Bahia e Maranhão têm maior patamar de praias impróprias no Nordeste

JOÃO PEDRO PITOMBO E JOSÉ MATHEUS SANTOS
SALVADOR, BA E RECIFE, PE (FOLHAPRESS)

Salvador tem 105 quilômetros de orla, somando o trecho voltado para o oceano Atlântico, a parte que margeia a baía de Todos-os-Santos e as três ilhas que fazem parte do município -Frades, Maré e Bom Jesus.

São 37 pontos de medição da qualidade das águas, dos quais apenas dois são uma espécie de oásis, com praias próprias para banho durante todo o ano: a Ponta de Nossa Senhora, na Ilha dos Frades, e um dos trechos da Praia do Flamengo.

Fora da capital, outras praias como Busca Vida, Itacimirim, Costa do Sauípe e Baixios também estiveram boas durante o ano todo. São ao todo 22 praias classificadas como boas, levando em conta o período entre novembro de 2023 e outubro de 2024, o que representa 17% dos pontos de medição do litoral do estado.

Na outra ponta, 42,9% dos trechos que tiveram a balneabilidade avaliada no estado foram classificados como ruins ou péssimos.

Esse número coloca a Bahia, ao lado do Maranhão, com maior percentual de praias impróprias entre os estados do Nordeste.

Os indicadores de balneabilidade são coletados pela reportagem junto aos governos estaduais há nove anos. A reportagem seguiu normas federais no levantamento. Um trecho é considerado próprio se não tiver registrado mais de mil coliformes fecais para cada 100 ml de água na semana de análise e nas quatro anteriores.

Para a avaliação anual, foi adotado o método da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), que classifica as praias a partir dos testes semanais. Nos dois extremos estão as boas, próprias em todas as medições, e as péssimas, impróprias em mais da metade das medições.

Ceará e Pernambuco aparecem na sequência com mais praias consideradas ruins ou péssimas em 2024, seguidos de estados menores do Nordeste como Paraíba, Alagoas, Rio Grande do Norte e Sergipe.

Em comum, Maranhão e Bahia abrigam duas das maiores baías do país -a de São Marcos e a de Todos-os-Santos. Ambas ficam nas margens das respectivas capitais, que registram um alto patamar de praias consideradas ruins ou péssimas nas medições de balneabilidade.

Das 37 praias avaliadas em Salvador, 16 foram consideradas péssimas, 13 ruins, 6 regulares de 2 boas.

Entre as regulares, estão praias como Stella Maris, que fica no norte da cidade, e Santa Maria, trecho ao lado esquerdo do forte de mesmo nome próximo ao Porto da Barra.

A Embasa, empresa de água e saneamento da Bahia, disse que a balneabilidade das praias não depende exclusivamente da cobertura do serviço de esgotamento sanitário, mas também da poluição de canais e rios urbanos, influenciada por descarte irregular de lixo e de esgoto clandestino.

Em Salvador, a empresa mantém estações que captam todo o fluxo de rios e canais poluídos, direcionando-o para a rede de esgoto. Quando chove, contudo, essa captação não pode ser feita porque os rios aumentam de volume, o que afeta a balneabilidade.

Em São Luís, no Maranhão, nenhuma das praias esteve própria o ano inteiro -uma foi considerada regular, dez, ruins, e três, péssimas.

O Governo do Maranhão disse que promove o uso sustentável dos recursos hídricos e intensificou ações de fiscalização, aplicando sanções em casos de lançamento irregular de efluentes.

A Caema, empresa estadual de saneamento, afirmou que realiza inspeções e limpeza em ramais de esgoto como medida preventiva, reduzindo o efeito do descarte incorreto de esgoto nas praias.

Nadar em áreas impróprias pode causar problemas de saúde, sobretudo doenças gastrointestinais ou de pele, como micoses. “Quando há coliformes fecais, pode ter também outros elementos, como vírus e bactérias que podem causar doenças associadas à água”, diz Rodrigo Oliveira, doutor em ciências biológicas pela Universidade Federal de Pernambuco.

Em Pernambuco, 24 trechos de praias deixaram de ter aferição do índice de balneabilidade desde a pandemia de Covid-19. O estado não retomou desde então as medidas.

As áreas que deixaram de ser contempladas pelo levantamento têm trechos de seis municípios.

Deixaram de ser monitoradas praias de Goiana, Conceição e Pau Amarelo, em Paulista, pontos da praia de Casa Caiada (Olinda), Pina (Recife) e de Boa Viagem (Recife), além de áreas das praias de Piedade (Jaboatão), Barra de Sirinhaém e Guadalupe (Sirinhaém).

Procurada, a CPRH (Agência Estadual de Meio Ambiente do Estado de Pernambuco) afirmou que, durante a pandemia, foi necessário transferir o laboratório para o Instituto de Tecnologia de Pernambuco, reduzindo a capacidade de atuação. A mudança é provisória e foi motivada pela construção do atual edifício sede do laboratório no bairro de Dois Irmãos, no Recife.

O órgão disse que segue atuando para expansão da rede de coleta e, até julho de 2025, deve chegar a 50 pontos de monitoramento espalhados por todo o litoral do estado.

Para o biólogo Rodrigo Oliveira, a ausência de monitoramento é prejudicial ao ecossistema marinho e aos banhistas, que podem ter a saúde afetada direta ou indiretamente nas praias.

“Existe, em muitas praias, o consumo de sururus, mariscos e outros crustáceos, que são muito suscetíveis à poluição. Se não há um monitoramento, esses animais, que são filtradores, acumulam as substâncias tóxicas”, afirma.

Uma das praias que foram incluídas nas aferições ao longo de 2024 foi a do Capitão, conhecida como Mangue Seco, em Igarassu, no litoral norte do estado. O ponto que voltou a ser medido tem acesso pela rodovia PE-014. A praia fica localizada a 34 quilômetros do Recife.

Como a retomada aconteceu apenas em fevereiro, a reportagem não incluiu a praia do Mangue Seco no levantamento Praias Limpas, que faz uma avaliação de todas as semanas entre novembro de 2023 e outubro de 2024.

Pernambuco não teve uma praia sequer considerada boa para banho no levantamento de 2024. Ao todo, o estado teve oito praias avaliadas como ruins, nove como péssimas e oito como regulares, incluindo as turísticas Porto de Galinhas, em Ipojuca, e Carneiros, em Tamandaré.

Na capital Recife, o único ponto avaliado na praia do Pina foi considerado péssimo, e, em Boa Viagem, os dois trechos medidos foram classificados como ruins.

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