Nem amarela, nem vermelha: a CBF e o plano secreto para unificar o torcedor brasileiro

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A repercussão foi tamanha que a CBF precisou vir a público desmentir: as imagens vazadas dos supostos novos uniformes da Seleção para a Copa de 2026 “não são oficiais”. No comunicado, a entidade reafirma que nem ela nem a Nike divulgaram qualquer detalhe da nova coleção, que ainda será definida. Foi um recuo — sintoma claro de que a ideia, real ou não, pegou fogo.

E não foi por acaso.

Ednaldo Rodrigues salvou o mandato na presidência da CBF graças a uma ousadia jurídica: a Ação Direta de Inconstitucionalidade movida pelo PCdoB no STF. E venceu. Gilmar Mendes lhe devolveu o cargo com uma canetada, o baiano foi reconduzido, venceu a eleição e agora tem cadeira cativa até o fim da década. Tudo certo no papel — menos na arquibancada.

É justamente aí que entra a história da suposta camisa vermelha da Seleção Brasileira. O simples vazamento da ideia bastou para acionar o modo de emergência do bolsonarismo: deputados indignados, pedidos de convocação à Câmara, notas de repúdio. Como se o Brasil tivesse trocado a bola por um manifesto. A pergunta que fica é: o que motivou Ednaldo a permitir que essa ideia fosse ao menos cogitada?

A primeira hipótese é a da gratidão. Quem segurou sua queda foi o PCdoB, partido que ousou entrar em campo contra o sistema jurídico que o afastara da CBF. Em sinal de reconhecimento, Ednaldo teria acenado para o vermelho — cor símbolo da legenda — como quem diz: “eu não esqueço de quem me salvou”. Mas se foi isso mesmo, o preço foi altíssimo. A camisa vermelha virou estopim de mais uma guerra cultural num país já inflamado.

Só que há uma segunda leitura, talvez mais estratégica. Ednaldo pode ter deixado a ideia vazar de propósito. Afinal, a camisa amarela virou farda política da extrema direita, a ponto de afastar muitos torcedores do símbolo da Seleção. Quem não se alinha ao bolsonarismo passou a rejeitar a amarelinha, e isso não é saudável para o futebol brasileiro — nem para a imagem da CBF.

Ao deixar circular a imagem de uma camisa vermelha, Ednaldo pode ter provocado exatamente o efeito que queria: mostrar que, assim como a direita se apropriou do amarelo, a esquerda tem todo o direito de rejeitá-lo — mas também resistirá à imposição do vermelho. Resultado? Um impasse visual, um Brasil rachado até nas cores da camisa.

E é aí que entra o plano C: lançar uma nova camisa, verdadeiramente neutra. Nem amarela, nem vermelha. Uma terceira via cromática. Branca, preta, seja lá qual for — desde que una o torcedor em torno da Seleção, e não de uma ideologia. Seria o recado mais potente que a CBF poderia dar ao país: “o futebol é de todos, a camisa é de todos, e aqui ninguém será obrigado a vestir o adversário.”

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