JULIA CHAIB
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS)
O Brasil participa das reuniões de primavera do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Mundial com foco nas tratativas ligadas à COP30, conferência das Nações Unidas sobre o clima, marcada para novembro, em Belém, e no Brics, bloco o qual preside.
Sem a presença do ministro Fernando Haddad (Fazenda), o país é representado pela secretária de Relações Internacionais, Tatiana Rosito. O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, também faz parte dos encontros, que começaram na segunda-feira (21), assim como o embaixador da COP30, André Corrêa do Lago.
As reuniões do FMI e do Banco Mundial também servem para o governo brasileiro tirar uma temperatura de como as nações avaliam o pacote de tarifas anunciado por Donald Trump e tentar avaliar até que ponto o governo americano segue disposto a manter sobretaxas, diz um assessor de Haddad.
Os efeitos do embate comercial travado pelo governo americano têm sido destacados nos grandes painéis e documentos econômicos do evento.
Como parte dos eventos do FMI, Rosito participou na terça-feira (22) de uma reunião com representantes do Brics. Depois, a secretária ressaltou o peso do bloco para tentar estabilizar o cenário internacional, marcado atualmente pela imprevisibilidade. A ideia, ela diz, é melhorar a coordenação entre os países.
“Desde nosso último encontro, há dois meses, a importância contínua de uma ordem internacional baseada em regras ficou ainda mais evidente. Devemos unir nossos esforços por uma agenda multilateral que leve em conta os interesses das economias emergentes”, afirmou.
Ela destacou dados que vêm sendo reforçados pelo FMI durante as reuniões desta semana: que a projeção do crescimento das economias globais diminuiu e que o cenário após as tarifas anunciadas por Donald Trump é de extrema incerteza.
“Nos anos recentes, a economia global tem mostrado resiliência ante a diversos choques. Entretanto, a recuperação em relação a estes choques vinha se mostrando desigual. A emergência unilateral de posturas protecionistas altera esse cenário”, diz.
“Organismos financeiros internacionais já estão revendo as projeções de crescimento para baixo. A incerteza resultante prejudica investimentos. Os efeitos completos para o desenvolvimento sustentável ainda precisam ser conhecidos”, avaliou.
O Brasil assumiu em janeiro a presidência rotativa do grupo. Em julho, sediará a reunião da cúpula do bloco, que reúne países da economia emergente. A reunião está marcada para 6 e 7 de julho e deve reunir líderes de nações como Rússia, Índia e África do Sul.
No caso do Brics, o Brasil propôs criar um “hub”, um centro para projetos de infraestrutura com um mecanismo de garantias. A ideia é sentir a temperatura dos países para avaliar se eles estão dispostos a investir no tema e se é possível aprovar ao menos as diretrizes do projeto até julho, quando o Brasil sedia a reunião dos Brics.
Nesta quarta (24), houve eventos ligados ao ambiente, agenda central para o governo Lula neste ano. A secretária da Fazenda participou de reunião sobre a COP30 e também sobre o TFFF (sigla para Fundo Florestas Tropicais para Sempre), ressaltando a prioridade do Brasil ao evento.
A ideia, segundo um integrante do governo, é construir as pontes, alertar sobre a importância do financiamento ao fundo e dar relevância à COP.
A agenda ambiental era central durante o governo Joe Biden. Com a chegada de Donald Trump, o tema perdeu prioridade para os Estados Unidos e, mais do que isso, tornou-se um assunto hostil para o presidente americano.
O republicano determinou a saída dos EUA do Acordo de Paris, que define metas ambientais, e revogou mais de 70 normas assinadas por seu antecessor ligadas a clima e energia verde.
Os encontros ocorrem em alto nível, entre ministros, vice-ministros da Fazenda e do Banco Central de diversos países.
A COP ocorrerá em novembro, em Belém. Nesta quarta, o presidente Lula (PT) participou de reunião com o secretário-geral da ONU, António Guterres, para mobilizar os países em torno do evento.