Nunes e Bolsonaro expõem apoio envergonhado em 1º ato após 67 dias de campanha

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CAROLINA LINHARES E VICTÓRIA CÓCOLO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

A cinco dias do segundo turno da eleição, Jair Bolsonaro (PL) participou, nesta terça-feira (22), do seu primeiro evento na campanha de Ricardo Nunes (MDB), a quem declarou apoio em janeiro.

Após 67 dias do começo oficial da campanha eleitoral, os dois se reuniram em um almoço fechado com cerca de 400 empresários e políticos já convertidos na Fazenda Churrascada, no Morumbi (zona oeste).

Com discursos breves, acenos discretos e troca de elogios pouco efusivos, Nunes e Bolsonaro expuseram no encontro a aliança envergonhada que marcou a relação entre eles nos últimos meses.

Mais tarde, os dois gravaram um podcast, vai ser usado nas redes da campanha. E participaram, durante a noite, de um culto da Igreja Sara Nossa Terra, antes de jantarem em uma pizzaria.

Bolsonaro, Nunes e Tarcísio de Freitas (Republicanos) chegaram juntos à churrascaria por volta das 12h45, vindos do Palácio dos Bandeirantes, onde o governador hospeda o ex-presidente. Do lado de fora, manifestantes de esquerda fizeram um protesto contra a presença do ex-mandatário.

Além de Tarcísio, saudado pelos presentes no almoço como aquele que mais se dedicou à reeleição de Nunes, poucos elementos ligavam o ex-presidente ao prefeito. Foram dedicados cerca de dois minutos um para o outro em discursos protocolares.

Ambos falaram sobre a renegociação da dívida do município com a União, em 2021, que é praticamente a única experiência comum que dividem antes da aproximação para a eleição deste ano.

Bolsonaro e Nunes também responderam da mesma forma quando questionados pela imprensa sobre a ausência do ex-presidente na campanha, atribuindo a visita tardia ao excesso de viagens do líder do PL pelo país na tentativa de eleger prefeitos.

Eles também mencionaram que o apoio foi manifestado anteriormente de outras formas, por meio da presença de Bolsonaro na convenção do MDB, no início de agosto, e da indicação dele para a vaga de vice, ocupada pelo policial bolsonarista Ricardo Mello Araújo (PL).

“O que tinha que ser feito da minha parte, foi feito”, disse Bolsonaro sobre a campanha paulista. “Você está colaborando muitas vezes de forma mais distante, o Mello Araújo é o candidato aqui a vice.”

“Só pode fazer o gol se alguém passa a bola, eu joguei no meio de campo. Estou feliz com resultado. São Paulo terá quatro anos de bom governo, bem entrosado com o governo do estado”, completou Bolsonaro aos jornalistas após o almoço, com uma mancha na camiseta.

Por um lado, houve resistência de Bolsonaro a embarcar, pressionado por seu público que preferia Pablo Marçal (PRTB). Mas, de outra parte, o próprio MDB queria se preservar das polêmicas e da rejeição do ex presidente, elegendo como mote da campanha o discurso sobre a cidade e a gestão.

No almoço, marcado pela presença de vereadores e deputados bolsonaristas, a falta de entrosamento entre os dois mundos chegou a ficar aparente.

Ao discursar no palco, Bolsonaro disse que o presidente do MDB, Baleia Rossi, havia cometido “um erro grave” ao saudar Michel Temer (MDB) como o melhor presidente do Brasil. “Tinha que ter falado dois melhores presidentes”, brincou.

Questionado pela reportagem sobre como recebia o apoio de Bolsonaro considerando o negacionismo e o golpismo do ex-presidente, Nunes defendeu a vacinação, mas evitou falar sobre tentativa de golpe, afirmando que “tinha um alinhamento muito parecido” com o padrinho em temas como liberdade econômica.

“O apoio de Bolsonaro é de suma importância, é o maior líder da direita do nosso país”, disse.

“São Paulo foi a capital mundial da vacina, nós recebemos a vacina, a gente tem muita tranquilidade do trabalho que a gente desenvolveu. As questões que o presidente Bolsonaro defende têm muito alinhamento com o que eu defendo: liberdade econômica, […] diminuição de impostos”, completou.

Em outro momento da entrevista, Bolsonaro elencou suspeitas infundadas sobre manipulação na eleição de 2022. Questionado pela reportagem se concordava com o padrinho, Nunes desconversou: “Tudo pode ser analisado, mas eu não acompanhei esses casos com relação à votação”.

O ex-presidente disse não ter pedido cargos a Nunes em eventual nova gestão, mas admitiu que pode ter alguma influência. “Logicamente, uma coisa ou outra ele vai contornar e melhorar. […] Sugestão a gente dá à vontade, se ele pedir, eu dou, se eu tiver alguma ideia, eu passo. Eu tenho liberdade de ligar para ele.”

Entre aliados do prefeito, havia dúvidas se a participação de Bolsonaro no segundo turno seria benéfica, dado que Nunes, afinal, chegou à segunda etapa da disputa acirrada sem grande ajuda do padrinho, pelo contrário.

O ex-presidente chegou a fazer elogios a Marçal ao longo da campanha, mas, nesta terça, disse a jornalistas que “tudo começou” quando se reuniu com o influenciador, em junho, e o então pré-candidato do PRTB mentiu ao dizer que tinha seu apoio.

“Depois foi uma dor de cabeça enorme a gente mostrar que o nosso candidato era quem já vinha dando certo, quem tinha tudo para continuar um bom trabalho”, disse.

Entre emedebistas, a avaliação foi a de que o evento ocorreu dentro do esperado, ainda que haja certo desconforto com parte das declarações de Bolsonaro. Na avaliação deles, a vinda do ex-presidente não deve alterar a votação de Nunes, mas foi importante para respaldar a atuação de Tarcísio como cabo eleitoral. Entre bolsonaristas, o evento foi descrito como positivo em todos os aspectos.

Além de Bolsonaro, Nunes e Tarcísio, dividiram o palco também Baleia e Temer, a primeira-dama Regina Nunes e outros políticos do PL, MDB e União Brasil.

O almoço foi organizado pelo empresário Fauzi Hamuche, da confraria Caves (Confraria de Amigos do Vinho Eduardo Saddi), e os participantes pagaram R$ 130 para custear a refeição. O evento reuniu vereadores eleitos bolsonaristas, como Lucas Pavanato (PL) e Zoe Martinez (PL), o presidente do PSD, Gilberto Kassab, e o senador Rogério Marinho (PL-RN), entre outros.

“É uma satisfação voltar ao meu estado de São Paulo, rever alguns amigos e poder sentir-se útil. […] Temos uma tremenda responsabilidade, todos nós, que já conhecemos o que é um lado e o que é o outro lado”, disse Bolsonaro.

Tarcísio discursou com a voz rouca, o que atribuiu à reta final da campanha. “Até o último minuto, temos que buscar os indecisos. […] O que me dá conforto é saber que terei na prefeitura um grande parceiro”, disse. Nunes voltou a ressaltar que o governador não o abandonou quando ele caiu nas pesquisas –postura que destoa da de Bolsonaro.

Com 51% a 33% de Guilherme Boulos (PSOL) no Datafolha, Nunes disse que o público ali estava proibido de viajar no fim de semana e perder a votação. “Não podemos baixar a guarda, não existe campanha ganha.” Ele também fez uma série de críticas ao PSOL, a quem chamou de extremistas e turma do atraso.

Questionados sobre 2026, Tarcísio, que vem sendo apontado como presidenciável, desconversou, enquanto Bolsonaro não abriu mão de se colocar como candidato mesmo inelegível. Afirmou que, caso reverta o que vê como perseguição, irá ganhar de Lula “com certeza”.

Bolsonaro foi questionado sobre o nome do candidato da direita, se seria ele ou Tarcísio, e respondeu, em referência ao seu próprio nome do meio: “O nome é Messias”. “O candidato é Bolsonaro”, reforçou Tarcísio.

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