TULIO KRUSE
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Um total de 21.856 adolescentes e jovens adultos, com idades entre 15 e 29 anos, foi assassinado no Brasil em 2023. Em média, foram 60 homicídios de jovens por dia, ao longo de um ano.
Os dados são do Atlas da Violência, publicado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública nesta segunda-feira (12).
O estudo mostra que a violência é a principal causa de morte entre brasileiros nessa faixa etária. Um a cada três jovens (34%) mortos em 2023 foram vítimas de homicídio, segundo o Atlas.
Ao longo daquele ano, quase metade (47,8%) dos homicídios no Brasil tiveram adolescentes e jovens adultos como vítimas.
O problema persiste mesmo com a redução no número de assassinatos de jovens, que acompanhou a queda de homicídios em geral no país. Em 2017 -ano mais violento da série histórica do estudo, iniciada em 2013-, a taxa de homicídios por 100 mil pessoas dessa faixa etária era de 70,1. Em 2023, foram 45,1 homicídios a cada cem mil jovens.
Quinze estados e o Distrito Federal tiveram queda na taxa de homicídios de jovens (de 15 a 29 anos) entre 2022 e 2023 e houve uma redução de 3,2% na taxa nacional dessas mortes no mesmo período.
Outros 11 estados tiveram piora nesse índice.
“Dois estados se destacam dos demais no morticínio de jovens, o Amapá e a Bahia, com taxas de 134,5 e 113,7 homicídios por 100 mil jovens, que correspondem a mais de 12 vezes a taxa de São Paulo, a UF [unidade da federação] com menor taxa registrada de letalidade juvenil (10,2)”, diz trecho do estudo.
Mato Grosso do Sul também teve um dos piores desempenhos nesse período, com aumento de 17%.
Variação na taxa de homicídios de jovens
Variação do índice de assassinatos de pessoas com idades entre 15 e 29 anos, entre 2022 e 2023 (em %)
Amapá – 49,1
Mato Grosso do Sul – 17,1
Rio de Janeiro – 9,9
Tocantins – 8,4
Santa Catarina – 7,5
Paraíba – 5,7
Pernambuco – 5,5
Maranhão – 4
Rondônia – 1,7
Alagoas – 0,9
Mato Grosso – 0,2
Ceará – -1
Minas Gerais – -2,3
Espírito Santo – -2,5
Distrito Federal – -3,1
Brasil – -3,2
Bahia – -3,4
Rio Grande do Sul – -4,2
São Paulo – -5,6
Sergipe – -12,3
Acre – -12,7
Pará – -13,5
Paraná – -15,6
Goiás – -16
Amazonas – -19,9
Roraima – -21,4
Piauí – -21,5
Rio Grande do Norte – -24,5
Fonte: Atlas da Violência 2025, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e Fórum Brasileiro de Segurança Pública
No período de 2013 a 2023, 312.713 jovens foram assassinados no país. É mais do que toda a população do município de Taubaté, no Vale do Paraíba, o 24º mais populoso do estado de São Paulo.
As estatísticas usadas pelo Atlas da Violência, fornecidas pelo Ministério da Saúde, não fazem distinção entre os homicídios dolosos comuns e as mortes decorrentes de intervenções policiais. Essas situações são normalmente contabilizadas de forma separada pelas secretarias estaduais de segurança pública.
“A criminalidade violenta produz diversas externalidades negativas, entre as quais se destacam o menor crescimento econômico […], a redução no desenvolvimento educacional de crianças e adolescentes e a diminuição da participação no mercado de trabalho”, escrevem os pesquisadores. “No contexto dos jovens, a morte prematura significa privá-los da oportunidade de experimentar outras fases da vida.”
O Atlas da Violência tem, inclusive, um cálculo para o potencial de anos de vida perdidos para os assassinatos, com base na expectativa de vida da população. Quanto mais cedo a morte ocorrer em relação à expectativa de vida, maior é o número de anos potenciais de vida perdidos, identificados pela sigla APVP.
No Brasil, durante o período de 2013 a 2023, os mais de 312 mil homicídios de jovens “resultaram em uma perda de 14.788.282 anos potenciais de vida”, diz o estudo. É mais que o dobro do que foi perdido devido a acidentes, a segunda maior causa de mortes entre jovens no país, com 7.285.862 óbitos registrados.
VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS
Além dos adolescentes e jovens adultos, foram computados 8.600 assassinatos de crianças de 0 a 14 anos no período de 11 anos analisados no estudo. A tendência ao longo da década foi de redução das mortes na primeira infância (0 a 4 anos), mas houve um aumento entre os anos de 2022 e 2023 -de 147 para 170 casos. Na faixa etária entre 5 e 14 anos, houve redução constante das taxas de homicídio.
No entanto, o Atlas também identificou aumento nos registros de violências não letais contra crianças e adolescentes. Violência física, sexual, psicológica e casos de negligência tiveram alta a partir de 2020, segundo dados do Sinan (Sistema Nacional de Agravos de Notificação).
A maior parte desses casos de violência ocorre dentro de casa. As ocorrências em via pública, segundo caso mais comum, tornam-se mais frequentes principalmente a partir dos 15 anos.
“Parte do crescimento ao longo dos 11 anos analisados diz respeito à expansão do próprio Sinan, cuja cobertura ampliou consideravelmente o número de municípios e estabelecimentos, bem como à melhoria do registro realizado pelos profissionais de saúde”, diz o Atlas. “No entanto, chama atenção a tendência verificada a partir de 2020, ano que tem início a pandemia de Covid-19.”