Uma banana da arte para a vida

pexels apasaric 2875814

O debate sobre a definição de arte vem à tona com alguma frequência na opinião pública e é permanente na comunidade específica da área. Um famoso caso recente é o da exposição “Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”, que foi cancelada em 2017 porque, conforme as críticas, ofendia símbolos religiosos e exibia nu para públicos de idades diferentes.

Há poucos dias, o artista italiano Maurizio Cattelan vendeu por equivalente a quase R$ 36 milhões a obra “Comedian”, formada por uma banana colada na parede com uma fita adesiva prateada.

O próprio título da arte sugere que o autor tem a intenção de provocar e utilizar humor (talvez o deboche também), mexer com os nossos entendimentos sobre o conceito de arte. O que é arte? O que não é? Quem a define?

O empresário chinês comprador da banana com a fita disse que iria comer a fruta como parte do processo mais amplo de fruição da experiência. Para ele, o “Comedian” é um fenômeno que envolve não só a arte, mas também os memes e a cultura popular, já que a obra extrapolou as discussões internas do mercado artístico.

Existem algumas interpretações sobre o que viria a ser arte. Algumas delas são: faz transcender; choca; faz refletir; promove mudanças pessoais e sociais; emancipa a consciência; eleva a alma; traz bem-estar; causa desconforto.

As artes e o acervo do Museu do Amanhã, no Rio, por exemplo, são as discussões sobre o antropoceno e o futuro da humanidade. O valor da arte conceitual não está na obra material, necessariamente. Envolve ideias e a nossa experiência com o que entendemos ser a mensagem.

Na sociedade contemporânea, a própria observação crítica das ideias que nos guiam parece ser matéria-prima para o estímulo do fazer artístico. No caso da banana, somos expostos à banalidade do consumo de certos valores.

O cara vendeu uma banana com uma fita por R$ 36 milhões. Se isso não é arte, eu não sei o que é.

Bruno Lara, jornalista

Adicionar aos favoritos o Link permanente.