Timothée Chalamet reinventa Bob Dylan em “Um Completo Desconhecido”

James Mangold entrega uma cinebiografia vibrante que não se limita a contar a história de Bob Dylan, mas a traduzir sua inquietação criativa para a tela. Um Completo Desconhecido, que estreia nesta quinta-feira (27), explora o artista como um ser em constante metamorfose, com Timothée Chalamet interpretando Dylan como uma figura magnética e um trovador elétrico que desafia convenções e se recusa a se limitar às expectativas do público.

O filme chega às telas poucos dias antes da cerimônia do Oscar, que acontece no domingo (2), e concorre na categoria de Melhor Filme, com indicações para os atores coadjuvantes Edward Norton e Monica Barbaro, além de Chalamet, que disputa o prêmio de Melhor Ator por sua performance hipnotizante.

Desde as primeiras cenas, Chalamet incorpora a fisicalidade e a intensidade do jovem Dylan com precisão impressionante. Sua voz rouca e seu jeito displicente refletem um artista sempre um passo à frente de quem tenta compreendê-lo. O filme se concentra na primeira metade da década de 1960, quando Dylan transita do folk acústico para o rock eletrificado – uma mudança que dividiu fãs e redefiniu a música popular para sempre.

Baseado no livro Dylan Goes Electric!, de Elijah Wald, a trama acompanha a ascensão meteórica de Dylan e sua rejeição ao purismo folk que tentou aprisioná-lo. O diretor James Mangold, que já revisitou o mito de Johnny Cash em Johnny & June, constrói uma narrativa que, embora siga algumas convenções de cinebiografias musicais, evita um retrato convencional do protagonista. Em vez disso, o filme aposta na dualidade de Dylan – um homem que se reinventa constantemente para permanecer fiel a si mesmo.

Elle Fanning brilha como Sylvie Russo, inspirada em Suze Rotolo, a primeira namorada de Dylan, que vê sua relação com o cantor se desintegrar à medida que ele se torna um ícone global. Monica Barbaro interpreta Joan Baez, musa e parceira musical, cuja relação com Dylan oscila entre admiração e ressentimento. Edward Norton é Pete Seeger, o mentor folk que vê seu protegido se afastar do tradicionalismo com guitarras amplificadas e uma postura cada vez mais enigmática.

Uma das grandes forças do filme é a recriação do ambiente musical da época. O Festival Folk de Newport de 1965, onde Dylan foi vaiado por eletrificar sua música, é reconstruído com uma tensão palpável, capturando o choque de um público não preparado para a transformação. Da mesma forma, os bastidores de gravações e encontros com lendas da música são mostrados de forma realista, sem a romantização comum em cinebiografias, conferindo um tom quase documental a certos momentos.

Chalamet não apenas interpreta Dylan – ele o habita. Sua performance nas canções, sem dublagens ou truques de estúdio, é uma prova de seu comprometimento com o papel. Sua versão de Don’t Think Twice, It’s All Right carrega uma verdade visceral, e seu olhar, escondido atrás de óculos escuros, transmite um artista que nunca está onde esperamos.

Embora Um Completo Desconhecido evite os clichês do gênero, não escapa de algumas armadilhas. O roteiro, em alguns momentos, enfatiza demais os dilemas do protagonista, tornando explícito o que a atuação de Chalamet já comunica com sutileza. Além disso, a ausência de figuras-chave da época, como os Beatles, que tiveram grande influência na trajetória de Dylan, pode soar como uma omissão estranha para os fãs mais atentos.

Conclusão

Ainda assim, o filme se mantém como um estudo fascinante sobre identidade e autenticidade. Ao final, não temos respostas definitivas sobre quem é Bob Dylan – e esse é exatamente o ponto. Um Completo Desconhecido nos lembra que Dylan nunca foi uma só pessoa, e é essa multiplicidade que o torna eterno.

Com uma performance magnética de Chalamet e uma direção que capta a energia revolucionária do período, o filme não apenas reconta a história de Dylan – ele a reinventa, assim como o próprio músico fez tantas vezes ao longo de sua vida.

Confira o trailer: 

Ficha Técnica
Direção: James Mangold;
Roteiro: Jay Cocks, James Mangold;
Elenco: Timothée Chalamet, Edward Norton, Elle Fanning, Monica Barbaro, Boyd Holbrook, Dan Fogler, Norbert Leo Butz, Scoot McNairy;
Gênero: Biografia;
Duração: 141 minutos;
Distribuição: 20th Century Studios;
Classificação indicativa: 14 anos;
Assistiu à cabine de imprensa a convite da Espaço Z