Centro e direita avançam no RS em meio a dúvidas sobre futuro de Eduardo Leite

CARLOS VILLELA
PORTO ALEGRE , RS (FOLHAPRESS)

O resultado das eleições de outubro aponta um cenário favorável para partidos do centro à direita no Rio Grande do Sul para o pleito de 2026. Os três partidos com mais vitórias estão na base do governador Eduardo Leite (PSDB), mas disputas por protagonismo podem prejudicar seu plano de sucessão no Palácio Piratini.

Além disso, a polarização entre o PT e o bolsonarismo pode abortar o plano tucano de lançar o governador gaúcho como candidato de terceira via à Presidência da República.

O PP foi o partido com mais prefeituras conquistadas, vencendo em 164 dos 497 municípios gaúchos, seguido pelo MDB, com 126. O PDT ficou em terceiro, com 50 prefeituras, e o PL em quarto, com 37.

Já o PSDB, que cresceu no estado, ocupou o quinto lugar, com 35 prefeituras, incluindo vitórias importantes de virada em Caxias do Sul e Santa Maria. O presidente nacional do partido, Marconi Perillo, reforçou que Leite é o candidato natural à Presidência em 2026. Entretanto a legenda enfrenta uma sequência de resultados nacionais fracos, o que a obriga a debater seu futuro e eventual fusão.

Leite e outras lideranças tucanas já reconheceram que o PSDB pode novamente não lançar candidatura própria ao Planalto, caso não haja viabilidade para uma alternativa centrista.

Entre as opções para o governador está uma candidatura a uma das duas vagas ao Senado, especialmente com a aposentadoria anunciada de Paulo Paim (PT). O senador Luiz Carlos Heinze (PP), diagnosticado com Parkinson, ainda não definiu se buscará a reeleição.

Outra alternativa discutida é não concorrer a outros cargos. Nesse caso, ele precisará decidir até março de 2026 se renuncia para passar o cargo ao vice Gabriel Souza (MDB), seu preferido como sucessor.

Interessado em manter o partido no centro, Souza é um dos principais articuladores do governo Leite e coordenou o comitê de crise durante as enchentes de maio.

Pode pesar, no entanto, a divisão do MDB gaúcho. O vice-governador enfrenta resistência de setores conservadores do partido e desafetos da disputa interna tensa em 2022 que resultou no apoio a Leite.

Um possível nome alternativo no MDB é o do prefeito reeleito de Porto Alegre, Sebastião Melo, que liderou uma aliança do centro à direita radical, superou desgastes após as cheias na capital em maio e derrotou a deputada federal Maria do Rosário (PT) por 62% a 38% no segundo turno.

Apesar disso, Melo sinalizou que pretende cumprir o mandato na prefeitura até o fim. Uma indicação de permanência foi a escolha de uma vice novata na política, a tenente-coronel Betina Worm (PL), que deixou a ativa do Exército para concorrer.

Ela é afilhada política do deputado federal Luciano Zucco, principal interlocutor político do ex-presidente

Jair Bolsonaro (PL) no RS. No fim de novembro, Zucco divulgou um vídeo junto ao ex-presidente e afirmou que a decisão sobre seu futuro político em 2026 caberia a ele. “O senhor é quem manda”, disse.

Se Bolsonaro indicá-lo para tentar o Senado, o PL pode optar por lançar novamente ao governo o ex-ministro Onyx Lorenzoni, ainda desgastado após a derrota para Leite de virada em 2022, mas interessado em tentar novamente em 2026.

Se Zucco concorrer ao Executivo, o candidato ao Senado pode ser o deputado federal Giovani Cherini, que preside o PL no estado e teve o nome lançado ao cargo no ano passado pelo presidente nacional da sigla, Valdemar Costa Neto.

A definição do PL, porém, vai depender das alianças costuradas com outras siglas de direita, principalmente o PP, que consolidou sua força no interior rural e busca retomar o governo, que não ocupa desde os anos 1980, quando ainda se chamava PDS.

O presidente estadual, deputado federal Covatti Filho, disse em novembro a prefeitos e vereadores eleitos que o partido está preparado para lançar um candidato próprio. Como o PP integra a base de Leite, um apoio a Souza também não está descartado.

Um acordo envolveria o Republicanos, partido do senador Hamilton Mourão que fez 16 prefeituras, e o União Brasil, que conquistou 21. O PSD cresceu de 5 para 11 cidades, mas não conseguiu a mesma projeção nacional que colocou o partido como líder no número de prefeituras pelo país.

No caso do PT, a derrota em Porto Alegre expôs as dificuldades do partido, que já dominou a política na capital gaúcha. Ainda assim, apesar da queda no número de prefeituras, de 23 para 19, os petistas tiveram crescimento em população governada.

A conquista eleitoral das quatro maiores cidades do sul gaúcho –Pelotas, Rio Grande, Bagé e São Lourenço do Sul– fortalece o domínio num conjunto de municípios onde Lula venceu em 2022.

A prioridade do PT será manter a vaga no Senado que hoje é de Paulo Paim. Encerrando o terceiro mandato, ele é um dos poucos nomes da esquerda gaúcha que tem votos em diferentes espectros políticos.

Um dos nomes para a missão seria o de Paulo Pimenta, ministro da Secom (Secretaria de Comunicação Social) e deputado federal licenciado.

Pimenta ganhou visibilidade política como ministro da secretaria extraordinária de apoio à reconstrução, coordenando as ações federais no estado após a tragédia das chuvas. Por outro lado, ele está sob ameaça de demissão após ter sido alvo de crítica pública de Lula por supostos problemas na comunicação do governo.

Uma candidatura de Pimenta para o governo chegou a ser aventada, mas o partido tende a lançar novamente o nome de Edegar Pretto, atual presidente da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).

O desgaste enfrentado neste ano após a anulação de um leilão de compra de arroz importado devido a suspeita de irregularidades pode prejudicá-lo.

O PT quer ampliar as conversas com partidos de centro para recuperar espaço, mas a má votação da esquerda no estado deve dificultar acordos.

Uma aliança com o PDT, que ainda não definiu planos para 2026, é improvável. Em Porto Alegre, Leite apoiou à prefeitura a ex-deputada pedetista Juliana Brizola, que ficou em terceiro lugar. A expectativa é que o apoio seja retribuído daqui dois anos.

Raio-X | Rio Grande do Sul

População estimada (2024): 11.229.915 Eleitores (2024): 8.682.742 Área territorial: 281,7 mil km² PIB per capita (2021): R$ 50,7 mil Orçamento estadual (2024): R$ 83,8 bilhões Orçamento para investimentos (2024): R$ 1,981 bilhão Governador
Eduardo Leite (PSDB)

Senadores
Luis Carlos Heinze (PP) – 2019-2027
Paulo Paim (PT) – 2019-2027
Hamilton Mourão (Republicanos) – 2023-2031
Número de prefeituras por partidos eleitos em 2024
PP: 164 MDB: 126 PDT: 50 PL: 37 PSDB: 35
Votação por partido para prefeito em 2024 (1º turno)
PP: 842.211 MDB: 517.048 PSDB: 344.721 PL: 325.630 PDT: 223.873

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