JANAINA CESAR
ROMA, ITÁLIA (UOL/FOLHAPRESS)
O último dia de velório do Papa Francisco coincide com a comemoração do Dia da Libertação na Itália. Neste 25 de abril, são comemorados os 80 anos do fim da ocupação nazista e da ditadura fascista no país.
A coincidência entre o luto pelo papa argentino e o aniversário da libertação criou uma atmosfera de sobreposição simbólica. De um lado, milhares de fiéis na Praça São Pedro para a despedida do pontífice, e do outro, manifestações e atos públicos em outras praças romanas lembrando a Resistência, que colocou fim a mais de 20 anos de ditadura fascista e à ocupação nazista no país.
De manhã, como manda a tradição, o presidente Sergio Mattarella depositou uma coroa de flores no Altare della Patria, no centro de Roma. Mas é à tarde que a cidade se transforma: mais de 50 mil pessoas são esperadas para a manifestação antifascista. Este ano, o tema principal é o combate ao revisionismo histórico e o fortalecimento da memória democrática, especialmente frente ao avanço da extrema direita no país.
“Hoje é uma jornada muito importante. Vim me despedir do meu Papa pela última vez”, disse Ilaria, moradora de Roma. “Esta coincidência entre o velório e o 25 de abril só reforça a importância do que ele sempre pregou: a paz e a união entre os povos.”
Giorgio Ceccarelli, também na Praça de São Pedro, vê um recado final na data: “as coincidências da vida são simbólicas. hoje, a Itália celebra a libertação do nazifascismo e perde um personagem como Francisco. A presença de líderes políticos de todo o mundo aqui pode ser o último apelo dele: sentem-se à mesma mesa, falem de paz.”
Entre os que se despedem do papa argentino, há quem veja um eco da resistência italiana no próprio pontificado. “Ele recusou o apartamento papal, não usava joias caras, pedia uma Igreja pobre. Isso conquistou até os mais céticos, aqueles que, como eu, estavam distantes da igreja encontraram nele, esperança”, diz Darcy, 68 anos, norte-americana que vive em Roma desde 1984.
“Meus amigos nos Estados Unidos não compreendem o que é o 25 de abril aqui. Não sabem o que foi a ocupação nazista, o que significou a resistência.”
Enquanto a multidão se despede do Papa na Praça São Pedro, do outro lado de Roma, os alto-falantes dos atos públicos ecoam discursos de liberdade, antifascismo e justiça social.
FUNERAL
Preparação para o enterro começa às 9h (4h de Brasília) e celebração final acontece no átrio da Basílica de São Pedro. A missa das Exéquias, como é chamada, será presidida pelo cardeal Giovanni Battista Re, decano do Colégio Cardinalício, às 10h. Esse é o primeiro dos nove dias de luto e orações em honra ao pontífice.
Esquema de segurança terá ao menos 4 mil agentes. Serão cerca de 2 mil Carabineri (força policial que integra as Forças Armadas italianas), além de 2 mil agentes da polícia local de Roma, segundo a imprensa local. As ruas ao redor do Vaticano serão fechadas para o tráfego de veículos.
Depois, acontecem os ritos da Última Commendatio e da Valedictio – despedidas solenes que marcam o encerramento das exéquias. Em seguida, o caixão será levado novamente para o interior da Basílica de São Pedro e, de lá para o local de sepultamento. Haverá a presença de migrantes e refugiados na Praça de São Pedro, anunciou a Mediterrânea – ONG que se encontrou diversas vezes com o papa e que recebeu a confirmação da participação da Prefeitura da Casa Pontifícia. A delegação será composta por socorristas e refugiados migrantes que foram torturados e escaparam de campos de concentração líbios.
Cortejo fúnebre em “ritmo de passeio”. Corpo será levado da Basílica de São Pedro até a Basílica de Santa Maria Maggiore “em ritmo de passeio para que as pessoas possam saudá-lo”, explicou o Vaticano.
Um grupo de pessoas pobres acolherá o corpo do papa na chegada à igreja. Transmissão ao vivo do Vaticano será interrompida na entrada da basílica, porque o enterro será um evento privado.
O túmulo do papa poderá visitado a partir da manhã de domingo. A sepultura, feita de mármore da Ligúria tem a única inscrição “Francisco” e a reprodução de sua cruz peitoral, como pedido pelo argentino em seu testamento. O túmulo foi construído no nicho da nave lateral da basílica, entre a Capela Paulina (Capela da Salus Populi Romani) e a Capela Sforza, e perto do Altar de São Francisco.