Banco Central só irá intervir no câmbio se notar alguma disfuncionalidade, afirma Galípolo

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ANA PAULA BRANCO, ALEXA SALOMÃO E JÚLIA MOURA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O diretor de Política Monetária e futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou que conversou com Roberto Campos Neto nesta sexta-feira (29) sobre uma eventual intervenção no câmbio, mas reforçou que a autoridade monetária só irá intervir se notar alguma disfuncionalidade no mercado.

“O câmbio flutuante é uma ferramenta muito importante dentro do que é a matriz da política econômica brasileira para poder absorver choques como esse que estamos assistindo. O Banco Central está sempre acompanhando para entender se existe algum tipo de disfuncionalidade, mas não mira qualquer tipo de nível de câmbio”, disse Galípolo.

Neste pregão, o dólar chegou a disparar para R$ 6,115 na máxima da sessão. Às 15h45, era cotado a R$ 6,009, alta de 0,32% ante a véspera. Segundo analistas, o movimento reflete a quebra de expectativa do mercado com o ajuste fiscal, após o anúncio de isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.

O diretor também mencionou a desvalorização do real como uma dos fatores que podem levar o Banco Central a manter um alto patamar de juros no Brasil. No início do mês, a autoridade monetária decidiu intensificar o ritmo de alta e elevou a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual, de 10,75% para 11,25% ao ano.

“Se você tem uma moeda mais desvalorizada, inclusive pela apreciação em dólares das demais moedas, você tem uma economia que está com o mercado de trabalho mais apertado, crescendo mais do que você imaginava, você vai precisar ter uma taxa de juros mais contracionista por mais tempo”, disse Galípolo.

Nesta sexta, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que a taxa de desemprego do Brasil ficou em 6,2% no trimestre terminado em outubro, o menor patamar da história da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), o que pressiona a inflação e também reforça a necessidade de alta de juros por parte do BC.

As declarações ocorreram durante evento promovido pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos), em São Paulo, com os principais dirigentes de bancos do país.

Galipolo disse que a fala do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, aos banqueiros “esclarece bastante qual é a visão dele que sobre o rumo da economia” e que o ministro “está dando passos na direção correta, que não é bala de prata”.

O anúncio do pacote fiscal da Fazenda foi recebido negativamente pelo mercado financeiro, e dólar atingiu sua máxima recorde ultrapassando os R$ 6, na quinta (28). Mesmo após falas dos presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e Arthur Lira (PP-AL), respectivamente, para apaziguar parte dos ânimos do mercado, a moeda americana segue oscilando em alta.

Para Galípolo, o pacote anunciado pelo governo federal ainda está sendo “digerido”.

AUTONOMIA DO BANCO CENTRAL

Questionado sobre a independência do Banco Central em seu mandato, Galípolo disse que a diretoria de política monetária do Banco Central tem uma composição mista, com quatro diretores do governo anterior e quatro indicados por Lula, e que as decisões são técnicas.

“Não existe um Banco Central de partido nenhum. As conversas se dão em um nível de honestidade intelectual e um desejo de acertar que na verdade a pessoa não está apresentando um argumento para tentar convencer o outro, está se apresentando um argumento porque você quer ouvir a opinião do outro e poder dirimir dúvidas, poder acessar os problemas e os desafios com a devida humildade que enfrentar a política monetária demanda”, disse o diretor.

O futuro presidente do BC também reafirmou que a definição da meta inflacionária é de responsabilidade do CMN (Conselho Monetário Nacional), do qual ele participará, ao lado de Haddad e Tebet.

“A partir disso, cabe ao comitê de política monetária estabelecer a taxa de juros num patamar restritivo, suficiente pelo tempo necessário para atingir a meta”, completou.

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