Antes de leilão, dólar sobe e fica perto de R$ 6,08 nesta segunda

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O dólar começou em alta nesta segunda-feira (16) com os investidores na expectativa de um leilão que será feito pelo Banco Central ainda nesta manhã.

A autarquia financeira oferecerá US$ 3 bilhões ao mercado com compromisso de recompra nesta segunda-feira. É o terceiro pregão consecutivo que o BC faz intervenções no câmbio para tentar conter a alta.

Às 9h05, o dólar subia 0,8%, cotado a R$ 6,0778. Na sexta-feira (13), o dólar fechou em alta de 0,29%, a R$ 6,028, e a Bolsa caiu 1,13%, aos 124.612 pontos.

A elevação da moeda norte-americana aconteceu apesar de um leilão surpresa do BC (Banco Central), logo após a divisa tocar a máxima de R$ 6,077.

Nove propostas foram aceitas entre 14h41 e 14h46, e US$ 845 milhões das reservas internacionais do país foram vendidos. O total ofertado era de US$ 1 bilhão -ou seja, nem tudo foi comercializado. O BC não informou o motivo da realização do leilão.

Trata-se uma intervenção da autoridade monetária no mercado de câmbio. Na prática, é uma injeção de dólares no mercado como forma de atenuar disfuncionalidades nas negociações e diminuir a cotação, seguindo a lei da oferta e demanda.

Uma fonte, ligada a um banco de investimentos, avaliou que o leilão foi necessário para driblar a falta de dólares no país, comum nesta época do ano devido a remessas de dinheiro de empresas estrangeiras para as matrizes.

Alexandre Espírito Santo, economista da Way Investimentos, avalia o movimento como acertado. “O BC precisa usar as reservas internacionais, elas servem para isso também. Mas não há como reverter a tendência sem que o [pacote] fiscal passe no Congresso”, diz.

Também é essa a leitura do economista André Perfeito, que pontua que a intervenção ocorre em um momento em que o dólar testa novas máximas “ao arrepio da política monetária” do BC.

“Mas o sentido de uma intervenção do BC não deve ser interpretado como uma tentativa de mudar o patamar da moeda, mas sim de enfrentar disfuncionalidades no câmbio e de oferecer mais dólares para o mercado, que está pedindo por mais.”

A última vez que o BC havia vendido dólares à vista havia sido no dia 30 de agosto. Na quinta, porém, a autoridade monetária promoveu duas intervenções de linha (com compromisso de recompra), no montante de US$ 2 bilhões cada.

Após o fechamento do mercado, a autarquia ainda anunciou que fará mais dois leilões de linha na manhã de segunda-feira (16). Serão ofertados US$ 3 bilhões ao mercado entre 10h20 e 10h25, e as operações serão liquidadas na quarta-feira. A recompra vai ser feita em 6 de março de 2025.

O leilão extraordinário desta sexta conseguiu desacelerar a disparada do dólar, mas não foi capaz de reverter a tendência de alta. O sentimento predominante do mercado continua sendo de cautela em meio a preocupações sobre a trajetória das contas públicas do país.

Agora, restam apenas cinco dias para o início do recesso de fim de ano do Congresso, e o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) corre contra o tempo para aprovar o pacote de contenção de gastos ainda neste ano.

A tramitação esbarrou na liberação de emendas parlamentares, instrumento no centro do imbróglio entre o Executivo e o Legislativo.

O governo liberou as emendas em portaria no início da semana, e já foram pagos quase R$ 1,76 bilhão dos R$ 6,8 bilhões represados devido às decisões do STF (Supremo Tribunal Federal) que exigiam mais transparência a rastreabilidade nos repasses.

Mas lideranças parlamentares ouvidas pela Folha de S.Paulo admitem que a chance de votação do pacote diminuiu diante da avaliação de que há temas espinhosos entre as medidas que demandam mais tempo de discussão. Entre os descontentes, a própria bancada do PT.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou que há um problema inegável de prazo para aprovação do pacote de gastos, mas demonstrou estar confiante.

“A ausência do presidente Lula (PT) [internado após uma cirurgia em São Paulo] redobra nossa responsabilidade de tentar resolver as pendências e os problemas até para que ele possa ter uma recuperação tranquila. Não queremos levar problemas para ele, queremos levar solução. Para ele se recuperar bem e voltar a trabalhar porque nós precisamos dele”, disse.

O clima entre os investidores é de ver para crer. “Ninguém sabe se o pacote fiscal vai andar ou não, porque isso junta com a questão da hospitalização do presidente. O sentimento é bem ruim”, diz Espirito Santo, da Way Investimentos.

Lula teve alta do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, nesse domingo (15), após ficar seis dias internado.

Ele passou por uma cirurgia chamada trepanação, que consiste na remoção de um coágulo por meio de dreno colocado em um orifício aberto no crânio do paciente. Na quinta, passou por outro procedimento para interromper o fluxo de sangue em uma região de seu cérebro e, assim, impedir novos sangramentos.

As intervenções foram bem-sucedidas. Enquanto Lula está se tratanto, as negociações do pacote fiscal estão sob cuidados dos ministros Rui Costa (Casa Civil), Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Fernando Haddad e Jorge Messias (AGU).

“O mercado está em relativo compasso de espera, de olho na articulação política do governo para votação do pacote fiscal antes do recesso”, disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital. “Em síntese: compasso de espera e volatilidade.”

A sessão ainda repercutiu a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de quarta-feira. O colegiado do BC optou por um aumento agressivo de 1 ponto percentual na taxa básica de juros do país, a Selic, levando-a ao patamar de 12,25% ao ano.

O Copom também antecipou um choque de juros e passou a prever mais dois aumentos de 1 ponto percentual nas próximas reuniões, de janeiro e março, o que levaria os juros a 14,25% ao ano.

As sinalizações têm provocado forte alta nas curvas de juros futuros. Na sexta, os contratos de curto e médio prazo voltaram a disparar, com o DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2027 prevendo uma Selic em 15%.

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