Vereadora que chamou homicida e vítimas de ‘doentes’ cria projeto em homenagem à empresária

Sirana Bosonkian (PDT) propôs um projeto de lei para a criação da “Semana Brenda Bulhões”, em homenagem à empresária morta a tiros. A parlamentar fez recentemente um discurso polêmico na Câmara de Guarujá (SP) e perguntou: quem é pior? Quem mata ou quem não denuncia. Vereadora chama agressor e vítima de feminicídio de doentes em sessão: ‘Quem é pior?’
A vereadora Sirana Bosonkian (PDT), que chamou de “doentes” vítimas de feminicídio e violência doméstica, assim como os agressores, propôs um projeto de lei para a criação de uma semana em homenagem à empresária Brenda Bulhões, morta a tiros por um homem em Guarujá, no litoral de São Paulo. Após a repercussão do discurso na Câmara Municipal, a parlamentar reconheceu que algumas falas foram mal colocadas.
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Os comentários que geraram polêmica foram feitos durante a 38ª sessão ordinária de 3 de dezembro. Na ocasião, Sirana mencionou duas mortes: da empresária Brenda Bulhões, assassinada a tiros em frente ao próprio salão de beleza, e de uma jovem de 25 anos que caiu do 2° andar de um prédio.
“Vamos falar o seguinte: quem que é o pior? Quem que é o mais doente? Ele que bate ou ela que aceita a agressão e não faz nada? Quem seria o pior, ela que não sai de casa e não denuncia?”, argumentou Sirana durante a sessão.
‘Semana Brenda Bulhões’
Vereadora Sirana Bosonkian (à esq.) que propôs a “Semana Brenda Bulhões”, vítima de feminicídio (à dir.)
Redes Sociais e Arquivo Pessoal
Durante a 39ª sessão ordinária de 10 de dezembro, a parlamentar disse ao presidente da Câmara que tinha um projeto de lei sobre o crime de feminicídio. “É um problema grave, que precisa de esforços constantes para ser combatido”, comentou ela.
“O período escolhido [para a semana Brenda Bulhões], começando no dia 25 de novembro, tem a ver com o Dia Internacional da Não Violência Contra a Mulher, ajudando a ampliar as ações de conscientização”, afirmou Sirana.
De acordo com ela, a semana proposta não tem o objetivo de apenas homenagear a memória da vítima, mas também mobilizar a sociedade para prevenção da violência contra a mulher. “Oferecendo informação, apoio, sensibilização sobre o assunto”, complementou ela.
Confira o que consta no Projeto de Lei n° 122/2024 apresentado pela vereadora:
Art. 1° – Fica instituída, no âmbito do município de Guarujá, a “Semana Brenda Bulhões de Combate ao Feminicídio”, a ser realizada anualmente a partir do dia 25 de novembro, em memória de Brenda Bulhões, vítima de feminicídio.
Art. 2° – A Semana Brenda Bulhões terá como objetivo principal a conscientização, prevenção e enfrentamento à violência contra a mulher, por meio de atividades de caráter educativo, informativo:
I – Palestras ministradas por advogados, abordando os direitos das mulheres e a Lei Maria da Penha (Lei Federal n° 11.340/2006);
II – Oficinas e workshops que promovam o empoderamento feminino e a superação da violência;
III – Rodas de conversa com mulheres, para compartilhar experiência e fortalecer redes de apoio, como exemplo: nos centros comunitários (CAECS);
IV – Parcerias com órgãos públicos, organizações da sociedade civil, e entidades privadas para a realização das atividades.
Art. 3° – A Secretaria de Direitos Humanos e a Cidadania será a responsável pela coordenação e execução das atividades previstas nesta Lei, podendo contar com o apoio de outras Secretarias Municipais, como exemplo, a Secretaria de Educação, Conselhos, e entidades relacionadas ao tema.
Art. 4° – As despesas decorrentes da execução desta Lei correrão por conta das dotações orçamentárias próprias, suplementadas se necessário.
Art. 5° – Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
O g1 entrou em contato com a Câmara Municipal e com a vereadora, em busca de mais informações sobre a previsão de votação do projeto e também o pedido de um posicionamento da parlamentar, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Vereadora Sirana Bosonkian (PDT) apresentou projeto de lei para criação de semana em homenagem à vítima de feminicídio
Reprodução
Discurso polêmico
A parlamentar iniciou o discurso falando sobre a mulher de 25 anos que morreu após cair do 2° andar de um prédio no bairro Vila Edna. Sirana citou que o companheiro da vítima deixou o imóvel antes da chegada da polícia.
“Esse relacionamento de sete anos é um relacionamento abusivo, é um relacionamento tóxico, mas o que seria pior? Ele com essa agressão toda ou ela que não foi denunciar por medo? Durante sete anos uma mulher apanhando de um covarde”, alegou Sirana.
Em outro momento, a parlamentar afirmou que as mulheres ‘irritam’ os homens porque falam muito. Ela pontuou, porém, que nada justifica tirar a vida de alguém. “Vai embora da vida da pessoa, some […]”, disse.
Pouco depois, Sirana mencionou o caso da empresária Brenda Bulhões, de 26 anos, morta a tiros em frente ao próprio salão de beleza dela. A Polícia Civil considerou o ex-companheiro dela como o principal suspeito do crime.
Sirana disse que os agressores normalizam os ataques contra as mulheres. Ainda de acordo com ela, muitas vítimas não sabem se defender, não trabalham e sentem medo. Neste momento, vereadora questionou “o pior” em relação a quem agride ou não denuncia.
“O que faz uma mulher gostar de uma coisa dessa? Pra não falar outra coisa. O que faz uma menina que trabalha, que sustenta sua filha, gostar de uma pessoa dessas e durar? Porque durou meses”, disse a parlamentar.
A vereadora aproveitou o discurso para divulgar a imagem do suspeito de matar Brenda Bulhões. “Na minha opinião, homens psicopatas não podem estar no meio de todo mundo”, declarou.
Sirana prestou solidariedade às famílias das vítimas e disse que não é possível aceitar situações do tipo. “Existe o nome de feminicídio, mas na minha opinião esse tipo de psicopata é tão covarde que não fica para enfrentar a família dela, nem os amigos, nem a justiça. Eles fogem”, pontuou.
“É um sem vergonha de um covarde. Veja bem o tipo de força que tem o braço de vocês e veja bem o tipo de força que tem o braço de uma mulher que é chata e que fala, então tem essa diferença muito grande”, finalizou Sirana.
O que diz a vereadora
Vereadora Sirana Bosonkian (PDT) chamou agressor e vítima de feminicídio de doentes em sessão
Reprodução
Em nota, Sirana Bosonkian reconheceu que algumas falas foram mal colocadas, especialmente no “calor da emoção e da revolta diante dos casos de feminicídio que abalaram” a cidade.
“Quero pedir desculpas às famílias das vítimas e a todos que se sentiram ofendidos por minhas palavras. Minha intenção nunca foi culpar as mulheres, mas sim expressar a indignação e a urgência de combater essa violência inaceitável”, disse.
A parlamentar afirmou que parte de um vídeo divulgado nas redes sociais omite trechos em que ela deixou claro o repúdio absoluto ao crime e ao criminoso, classificando-o como covarde e psicopata. “Deixei evidente que nada, absolutamente nada, justifica tirar a vida de uma mulher”, ressaltou.
Sirana alegou também que as falas reforçam a posição firme contra qualquer forma de violência, mas que foram tiradas de contexto, o que distorce a real intenção dela.
“Mais uma vez, lamento profundamente qualquer desconforto causado e reafirmo minha solidariedade às famílias de Brenda Bulhões, [nome da mulher que caiu do apartamento] e todas as mulheres vítimas de violência. Meu mandato continua sendo um espaço de luta por justiça e igualdade”, finalizou.
Sirana Bosonkian
Vereadora de Guarujá, Sirana Bosonkian (PDT)
Redes Sociais
Natural de Guarujá, Sirana é empresária e foi eleita vereadora com 1.627 votos em 2020, mas já exerceu o cargo entre 2005 e 2008. Ela é irmã do ex-vereador Francisco Bosonkian Júnior, que atuou na Câmara entre 1993 e 1996.
Sirana apresentou os projetos ‘Leve Leite’, o ‘Verde é Vida’ e a ‘Quinzena do Consumidor’ e é autora da Lei Municipal 3.241/2005, que implantou o programa ‘Cidade Limpa, Cidade Feliz’, com campanhas sobre a coleta de lixo; placas de sinalização dos coletores, instalação de lixeiras públicas e separação do lixo reciclado.
Nas eleições municipais deste ano, Sirana foi reeleita vereadora da cidade com 2.559 votos.
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