Criado pela Folha, Mosaico automatiza produção de vídeos curtos, impulsionando jornalismo próprio em plataformas digitais

Jornalista da Folha trabalhando com a ferramenta Mosaico, que produz vídeos a partir de matérias publicadas pelo site do jornal com recursos de IA (Foto: Divulgação)

Graças a seu formato marcado pela linguagem direta, imagens vistosas e recursos de áudio igualmente chamativos, os vídeos curtos têm capturado crescentemente a atenção de grande parte dos usuários digitais.

Segundo os dados mais recentes consolidados pela empresa Kantar Ibope Media e citados pelo site Canaltech, ao longo de 2023 a audiência do TikTok no Brasil superou a de grandes serviços de streaming (vídeos transmitidos pela internet), como Globoplay, Prime Video e HBO Max, só perdendo para a Netflix e o YouTube.

Como era de se esperar, os vídeos curtos também se tornaram um chamariz para a produção de conteúdo desinformativo, como mentiras e informações fora de contexto e até mesmo discurso de ódio.

Desenvolvido no final de 2024 pela editoria de Inteligência Artificial da Folha de S. Paulo, o projeto Mosaico, que automatiza a produção de vídeos curtos graças a recursos de IA, foi uma das cinco iniciativas apoiadas pela primeira edição do Codesinfo – Fundo de Inovação Contra a Desinformação.

Realizado pelo Projor, o Codesinfo tem o patrocínio da Google News Initiative para apoiar soluções tecnológicas inovadoras de código aberto no combate à desinformação.

No caso específico da Folha, o Mosaico ajudará o jornal a produzir vídeos curtos – de 40 segundos a um minuto – a partir de reportagens publicadas pelo site do jornal. Publicadas originalmente nas reportagens, as fotos ganham dinamismo no formato vídeo através de recursos como zoom, cortes e a interação com a narração e legendas, num processo gerado por IA.

A propósito do combate à desinformação, o jornal planeja produzir vídeos a partir do conteúdo gerado por sua editoria de checagem de fatos, a Folha Informações.

“O Mosaico é o projeto prioritário da nossa editoria em 2025, diz Daniela Braga, editora de IA da Folha. “Com ele, o jornal poderá aumentar a produção de vídeos curtos a partir das reportagens e fotos já produzidas diariamente pela Folha, uma ‘senhora’ de 103 anos de idade com grande expertise na produção de textos e imagens que agora investe forte na geração de vídeos”.

Segundo ela, nesta fase de testes, sua editoria tem testado os vídeos produzidos, calibrando ajustes necessários, como cortes, efeitos visuais e a velocidade da narração.

Uma amostra de vídeos produzidos pelo Mosaico inclui os seguintes temas:

  • Uma checagem do jornal desmentindo um velho boato sobre a jornalista Miriam Leitão.
  • Um artigo do jornal esclarecendo que o fechamento da fronteira Brasil-Venezuela ocorreu em função de um exercício militar.
  • Um reportagem explicando como funciona o novo trem que liga a estação da CPTM e o aeroporto de Guarulhos.
  • Um resumo de uma coluna sobre os capítulos finais da novela Beleza Fatal
  • Uma nota sobre um surto de algas vermelhas em praias argentinas.

Mosaico na nuvem

Logo depois de seu pré-lançamento, em vez de acelerar a produção de vídeos a partir do Mosaico, a Folha decidiu investir na infraestrutura do projeto, levando-o à chamada computação em nuvem, ou seja, ativando o armazenamento de seu software, além dos arquivos a serem gerados pelo programa num serviço de computação operado remotamente.

Dessa forma, através da migração do Mosaico para o ambiente de nuvem, será possível ampliar a produção de vídeos pela redação de forma segura e sustentável.

“Mesmo sabendo que isso iria desacelerar a adoção do Mosaico, decidimos levar o projeto à nuvem para fortalecê-lo,” diz Leonardo Diegues, desenvolvedor e cientista de dados do Deltafolha, núcleo de jornalismo de dados do jornal. Diegues é também o principal desenvolvedor da Folha envolvido na construção e aprimoramento do Mosaico. Ele e Daniela Braga estimam que a implementação do Mosaico no ambiente da nuvem esteja concluída até o final de abril.

O passo seguinte será treinar os cerca de 300 jornalistas da Folha, capacitando-os a produzir os vídeos com o programa na sede do jornal em São Paulo e nas sucursais do Rio de Janeiro e Brasília.

“No caso, por exemplo, de uma pauta gastronômica, produzir com o Mosaico significa pautar o fotógrafo a pensar no vídeo desde o início”, diz Braga. “Na prática, isso quer dizer fazer mais fotos do chef e ter também mais opções de imagens do cardápio.”

Diariamente, a Folha produz cerca de mil fotos. O jornal também tem acesso a imagens produzidas por agências como AFP, AP e Reuters, e sobre parte delas também tem licença de reprodução no formato de vídeo.

Biblioteca Python

A ideia é inserir os vídeos criados com o Mosaico nas próprias reportagens da Folha, além de também publicá-los no canal do jornal no YouTube, onde conta com um milhão de inscritos.

A equipe da TV Câmara já entrou em contato com a Folha demonstrando interesse em adotar a ferramenta. “Por se tratar de um projeto de código aberto, é importante que a comunidade de desenvolvedores conheça o Mosaico e também contribua com ele”, diz Diegues.

No jargão dos desenvolvedores, o Mosaico é uma biblioteca Python com uma interface de alto nível com as seguintes funcionalidades: 1. Geração de scripts baseada em IA; 2. Gerenciamento de ativos de mídia; 3. Sistema de posicionamento preciso; 4. Motor de efeitos e animações; 5. Síntese de texto para fala; e 6. Integração com frameworks populares de aprendizado de máquina.

Como acessar as ferramentas apoiadas pelo Codesinfo

As soluções geradas para o Codesinfo podem ser adotadas gratuitamente. Para ter acesso, podendo replicá-las e/ou adaptá-las, os desenvolvedores trabalham com o site GitHub, uma plataforma que permite armazenar, compartilhar e colaborar em projetos de desenvolvimento de software.

Aqui, os links para os arquivos das cinco ferramentas no GitHub:

Capí (Ambiental Media), Check-up (Aos Fatos), Quem Disse? (Folha do Mate) Mosaico (Folha de S. Paulo) e Xarta (Núcleo Jornalismo).

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