheceu o mundo dos esportes e ali nasceu uma paixão.
O paratleta começou jogando basquete, mas passou para o atletismo, nas modalidades de lançamento de dardo e disco e arremesso de peso. Na época, ele era representante da Associação dos Deficientes Físicos de Uberaba (Adefu). Hoje, Kenned pratica os dois esportes.
“Já são, se eu não estiver enganado, oito títulos. Oito vezes campeão brasileiro e desde a época que comecei estou sempre entre os três melhores do ranking nacional. Hoje, sou o atual número 1 do ranking nacional e do ranking mundial”, afirmou Kenned ao g1.
O paratleta já participou de campeonatos paulista, carioca, goiano e mineiro de basquete. Kenned também foi campeão da Copa Patos Unipam. Atualmente, compete apenas uma prova, que é o lançamento de dardo, no atletismo.
Paratleta fala da falta de acessibilidade em Uberlândia
Ao g1, Kenned falou que uma das maiores dificuldades é a falta de acessibilidade nos centros urbanos. Segundo o paratleta, o transporte público em Uberlândia teve uma grande melhora, mas ainda precisa mudar em alguns pontos.
Ele também falou sobre os motoristas de aplicativo que, apesar da situação que passou, acredita que há muitas pessoas na profissão que não tem o mesmo comportamento.
“Os motoristas de aplicativo, eu não posso ficar julgando todos. Há muitos que ajudam muito e que dão todo suporte, trata a gente muito bem”, disse Kenned.
Apesar disso, Kenned comentou que esta não foi a primeira vez que sofreu preconceito ao utilizar o serviço de transporte por aplicativo e que espera que o motorista seja punido.
“Já aconteceu deles verem que eu era cadeirante, fingirem que não viram, passarem direto e depois cancelarem a corrida. Mas parar, ver que é cadeirante e sair sem dar explicação, nunca aconteceu. Ele agiu com preconceito, isso afeta a gente que é deficiente físico e cadeirante. Me deixou muito constrangido. E ele tem que pagar pelo o que fez. Preconceito é crime”, desabafou.
Relembre o caso
Paratleta de MG denuncia motorista de aplicativo que teria arrancado com o carro ao perceb
O caso aconteceu na segunda-feira (12), no Bairro Santa Rosa, em Uberlândia. O momento foi registrado por uma câmera de monitoramento.
Era por volta das 9h30, quando um carro branco parou em frente ao endereço. O paratleta Kenned Batista Justino saiu pelo portão de casa. Ele se aproximou da porta dianteira, do lado do passageiro, e conversou com o motorista. Segundos depois, o carro acelerou e foi embora. Assista às imagens acima.
Ao g1, Kenned relatou que o motorista estava mexendo no celular ao parar o veículo.
“Ele não me viu antes, estava mexendo no celular quando me aproximei da porta do carro. Eu perguntei se poderia sentar no banco da frente e guardar a cadeira de rodas, foi quando ele me olhou. Eu só entendi ele dizendo ‘não’ e já acelerou. Foi o tempo de ver que eu era cadeirante”, detalhou.
Nas redes sociais, o paratleta demonstrou indignação com a atitude, que classificou como “preconceito e crime”. O caso também foi registrado na Polícia Militar. “Imagina se eu estivesse segurando na maçaneta do veículo? Ele poderia ter me arrastado ou atropelado”.
A corrida foi solicitada pelo aplicativo 99 que, segundo Kenned, deu suporte imediato, repassando os dados do motorista para o registro da ocorrência. A plataforma também informou que o condutor foi bloqueado para futuras corridas com o paratleta.
Ao g1, a 99 afirmou em nota que lamenta o ocorrido e que, assim que recebeu a denúncia, “uma equipe especializada foi mobilizada e está buscando contato com o passageiro para oferecer acolhimento e suporte”.
A empresa de transporte também afirmou que o motorista foi bloqueado permanentemente da plataforma. A 99 informou que não tolera qualquer atitude discriminatória durante a utilização do aplicativo e investe na capacitação e conscientização dos motoristas parceiros. Veja a nota na íntegra no final da reportagem.
Em nota, o Ministério Público de Minas Gerais informou que a denúncia foi registrada e que serão adotadas as medidas para apuração do caso e identificação do motorista para eventual responsabilização. Leia abaixo a nota na íntegra.
“Sobre o caso em questão, foi instaurada uma notícia de fato sob o nº 02.16.0702.0217629.2025-06, em 12/05/2025.
Nesse contexto, serão adotadas as diligências para apuração do ocorrido e identificação do motorista para a respectiva responsabilização.”
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Kenned Batista é o atual campeão brasileiro de paratletismo no lançamento de dardo e relata preconceito ao pedir carro de aplicativo em Uberlândia
Arquivo Pessoal
O que diz a 99
“A 99 lamenta o ocorrido e informa que, assim que recebeu a denúncia, uma equipe especializada foi mobilizada e está buscando contato com o passageiro para oferecer acolhimento e suporte. O motorista parceiro foi bloqueado permanentemente da plataforma.
A empresa ressalta que adota uma política de tolerância zero com qualquer atitude discriminatória durante a utilização da plataforma e investe na sensibilização dos motoristas parceiros, por meio de conscientização e capacitação, orientando que o atendimento aos passageiros seja sempre realizado com gentileza e respeito.
A 99 ressalta que não é permitido o cancelamento por qualquer motivo relacionado a capacitismo, homofobia, racismo, intolerância religiosa e/ou quaisquer formas de discriminação. O Guia da Comunidade 99 esclarece sobre direitos, deveres e comportamentos esperados na comunidade, além de fornecer dicas práticas e exemplos de situações é uma das ferramentas disponibilizadas para todos os usuários da plataforma.
Passageiros, motoristas ou motociclistas parceiros que tenham sofrido qualquer forma de discriminação devem entrar em contato com a 99 pelo próprio aplicativo e reportar o fato para que sejam adotadas medidas cabíveis. Os canais de comunicação seguem abertos aos usuários, com equipes especializadas na Central de Segurança da 99, que pode ser acessada diretamente pelo aplicativo, com atendimento 24h por dia oferecendo o suporte necessário.”
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