Projeto Empoderar capacita mulheres em vulnerabilidade social e incentiva o empreendedorismo feminino

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Por Camila Coimbra
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Um grupo de mulheres se reúne diariamente no Complexo Cultural de Samambaia, compartilhando um objetivo em comum: a busca por uma vida melhor por meio da costura. Elas fazem parte do projeto “Empoderadas”, que oferece cursos gratuitos de corte e costura/alfaiataria e bordado, destinados a mulheres em situação de vulnerabilidade social. 

O “Empoderadas” é um desdobramento do projeto “Flores do Cerrado, criado em 2022 com o objetivo de oferecer oportunidades de capacitação e geração de renda para mulheres, sem que precisem se afastar de suas famílias. Enquanto o Flores do Cerrado proporciona cursos básicos em áreas como corte e costura, bordado e artesanato, o Empoderadas dá um passo além, qualificando as participantes em alta costura, com foco em técnicas avançadas como alfaiataria.

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Leudenir 

As aulas começaram no dia 13 de janeiro e vão até 07 de fevereiro, atendendo cerca de 15 aprendizes, com aulas semanais de segunda a sexta-feira, que acontecem das 14h às 18h. A ação tem como foco principal capacitar as participantes para que possam gerar renda própria e alcançar a independência financeira, um passo fundamental para sair de situações de vulnerabilidade. As aulas são conduzidas pelas estilistas e professoras Mel Colaço e Silva Ju, que orientam as alunas desde o básico do manuseio das máquinas até técnicas mais avançadas de modelagem e criação de roupas. 

Além da capacitação, a iniciativa oferece um local de acolhimento, onde essas mulheres se integram em um ambiente seguro e criativo, para conversar sobre suas metas, vulnerabilidades e sonhos. Para Leudenir Ferreira, de 65 anos, é moradora da Estrutural e para ela participar do projeto mudou sua vida. Leudenir iniciou no projeto em um momento difícil de sua vida, enfrentando os primeiros sinais de depressão. “Foi o Projeto Flores que me tirou da depressão, por isso sou muito grata. Hoje me sinto bem e mais ativa. Antes, eu estava muito presa em casa. Eu já sabia costurar, mas não tinha a habilidade que tenho hoje, e isso eu devo ao projeto e à professora Mel.”

Mais do que ensinar técnicas de corte e costura, o projeto proporciona acolhimento e apoio emocional. Segundo Leudenir, o impacto vai além do aprendizado técnico. “Não é só um curso de costura, é um curso de habilidades. A gente conversa, se ajuda, e isso tira muitas mulheres da depressão. A Ana Paula, nossa coordenadora, é uma espécie de psicóloga para mim. Quando estou triste, ela vem conversar comigo. É uma mão ajudando a outra”, explica.

Leudenir relembra com orgulho o momento em que confeccionou sua primeira peça de roupa. “Eu costuro a vida toda, mas nunca tinha feito uma peça de roupa. Minha primeira peça foi feita na minha máquina”.  

Miriam Bezerra, de 58 anos, moradora de Ceilândia, encontrou no projeto social uma oportunidade de transformar sua vida. Ela foi aluna do projeto Flores do Cerrados e Elas por Elas e hoje, ela retorna como monitora do Projeto Empoderadas, compartilhando o conhecimento adquirido e ajudando outras mulheres a superarem desafios. “Participei do antigo projeto ‘Elas por Elas’, onde confeccionamos kits maternidade para mães em situação de vulnerabilidade. Fazíamos bolsas, mantas e macacões, tudo em algodão cru e flanela. O processo envolvia aulas de corte, costura e customização, com o acompanhamento de professoras como Juliana”, relembra Miriam.

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Miriam

Após concluir o curso, Miriam foi convidada pelo coordenador do projeto, Fábio, para atuar como auxiliar de classe em outra iniciativa, o Flores do Cerrado, onde continuou aprimorando suas habilidades. Atualmente, Miriam integra o Projeto Empoderadas, novamente como monitora. Com quatro semanas de duração, o curso se divide em duas etapas: aulas de corte e costura, seguidas por customização. Para ela, o trabalho vai além do ensino técnico. “Gosto desse contato com mulheres de diferentes idades. Aprendemos muito umas com as outras. O projeto também me ajudou em um momento difícil, quando perdi minha mãe e meu emprego. Foi através das redes sociais que conheci o ‘Elas por Elas’ e me senti acolhida.”

Fábio Barrera, idealizador do projeto Empoderadas, compartilhou como a iniciativa surgiu e os resultados alcançados ao longo dos anos. Tudo começou com o projeto Flor do Cerrado, lançado em 2022, no final da pandemia, em resposta ao aumento alarmante de casos de violência doméstica e feminicídio. “Percebemos que muitas mulheres permaneciam em situações de violência, muitas vezes por dependência emocional e financeira. Com famílias numerosas, elas não tinham para onde ir com seus filhos e acabavam tolerando o abuso”, relatou.

O Flor do Cerrado foi criado para oferecer uma alternativa a essas mulheres, permitindo que elas se capacitassem e empreendessem, garantindo o sustento de suas famílias. “Isso possibilitou que elas cuidassem de suas famílias enquanto produziam peças para venda, participando de feiras e outras oportunidades de geração de renda”, explicou Fábio.

Além disso, para evitar a evasão dos cursos, o projeto oferece recreação e cuidados para os filhos das participantes, permitindo que as mães se capacitem enquanto seus filhos estão assistidos. “Isso reduziu consideravelmente a evasão, pois elas se sentem seguras sabendo que os filhos estão próximos e bem cuidados”, destacou.

A iniciativa conta com o apoio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal e já transformou a vida de mais de 600 mulheres, gerando impacto direto em suas famílias e comunidades.

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