Gleisi ganha força na articulação política e incomoda ministros do PT e do centrão

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CATIA SEABRA, RAPHAEL DI CUNTO E VICTORIA AZEVEDO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

Na avaliação de aliados do presidente Lula, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), ganhou força para assumir a articulação política do governo. Antes mesmo de anunciada, sua possível nomeação tem gerado incômodo entre ministros do PT e de partidos da base aliada.

Gleisi acompanhará o presidente em viagem ao Uruguai nesta sexta-feira (28). Em conversas, Lula afirmou que a opção por ela na SRI (Secretaria de Relações Institucionais) seria um reconhecimento ao seu trabalho no comando do PT, onde está desde 2017.

Ele lembrou que a deputada trabalhou para construção de palanques nas eleições presidenciais de 2018 e 2022, tendo conversado com todos os partidos que compuseram a aliança em torno de sua candidatura.

A SRI é responsável pela relação do Executivo com o Legislativo e ficará vaga com a ida de Alexandre Padilha para o Ministério da Saúde.

Seis ministros ouvidos pela Folha de S.Paulo apontam, no entanto, ressalvas ao nome de Gleisi para o posto. Lembram o papel de enfrentamento da deputada na presidência do PT, em que disputa com partidos aliados maior espaço no governo.

Integrantes do governo também alertam para o risco de fissuras na relação com o ministro Fernando Haddad, já que a presidente petista se manifestou publicamente contra a política econômica conduzida pelo titular da Fazenda.

Além disso, dizem que, ocupando uma cadeira no Palácio do Planalto, Gleisi terá acesso diário ao presidente e poderá influenciá-lo à esquerda, num momento em que o Executivo tem baixa popularidade e precisaria compor no Congresso para garantir a governabilidade.

Simpatizantes da petista, por sua vez, dizem que ela não terá como ministra o mesmo comportamento que tem à frente do PT, com um discurso voltado para a militância.

Dentro do partido, o fortalecimento de Gleisi pode representar uma ameaça aos que almejam herdar o capital político de Lula. Avalia-se que, em um cargo de visibilidade, ela poderia se credenciar para uma corrida presidencial.

Há também ministros que se opõem à ideia de um petista na SRI -independentemente do nome escolhido- por defenderem um deputado de partido de centro para a função.

A relação do governo com o Congresso nos dois primeiros anos da gestão Lula foi marcada por instabilidade e atritos, sobretudo na Câmara dos Deputados.

Nesse sentido, integrantes das cúpulas das duas Casas defendem um nome de centro para reverter esse quadro. A cúpula da Câmara trabalha para colocar no posto o líder do MDB, Isnaldo Bulhões Jr. (AL).

O ministro Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), deputado licenciado pelo Republicanos, tem confiança de Lula para o cargo. Mas aliados do petista afirmam ser difícil deslocá-lo da pasta que ocupa hoje por resistências do Republicanos, partido do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (SP).

As ressalvas ao nome de Gleisi não estão restritas à Esplanada. Integrantes do PT, deputados e senadores avaliam que não há espaço para erros no governo, sobretudo num momento de baixa popularidade da gestão.

Já a atual cúpula da Câmara prefere um nome do centrão, mas não oferece tanta resistência ao nome de Gleisi, caso Lula opte por um petista, já que ela trabalhou para viabilizar o acordo que levou à eleição de Hugo Motta (Republicanos-PB) para presidente da Casa.

Integrantes da cúpula da Casa afirmam, porém, que um nome do PT na SRI manterá o padrão de relação com o Legislativo que tem sido alvo de queixas. Nas palavras de um cardeal do centrão, essa dinâmica está “falida”.

Ele descartam também a possibilidade de que, com um petista na SRI, seja aberto espaço para um parlamentar de centro ocupar a liderança do governo na Câmara, como uma espécie de compensação.
Lideranças ouvidas pela reportagem dizem que dificilmente um partido do centro indicará um representante para esse posto.

Segundo relatos, Lula lembra o bom relacionamento com Motta ao mencionar o nome de Gleisi. No sábado (22), ao discursar no aniversário do partido, o presidente a elogiou. Disse que Gleisi é chamada de estreita politicamente, mas que isso seria um equívoco.

Em 2022, após ser eleito presidente, o petista fez o mesmo discurso durante jantar na residência oficial do presidente do Senado. Ele perguntou qual dos senadores presentes nunca tinha conversado com ela, em uma tentativa de mostrar a amplitude de Gleisi.

Naquele ano, ela assumiu a coordenação da campanha de Lula e da transição do governo.

Em 2018, Gleisi atuou pela neutralidade do PSB na corrida presidencial, o que impediu que o partido se aliasse a Ciro Gomes (PDT). Após eleição de Jair Bolsonaro (PL), articulou a recomposição do campo de esquerda para formação da frente de oposição.

Além de atuar na articulação da aliança em 2022, defensores do nome de Gleisi lembram que, sob sua condução, o PT aprovou com 84% de votos o nome de Geraldo Alckmin (PSB) para a vice de Lula.

A expectativa é que, na SRI, ela trabalhe para compor uma aliança em torno de Lula com vistas a 2026.

Além do nome de Gleisi, também são lembrados para o posto os líderes do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), e do Senado, Jaques Wagner (PT-BA).

Wagner foi sondado por auxiliares de Lula para a vaga, mas as conversas não avançaram. O senador tem afirmado que o titular da SRI deve ser um deputado, diante das dificuldades do governo com a Câmara.

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