Entenda em 5 pontos a crise no IBGE marcada pela entrega de cargos de diretores

LEONARDO VIECELI
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)

A crise interna que atinge o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) ganhou novos desdobramentos no início deste ano com a entrega de cargos de dois diretores da DPE (Diretoria de Pesquisas). Fontes que acompanham a rotina da instituição esperam novas mudanças em breve.

A seguir, entenda em cinco pontos a turbulência no principal órgão de estatísticas do país, presidido desde agosto de 2023 pelo economista Marcio Pochmann, uma escolha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

1. ENTREGA DE CARGOS

No dia 6 de janeiro, a presidência do IBGE anunciou em nota que Elizabeth Hypolito deixará o cargo de diretora na DPE. Ela será substituída pelo técnico Gustavo Junger da Silva, que também trabalha no instituto.

No mesmo comunicado, a presidência confirmou que João Hallak Neto deixará o cargo de diretor-adjunto na DPE. Ele será substituído pelo servidor Vladimir Gonçalves Miranda.

A nota divulgada pelo IBGE não cita os motivos das trocas, mas a saída de Elizabeth e João partiu de decisão dos próprios técnicos. Os dois não se manifestaram publicamente sobre o assunto.

Segundo a Assibge, entidade sindical que representa os servidores do instituto, o “desgaste” com “decisões unilaterais” da gestão Pochmann foi o principal fator apontado para a entrega dos cargos.

A afirmação consta em uma nota publicada pelo núcleo da Assibge da avenida República do Chile, no centro do Rio de Janeiro, onde atuam pesquisadores da DPE.

2. EXPECTATIVA DE NOVAS MUDANÇAS

Quem acompanha o dia a dia do instituto também prevê mudanças em breve na DGC (Diretoria de Geociências). Esse setor tem Ivone Lopes Batista como diretora e Patrícia Costa como diretora-adjunta.

Elas também já teriam pedido exoneração, mas as saídas não teriam sido confirmadas até o momento por indefinição sobre os nomes substitutos, conforme fontes a par do assunto. A DGC e a DPE são vistas como as duas principais diretorias do IBGE.

À Folha a assessoria de comunicação do instituto afirmou que a presidência vai emitir uma nova nota sobre a troca de diretores. O órgão não deu detalhes sobre o prazo para o comunicado.

Em setembro do ano passado, quando houve a explosão da crise no IBGE, a gestão Pochmann disse “refutar com firmeza as infundadas acusações de comportamento autoritário”.

3. CRIAÇÃO DE FUNDAÇÃO

Uma questão central de discordância entre a presidência e o corpo técnico é a criação de uma fundação pública de direito privado, a IBGE+.

O estatuto do novo órgão abre possibilidade para a realização de trabalhos para organizações públicas ou privadas. A IBGE+ chegou a ser apelidada por críticos de “IBGE paralelo”.

A Assibge diz que a fundação foi desenhada de forma sigilosa, sem consulta aos servidores. Assim, a medida pegou o corpo técnico de surpresa, de acordo com a entidade.

“A criação de uma fundação de direito privado para gerir a ‘inovação tecnológica’ dentro do órgão, feita sem consulta aos quadros técnicos, à comunidade científica e à sociedade, abre um flanco perigoso e sem precedentes para a interferência de interesses privados no sistema geoestatístico nacional”, afirmou a Assibge em carta divulgada na segunda (13).

Procurada pela reportagem, a presidência do IBGE não comentou o texto do sindicato. Em entrevista em novembro, Pochmann disse que as críticas eram “naturais” porque a nova fundação seria um “instrumento inovador”.

“Toda inovação tem, certamente, questões a serem melhor identificadas”, afirmou o economista à época.

4. MUDANÇAS NO LOCAL DE TRABALHO

Outra medida que causou atrito foi o plano de mudança dos servidores que atuam no prédio alugado pelo IBGE na avenida República do Chile, no centro do Rio, para um imóvel do Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados) no Horto, na zona sul.

O novo endereço é considerado de difícil acesso via transporte público. O prédio do centro abriga a DPE, a DGC e a Diretoria de Tecnologia da Informação.

Pochmann afirmou em novembro que a ida para o Serpro seria temporária. A ideia, segundo ele, era economizar com aluguel e, mais tarde, levar os funcionários para um endereço próprio do IBGE, a ser reformado também no Rio.

Em setembro, a presidência do instituto citou gastos anuais superiores a R$ 15 milhões nas instalações da avenida República do Chile.

“Não é razoável, frente a um contexto de necessidade de economia e melhor uso de recursos públicos, despender milhões de reais anualmente no aluguel de apenas um edifício, localizado na Av. Chile, com andares inteiros vazios ou subutilizados, tendo em vista que este abriga basicamente três diretorias cujos servidores se encontram em grande parte em trabalho remoto integral”, disse à época.

A presidência do IBGE também passou a defender o fim do teletrabalho integral.

5. PROTESTOS

Os atritos com a gestão Pochmann levaram o sindicato dos trabalhadores do instituto a organizar protestos na reta final do ano passado.

Os atos, realizados em frente a instalações do órgão, ficaram marcados por discursos contrários a medidas como a criação da IBGE+.

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