Cancelamento de chá salvou idosas de bolo envenenado no RS, diz polícia

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CARLOS VILLELA
PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS)

A investigação sobre o caso do bolo contaminado por arsênio que causou a morte de três pessoas da mesma família em Torres (RS) apontou que um grupo de idosas teria corrido risco de envenenamento dias antes da confraternização familiar na noite de 23 de dezembro.

A delegada regional de Capão da Canoa Sabrina Deffente disse nesta sexta-feira (10) que a autora do bolo, Zeli Teresinha dos Anjos, participaria de um chá com mulheres de uma associação de terceira idade na cidade de Arroio do Sal. “Ela tinha ficado responsável por fazer o bolo que seria consumido”, disse a delegada.

O encontro foi cancelado porque parte do grupo não tinha disponibilidade no dia marcado. “Acabou não saindo esse chá, e ela acabou utilizando a farinha nesse evento com a família”, disse a delegada.

A polícia suspeita que a nora de Zeli, Deise Moura dos Anjos, 42, usou arsênio para contaminar a farinha que foi usada no bolo servido no encontro da família.

“Há fortes indícios de que ela tenha provocado outros envenenamentos de pessoas próximas à família”, disse a delegada sobre a suspeita. “Para vocês terem a noção da inconsequência dos atos dessa senhora, que poderia ter causado uma tragédia ainda maior com pessoas que sequer tinham relação com ela”.
Deise está presa desde domingo (5), suspeita de triplo homicídio duplamente qualificado, por motivo torpe e uso de veneno.

Nesta sexta-feira, a Polícia Civil do Rio Grande do Sul confirmou que Deise também é suspeita de ter envenenado com arsênio o leite em pó consumido pelo sogro, Paulo Luiz dos Anjos, que morreu em setembro. A exumação dos restos mortais dele revelou a presença da substância.

Segundo a delegada, informações familiares obtidas pela polícia apontaram que Zeli teria sentido um gosto estranho no café que tomou com o marido naquele dia.

Três meses após a morte de Paulo, Zeli foi internada após comer duas fatias do bolo que ela preparou para o encontro familiar. A polícia identificou arsênio no organismo dela e nos corpos das três pessoas mortas: Maida Berenice Flores da Silva, 59, e Neuza Denize Silva dos Anjos, 65, irmãs de Zeli, e a sobrinha Tatiana Denize Silva dos Anjos, 47.

Uma criança de 10 anos, filho de Tatiana, também consumiu o bolo e foi hospitalizado, mas teve alta dias depois.

A investigação aponta que Deise tinha uma relação conturbada com a família e tinha a sogra como alvo principal. Zeli, que teve alta hospitalar nesta sexta-feira, estava presente nas duas ocasiões de envenenamento.

A investigação inicialmente apontava como motivo da desavença um suposto empréstimo de R$ 600 feito por Zeli pela conta de Deise há mais de 20 anos. O fato foi mencionado em uma denúncia de Deise contra o marido em outubro, na qual alegou ter sido vítima de agressão.

“Quando ela se viu diante da possibilidade de revelarem essa desavença dela com a família, ela recupera esse fato que teria ocorrido há 20 anos atras como justificativa para esse desentendimento, mas a gente acredita que isso foi tudo premeditado para criar uma narrativa”, disse a delegada regional de Capão da Canoa.

O delegado da Polícia Civil de Torres Marcos Vinicius Muniz Veloso, responsável pelo caso, disse que Deise também tinha um atrito de longa data com a cunhada Tatiana, uma das três mortas após comer o bolo. “A Tatiana quis casar em uma igreja antes dela e do marido, e isso perdurou por todo esse tempo, ela nunca esqueceu isso”, disse Veloso. “Motivos muito pequenos ensejaram a morte de quatro pessoas”.

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