‘Nunca considerei renunciar’, diz Assad em 1º pronunciamento após deixar Síria

LUANA TAKAHASHI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Bashar al-Assad fez seu primeiro pronunciamento nesta segunda-feira (16) -mais de uma semana após a queda de seu governo na Síria- e disse nunca ter considerado renunciar.

Ex-presidente afirmou que sua saída não foi planejada. ”Em nenhum momento durante esses eventos eu considerei renunciar ou buscar refúgio, nem tal proposta foi feita por qualquer indivíduo ou partido. O único curso de ação era continuar lutando contra o ataque terrorista”, afirmou, em carta publicada no Telegram e com assinatura que indica que ele está em Moscou.

Desde a deposição, a localização exata de Assad era um mistério. A Rússia havia confirmado que ofereceu asilo político ao ditador, mas sem revelar o local onde estava. Assad também não tinha feito qualquer pronunciamento após o ocorrido.

Assad declarou que foi forçado a sair. Segundo o ex-presidente, na noite do dia 8 de dezembro, ele viu o colapso das posições militares e a paralisia de todas as instituições estatais restantes em meio a ataques por drones de combatentes rebeldes.

O político afirmou que o Estado caiu nas mãos do terrorismo. Por isso, ele acrescenta que sua capacidade de contribuir se perdeu. ”Isso não diminui, de forma alguma, meu profundo senso de pertencimento à Síria e seu povo – um vínculo que permanece inabalável por qualquer posição ou circunstância”, escreveu.

“Eu nunca busquei posições para ganho pessoal, mas sempre me considerei um guardião de um projeto nacional, apoiado pela fé do povo sírio, que acreditava em sua visão. Eu carreguei uma convicção inabalável em sua vontade e capacidade de proteger o estado, defender suas instituições e manter suas escolhas até o último momento” Bashar al-Assad.

Assad alegou ainda haver uma ”enxurrada de desinformação” circulando. Segundo ele, foram criadas narrativas muito distantes da verdade com o objetivo de ”reformular o terrorismo internacional como uma revolução de libertação para a Síria”.

TOMADA DE DAMASCO E DEPOSIÇÃO DE ASSAD

A ofensiva na Síria foi lançada pelos insurgentes em 27 de novembro. Eles assumiram rapidamente o controle de Aleppo, a segunda maior cidade do país, localizada no noroeste, e de Hama, no centro. Os radicais tomaram do governo o controle da província de Daraa, no sul.

Rebeldes sírios anunciaram na manhã de domingo (noite de sábado no Brasil) que obtiveram o controle total sobre Homs, a terceira maior cidade do país e localizada ao norte de Damasco. Ao mesmo tempo, eles avançaram pelo território.

A ação teria ocorrido depois que as forças de segurança deixaram Homs às pressas após queimar documentos, informou a Reuters. Prisioneiros foram soltos da penitenciária central de Homs. Na ocasião, o governo negou a tomada da cidade.

Um porta-voz de operações militares dos rebeldes sírios disse que, após Homs, eles seguiriam para Damasco. “Haverá uma nova Síria baseada na justiça. Não estamos enfrentando um exército de verdade, mas sim uma milícia”, disse à Al Jazeera.

Por volta das 23h (de sábado, horário de Brasília; já domingo na Síria), as forças insurgentes anunciaram que entraram na capital. A ação teria ocorrido sem nenhum sinal de mobilização do exército. Ainda no sábado, eles disseram estar a 20 km de Damasco, mas o governo sírio havia dito que as suas forças de segurança estabeleceram um cordão “muito forte” ao redor da capital, chamando os relatos de campanha de desinformação.

Horas após a invasão, os rebeldes anunciaram a deposição do governo de Assad na Síria após 24 anos. Eles e apoiadores comemoraram e destruíram imagens e estátuas do presidente.

Bashar al-Assad fugiu do país de avião cargueiro na madrugada de domingo antes da chegada das forças opositoras. Aliada de Assad, a Rússia deu asilo ao ditador deposto.

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