Moradores de Montenegro relatam incerteza com economia e empregos após caso de gripe aviária

CARLOS VILLELA
MONTENEGRO, RS (FOLHAPRESS)

Os moradores de Montenegro, localizada a cerca de 60 km de Porto Alegre, estão preocupados com o que vai mudar na rotina do local após o anúncio de que uma granja da cidade foi a primeira do Brasil a confirmar o registro de gripe aviária. Incertezas sobre os impactos econômicos e medo de demissões estão entre os temores.

“É perigoso para a nossa economia, ruim para as vendas lá fora”, disse o eletricista Ely Balbé, que soube do caso ainda pela manhã. “Vamos torcer que seja localizado e que isso se controle, porque eu soube que é complicado.”

Com população de 64,3 mil habitantes, segundo o Censo Demográfico de 2022, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Montenegro está localizada no vale do Caí, uma das regiões mais afetadas pelas fortes enchentes que devastaram parte do Rio Grande do Sul há um ano.

A Secretaria de Agricultura do Rio Grande do Sul não divulgou o nome da granja onde foi confirmado o caso da doença. O local, que era voltado para a produção de ovos férteis (ovos para obter pintinhos), tinha cerca de 17 mil aves.

Segundo o governo do estado, a grande maioria morreu em virtude do vírus e foi feito o abate das aves que ainda haviam no local, como medida de segurança. A secretaria faz o monitoramento de outros estabelecimentos rurais em um raio de até 10 quilômetros da granja, com barreiras de desinfecção na área.

Após o anúncio da chegada da gripe aviária a uma granja comercial brasileira, China, União Europeia e Argentina suspenderam as compras de aves e de ovos do do Brasil.

Em 2023, Montenegro tinha 534,8 mil galináceos, o que inclui desde frangos de corte até galinhas poedeiras, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Isso equivale a cerca de oito animais para cada pessoa na cidade.

Montenegro, contudo, não figura entre os maiores rebanhos de galináceos do Rio Grande do Sul. Em 2023, os maiores plantéis gaúchos foram encontrados em Marau (5,6 milhões), Nova Bréscia (5,4 milhões) e Westfália (4,2 milhões). Montenegro ficou na 102ª posição -o estado tem 497 municípios.

No ranking do IFDM (Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal), a cidade teve o décimo melhor desempenho do estado em 2023. Divulgado neste mês, o estudo avalia o desenvolvimento socioeconômico dos municípios brasileiros, considerando variáveis de três áreas (emprego e renda, saúde e educação). Em uma escala de 0 a 1, Montenegro teve índice de 0,8366, classificado como alto pela Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro). O município ficou na 87ª posição do ranking nacional do mesmo estudo.

A contadora Denise Alencastro teme que boatos repercutam pela cidade nos próximos dias. “O falatório começa e as pessoas começam a criar coisas que não são verdadeiras.”

Segundo ela, é preciso divulgar que a doença não representa risco para humanos. “Não estou temerosa, porque sei que não é uma doença que vai ser transmitida pelo alimento. Minha preocupação é as pessoas não saberem o que está acontecendo e não comer mais”, disse.

“Montenegro tem a economia muito voltada para essa parte do frango. Tem várias granjas aqui na região, então há uma preocupação com o emprego”, disse a jornalista Maria Cristina Griebler.

Ela diz que o assunto está repercutindo em grupos de WhatsApp. “Outra preocupação é o consumo do frango, do ovo e dos derivados. É aquilo: consumo ou não consumo, compro ou não compro?”.

A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária no Brasil) recomenda que os avicultores reforcem as medidas de segurança nas granjas e destaca que a gripe não é transmitida pelo consumo de aves e de ovo.

A confirmação da doença em um dos aviários do município parecia repercutir pouco entre os moradores de Montenegro na tarde de sexta-feira.

“Eu vi um comentário mais cedo, e só”, disse o barbeiro João Martins. Segundo ele, o assunto não foi comentado no salão ao longo do dia.

Na lanchonete da estação rodoviária, ponto tradicional para pedir informações, funcionários disseram que sequer sabiam que o incidente aconteceu. A falta de conhecimento sobre o caso também foi relatada por comerciantes em duas lojas movimentadas na região central. Em um ponto de táxi, motoristas relataram não saber onde fica o aviário.

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