Mais da metade dos lares da área rural ainda queima lixo no Brasil

LEONARDO VIECELI
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)

Mais da metade dos domicílios localizados em áreas rurais do Brasil ainda recorria à queima de lixo como principal forma de descarte de resíduos em 2023. É o que indicam dados divulgados nesta sexta-feira (20) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

No ano passado, a queima de lixo prevalecia em 51% dos lares fora das cidades. Isso equivale a 4,8 milhões de endereços de um total de 9,5 milhões no meio rural.

Há uma discrepância na comparação com os domicílios das áreas urbanas. Nas cidades, 0,4% dos lares ainda utilizavam a queima de lixo como principal opção em 2023. Considerando o total de endereços no Brasil, o percentual foi de 6,6% em igual período.

Os resultados ilustram a dificuldade que o país encontra ao tentar levar os serviços de coleta até as áreas mais afastadas dos centros urbanos.

O percentual de 51% é o menor já verificado no meio rural na série histórica divulgada pelo IBGE, mas pouco se alterou em relação a 2022 (51,2%).

A parcela era de 53,9% em 2016, ano inicial dos registros. A fonte das estatísticas é a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua).

“A área rural normalmente é mais afastada dos grandes centros, onde estão as empresas de limpeza. Então, talvez o custo de fazer a coleta em pontos mais distantes seja proibitivo para que os municípios aumentem a prática na região rural”, afirmou William Kratochwill, analista da pesquisa do IBGE.

O técnico acrescentou que, devido às dificuldades de recolhimento dos resíduos, também há uma ação “cultural” de realizar a queima de lixo em propriedades do interior do país.

Segundo as estimativas do IBGE, 14,5 milhões de pessoas viviam em domicílios rurais onde essa opção de descarte prevalecia. O contingente correspondia a 52,4% da população total no meio rural (27,7 milhões).

A Pnad, como o nome já diz, é uma pesquisa construída a partir de entrevistas com uma amostra da população. Essa parcela dos brasileiros é desenhada e atualizada pelo IBGE com base nos dados do Censo Demográfico, também divulgado pelo órgão. O Censo se propõe a visitar todos os lares do país.

O instituto, contudo, ainda não fez a calibragem da amostra da Pnad a partir dos números do recenseamento mais recente, relativo a 2022, ponderou William.

Na área rural, a coleta direta de lixo por serviços de limpeza era a principal forma de descarte dos resíduos em 33,4% dos domicílios em 2023. O percentual está bem abaixo dos verificados entre os lares urbanos (93,4%) e o total de endereços no país (86,1%).

Outra forma investigada pelo IBGE é a coleta de lixo em caçambas de serviços de limpeza. Essa opção era a principal para 10,9% dos domicílios no meio rural. A proporção é maior do que a verificada nas áreas urbanas (5,8%) e no total do país (6,5%).

No Amazonas, o percentual de domicílios que recorriam principalmente à queima de lixo foi de 88,8% no meio rural. Rondônia veio em seguida, com 77,7%.

As menores proporções nas áreas rurais foram registradas no Distrito Federal (7,2%) e no Rio de Janeiro (13,4%).

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