Ser realista ajuda a evitar frustrações com metas de ano novo

BÁRBARA BLUM
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Ano novo, vida nova. É comum que a virada de um ano para o outro inclua listas de metas. E elas costumam ser variadas: correr uma maratona, perder 10 kg, parar de fumar, aprender um novo idioma. O que elas costumam ter em comum, e que chama a atenção de especialistas, é uma vontade repentina de mudar hábitos e comportamentos.

Isso, segundo Pedro Bacchi, psiquiatra no Hospital das Clínicas de São Paulo e responsável pelo Programa de Mulheres Dependentes de Drogas, é algo que precisa ser repensado. “A mudança é gradual”, ele diz, e “estabelecer esse tipo de meta pode ser uma armadilha para a sua própria capacidade de mudar”.

O que acontece é que, se a meta não é alcançada, vai embora o sentimento que ele chama de autoeficácia, ou seja, a sensação de que uma pessoa é capaz de mudar por vontade própria.

Para Daniela Masson, diretora da Associação Brasileira de Nutrição, metas relativas à perda de peso costumam frustrar aqueles que não fazem planos realistas. “Sabemos que não existe um milagre que acarrete numa perda de peso rápida”, diz.

Segundo a nutricionista, a proposta de mudança de comportamento não pode estar distante da realidade do indivíduo. “Tudo que é muito radical acaba sendo impraticável em um curto período de tempo, levando à desistência.”

Metas vagas, como perder peso ou comer melhor, soam para Masson como resultados e consequências, não como objetivos. “Esse tipo de objetivo, normalmente, não faz com que as pessoas o atinjam.”

O que deve ser feito, ela diz, é compreender que sem mudança dificilmente será possível atingir uma meta. “Agora, se o novo ano significa mudança de comportamento, isso sim pode ter como consequência a redução de gordura, o ganho de massa muscular e a melhora nos exames bioquímicos.”

A ideia de parar de fumar opera numa lógica parecida. Segundo Bacchi, é importante entender que as pessoas têm ambivalências -e mesmo quem diz querer parar de fumar, pode também querer continuar.

“É importante se dar conta também de que existem aspectos positivos naquele comportamento, caso contrário, não o faríamos.”

Entender os pontos positivos e negativos de fumar -e os positivos e negativos em parar de fumar- são bons pontos de partida para entender melhor o cenário geral. Outro aspecto crucial no processo de abandonar o cigarro é entender o propósito de vida do fumante -e como parar de fumar pode ajudar.

Bacchi diz que as motivações para parar de fumar podem ser desde ter uma pele mais bonita até poder acompanhar o crescimento de um neto. “O importante é encontrar o propósito e alinhá-lo com a mudança desejada.”

No processo de parar de fumar, o psiquiatra afirma que o planejamento envolve uma estratégia de redução gradual. Depois da redução, estabelece-se uma data para parar de fumar. “Adesivos de nicotina e medicamentos podem ajudar”, diz.

Ele chama a atenção para uma metodologia específica de mudança de hábitos, a Smart (da sigla em inglês para as palavras específico, mensurável, alcançável, relevante e temporizável).

Nesse método, a ideia é que as metas correspondam aos pilares da sigla, ou seja, que sejam específicas, alcançáveis, mensuráveis, relevantes e que caibam num cronograma bem definido.

As metas de ano novo, que costumam ser generalistas, com um cronograma vago e difíceis de alcançar, são quase antíteses do método Smart, considerado uma das formas mais eficazes de fazer mudanças no estilo de vida.

Para quem quer mudar a dieta, Masson recomenda a criação de ambientes mais saudáveis, “que permitam melhores escolhas alimentares”.

“É muito importante conviver com pessoas que também escolham alimentos de verdade como a base da sua alimentação, pois servem de rede de apoio e incentivo constante.”

Ela recomenda ainda a inclusão de outros hábitos saudáveis na rotina, como atividades físicas, redução no consumo de álcool e higiene do sono. A ideia é que, aos poucos, hábitos e comportamentos mais saudáveis ganhem espaço no dia a dia. “Sem sentir culpa quando faz algo esporádico que não esteja nesse contexto”, aconselha a nutricionista.

O processo de autojulgamento, ela diz, pode culminar em recaídas que dificultam o comportamento saudável. “Nunca mais comer um doce ou beber uma taça de vinho não significa ter uma vida saudável.”

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