DF se destaca no novo consignado com R$ 9,8 mil

Por Daniel Xavier

Com 11,4 mil contratos negociados entre os dias 21 de março e 3 de abril, o Distrito Federal desponta como a unidade federativa com maior média de valor nos empréstimos do novo consignado do Crédito do Trabalhador. A modalidade, disponível por meio da Carteira de Trabalho Digital, já movimentou mais de R$ 112 milhões na capital do país, com valor médio por contrato de R$ 9.809,75 — bem acima da média nacional, que é de R$ 6.209,65.

Ao todo, mais de 532 mil trabalhadores brasileiros já contrataram o novo consignado, totalizando R$ 3,3 bilhões em crédito liberado. O valor médio das parcelas ficou em R$ 350,46, com prazo médio de 18 meses. No DF, o prazo médio é de 20 meses, com parcelas em torno de R$ 489,45.

O novo consignado permite que instituições financeiras ofereçam taxas de juros mais competitivas, gerando um ambiente de maior concorrência. A Medida Provisória que instituiu o Crédito do Trabalhador foi assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 12 de março, com a proposta de ampliar o acesso ao crédito, promover inclusão produtiva e evitar o superendividamento da população mais vulnerável. Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, a iniciativa tem potencial para se consolidar como uma nova cultura de crédito no país. “O Crédito do Trabalhador traz uma nova cultura de crédito e a cada dia tem se consolidado com sucesso, com novos bancos entrando, oferecendo taxas mais baixas e reduzindo dívidas dos trabalhadores”, afirmou o ministro Luiz Marinho.

Especialistas avaliam o cenário

Para o professor de Mercado Financeiro da Universidade de Brasília (UnB) e conselheiro do Conselho Regional de Economia da 11ª Região do Distrito Federal (Corecon-DF), César Bergo, o protagonismo do Distrito Federal nos valores médios liberados não causa surpresa. Ele aponta que o poder aquisitivo da população local é determinante para esse cenário. “Brasília tem a maior renda média do trabalhador no país, acima dos R$ 3 mil, o que justifica o valor médio de empréstimo mais alto em relação às demais capitais e regiões brasileiras”, explica Bergo.

O especialista destaca que a tendência é de crescimento nas contratações com a ampliação da oferta nos aplicativos bancários a partir do dia 25 de abril. Atualmente, o acesso ao crédito ainda está restrito à Carteira de Trabalho Digital, o que pode limitar parte da demanda. “Acreditamos que, com a nova facilidade, poderá haver um aumento na contratação”, projeta. Bergo também observa que muitos trabalhadores utilizam o consignado como alternativa para substituir dívidas com juros mais altos, como cartões de crédito ou empréstimos pessoais. “Eles aproveitam as taxas mais atrativas do consignado, o que pode representar um alívio financeiro quando feito com planejamento”, pontua.

O advogado e especialista em Direito Previdenciário Ubiratãn Dias da Silva também analisou os efeitos da nova linha de crédito, destacando que o padrão de renda do DF está diretamente ligado à expressiva média dos empréstimos. “A renda média dos trabalhadores do DF é superior à média nacional, o que permite acesso a créditos mais altos com maior facilidade. No entanto, isso também pode induzir à falsa sensação de segurança financeira”, pontua.

Para ele, embora a modalidade possa oferecer vantagens ao trabalhador endividado, como a substituição de dívidas caras, é preciso cuidado. “O crédito consignado, apesar dos juros mais baixos, ainda é uma dívida. E o uso sem planejamento pode comprometer a renda futura”, declara. Ubiratãn alerta para o risco do superendividamento, sobretudo pela facilidade de contratação digital: “A contratação digital agiliza o processo, mas também pode impulsionar decisões precipitadas. Por isso, é fundamental avaliar com calma se o empréstimo é realmente necessário”, alerta.

Expansão do crédito e cautela necessária

Com a nova medida, trabalhadores da iniciativa privada com carteira assinada — que antes não tinham acesso à modalidade — agora podem contratar empréstimos consignados com base em seu vínculo empregatício. Além disso, é possível utilizar até 10% do saldo do FGTS ou 100% da multa rescisória como garantia, embora o uso dessas garantias não seja obrigatório. O valor das parcelas, no entanto, não pode ultrapassar 35% da renda mensal do trabalhador. A partir de 25 de abril, será possível também transferir empréstimos com juros mais altos para instituições que ofereçam taxas mais baixas. E, caso o trabalhador deseje cancelar o empréstimo contratado, terá até sete dias corridos, a partir do recebimento do crédito, para devolução integral do valor.

Apesar dos avanços, o professor César Bergo alerta que as taxas de juros continuam elevadas e que muitos consumidores devem esperar por condições ainda mais vantajosas. Para ele, a educação financeira é fundamental nesse momento.“O ideal é usar o crédito como ferramenta de alavancagem patrimonial, e não como porta de entrada para o endividamento. O incentivo à educação financeira promovido pelo governo é um passo importante nesse processo”, conclui.

A região Sudeste lidera em volume de contratos do Crédito do Trabalhador, com 234.863 empréstimos fechados. Em seguida aparecem o Nordeste (111.081), Sul (88.174), Centro-Oeste (49.303) e Norte (49.170). Entre os estados, São Paulo concentra o maior número de contratações, com 131.306 trabalhadores beneficiados e R$ 848,7 milhões liberados. Já o Rio de Janeiro registra 51.124 contratações. Em termos de média por empréstimo, o DF lidera, seguido por Mato Grosso, com média de R$ 7.477,51 e um total de R$ 74,2 milhões concedidos.

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