Um ano após a enchente na Vila Cauhy, moradores ainda temem a força da chuva

Maiara Marinho
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Nas margens do córrego Riacho Fundo, na Vila Cauhy, no Núcleo Bandeirante, a Ponte Liverpool foi arrastada pela correnteza no dia 2 de janeiro de 2024, devido à intensidade das chuvas, até a Ponte Canarinho, que, por causa do impacto, sofreu danos estruturais e perdeu parte do corrimão. Como se já não bastasse o estrago, uma inundação de grandes proporções invadiu as casas da população local. Um ano após a enchente, os moradores relembram o ocorrido e comentam sobre a atual situação da Vila.

“Era umas sete, sete e meia da noite. Eu estava chegando do trabalho e vi a água subindo. Aí comecei a falar nos grupos, pedir socorro, porque a gente tem vários grupos aqui na Vila Cauhy. Então pedi socorro aos Bombeiros e a ajuda veio rápido”, contou Maria da Conceição Silva Dias Santos, moradora local. Nos três dias que se seguiram, ela — que já foi vice-prefeita do Núcleo Bandeirante, onde está localizada a Vila — transformou sua casa em uma cozinha solidária, onde preparava refeições diárias para mais de 100 pessoas que ficaram desabrigadas temporariamente.

Maria mora na região mais atingida pelas chuvas, próxima à Ponte Canarinho, onde as casas sofrem inundações em dias de fortes tempestades. Logo ao lado, na Ponte Liverpool, as famílias também enfrentaram prejuízos, principalmente devido ao desabamento da estrutura. “Fiquei um ano sem trabalhar, porque, sem a ponte, eu não conseguia atravessar”, disse Antonieta do Rosário. Ela é cozinheira, vende comida em um trailer próximo à passarela de carros e mora depois da ponte, que liga um lado ao outro.

A obra foi concluída em outubro do mesmo ano, nove meses após a queda. Por isso, Antonieta alugou o trailer para outra pessoa e, assim, conseguiu manter sua renda. Antes do fim da obra, em junho, ela voltou a cozinhar e atravessava o córrego para não precisar pagar por corridas de aplicativo e, assim, alcançar seu posto de trabalho, que ficava logo do outro lado de sua casa. Para a cozinheira, a nova ponte e os reparos no córrego são “uma coisa maravilhosa”, comentou. “Eles colocaram grama ao redor e a ponte é muito segura”, finalizou, assertiva.

No entanto, o resultado sentido na parte mais alta da Vila não chegou até a parte mais baixa, onde fica a Ponte Canarinho. Apesar dos reparos com a reposição dos corrimãos, uma das principais reclamações dos moradores é o acúmulo de lixo logo na entrada da Vila e ao redor da ponte, o que dificulta o escoamento da água. Além disso, as ruas estreitas e as casas muito próximas ao córrego aumentam os riscos de alagamento. Quando a inundação toma conta das casas, além dos prejuízos com a perda de bens materiais, muitas pessoas precisam se abrigar na casa de vizinhos ou familiares.

Gustavo Rodrigues, de 20 anos, mora com a mãe em uma casa entre os becos da Vila Cauhy e foi um dos atingidos pela enchente de janeiro do ano passado. Eles perderam os móveis e ficaram alguns dias abrigados na casa de familiares que residem na parte mais alta. Com a ajuda de doações, reconstruíram suas vidas. Na noite deste domingo (5), a forte chuva o manteve acordado a noite toda, temendo adormecer e acordar com a água dentro de casa, como já aconteceu antes.

Além do trauma, os moradores afirmam que, caso uma chuva forte como a de janeiro de 2024 volte a acontecer, o transtorno será inevitável, prejudicando, sobretudo, crianças, idosos e pessoas enfermas que dependem de energia para o uso de aparelhos médicos. “Quando a chuva é forte, todo mundo já fica atento”, comentou Gustavo. Para ele, a construção de moradias populares na parte mais alta da Vila e, com isso, a ampliação de áreas desocupadas à beira do córrego poderiam ajudar a evitar tragédias como essa no futuro.

Defesa Civil realiza monitoramento na Vila

A Subsecretaria do Sistema de Defesa Civil (Sudec), vinculada à Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP/DF), informou que realiza o monitoramento de áreas de risco, principalmente no período de chuvas, para verificar ameaças e vulnerabilidades geotécnicas, estruturais e ambientais.

De acordo com a Sudec, no último ano, foram implementadas várias obras estruturantes e ações contínuas de prevenção na Vila Cauhy, visando à mitigação de riscos de alagamento. Entre elas, destacam-se a construção de muros de gabiões, o alargamento do leito do córrego, a reconstrução da Ponte Liverpool, a pavimentação de vias e a realização de simulações com a comunidade local pela Defesa Civil e pelo Corpo de Bombeiros.

Além disso, no período crítico de chuvas, a Defesa Civil, junto a outros órgãos do Governo do Distrito Federal, prestou assistência emergencial, distribuiu alimentos e incluiu as famílias impactadas nos cadastros da Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal (Codhab), para que fossem consideradas em programas habitacionais. Demandas também foram encaminhadas para análise dos órgãos responsáveis pelos serviços de assistência às famílias afetadas.

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