Traficantes no RJ cobram para empresa usar área ao redor da baía de Guanabara como lixão, diz polícia

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YURI EIRAS
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)

Agentes do Inea (Instituto Estadual do Ambiente) e policiais civis do Rio de Janeiro fazem nesta quarta-feira (9) uma operação contra suspeitos de cobrar taxas para empresas descartarem lixo de maneira irregular no Caju, bairro na zona portuária da cidade às margens da baía de Guanabara.

O caso é investigado pela DPMA (Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente). Um homem foi preso em flagrante. A operação, batizada de Expurgo, aponta que a prática está contaminando o lençol freático e levando ao desaparecimento da vegetação de mangue.

Os suspeitos são traficantes do TCP (Terceiro Comando Puro) que dominam a área. Eles são alvos de busca e apreensão, assim como os responsáveis pelas empresas.

Segundo a polícia, dez companhias têm praticado os crimes ambientais na região, e uma delas tem contrato com a prefeitura. Os nomes não foram revelados.

A investigação aponta que a facção cobra taxas para o descarte irregular em valores abaixo daqueles cobrados pelos centros de tratamento de lixo credenciados pela prefeitura.

As empresas investigadas atuam no mercado de resíduos sólidos. Elas são responsáveis por fazer a coleta do lixo nas casas de clientes e levá-lo até o local adequado para o descarte, o Centro de Tratamento de Resíduos em Seropédica, na Baixada Fluminense. As companhias, no entanto, estavam despejando o lixo no terreno do Caju.

Os materiais descartados no local são principalmente entulhos e restos de obra.

A Polícia Civil pediu à Justiça o sequestro de 17 caminhões das empresas, para compensar o dano ambiental. Ainda não houve confirmação da medida. O prejuízo para reposição da vegetação está estimado em R$ 5 milhões, segundo agentes.

A investigação apontou ainda que esses materiais estão sendo usados pelos traficantes para aterrar uma região desocupada no parque Alegria, uma das localidades do Caju. A ideia da facção, segundo a polícia e o Inea, era triplicar a área.

“As facções criminosas agem sempre para ampliar seus territórios e não se importam em cometer crimes ambientais na busca pelo aumento de sua área de influência e de seu faturamento”, afirmou por nota o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi.

A região alvo da operação nesta quarta é a mesma onde um homem foi resgatado do tribunal do tráfico por policiais civis, no Natal do ano passado. Ele havia sido sequestrado por cinco traficantes e sofria tortura quando agentes chegaram.

O bairro do Caju, banhado pela baía de Guanabara, tinha uma praia frequentada por moradores até a década de 1960, antes da expansão populacional e da chegada de empresas à região.

No século 19 a família real portuguesa possuía um casarão no bairro, usado por Dom João 6°, segundo historiadores, como ponto de parada para os banhos de mar. A Casa de Banhos, como era conhecida, segue no local.

O Inea afirma que tem realizado monitoramento de descarte irregular de lixo em áreas no entorno da baía de Guanabara. A investigação na DPMA começou após denúncia do instituto.

Outras áreas da região metropolitana, como Jardim Gramacho e Vila Urassaí, em Duque de Caxias, já foram identificadas com práticas semelhantes, segundo o Inea, e investigações estão em andamento para apurar responsáveis.

“Nos últimos meses temos intensificado as operações para acabar com os lixões irregulares no Rio de Janeiro”, afirmou via nota o secretário estadual do Ambiente e Sustentabilidade, Bernardo Rossi.

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