Caso Anic: o que se sabe e o que falta saber sobre morte de advogada no RJ


Polícia Civil e defesa de assassino confesso têm divergências sobre aspectos importantes do crime que ainda estão sendo investigados. Semana teve reprodução simulada em dois municípios da Região Serrana Laudo aponta enforcamento como causa da morte de Anic Peixoto Herdy. Anic
Arquivo Pessoal
A Polícia Civil do Rio investiga os detalhes da morte de Anic Peixoto Herdy, que desapareceu em fevereiro e teve o corpo encontrado apenas sete meses depois, em Teresópolis, na Região Serrana do Rio.
Nesta semana, uma reprodução simulada foi realizada e um laudo definiu que a causa da morte de Anic foi estrangulamento, com o assassino utilizando uma abraçadeira plástica.
Durante a investigação, quatro pessoas foram indiciadas pela polícia e denunciadas pelo Ministério Público. A polícia segue investigando para saber se há outras pessoas envolvidas, além de Lourival Fadiga, sua mulher e seus filhos.
O g1 preparou um resumo sobre o que se sabe e o que falta saber a respeito do assassinato, que aconteceu no dia 29 de fevereiro de 2024:
Quem foi o mandante do crime?
Como Anic foi morta ?
Lourival teve ajuda ou não para matar, enterrar e concretar o corpo de Anic?
Quais são as principais hipóteses investigadas para o crime?
1. Quem foi o mandante do crime?
Lourival Fatica no local da reprodução simulada
Carlos Miranda/g1
Para a Polícia Civil, o mentor e autor dos crimes de sequestro e extorsão foi Lourival Fadiga, que trabalhava para Anic e foi apontado como amante da vítima. Lourival foi preso junto com os filhos Maria Luíza e Henrique, além de Rebecca Azevedo dos Santos.
Em setembro, com uma nova defesa, Lourival confessou que foi o autor do assassinato da advogada e disse que o crime foi cometido a mando de Benjamim, viúvo da vítima. Ele também deu uma nova versão sobre a dinâmica da morte e apontou onde estava o corpo – em um buraco concretado na garagem de sua casa.
Depois do encontro do cadáver de Anic, a polícia passou a investigar a versão de Lourival.
O g1 apurou que o sigilo do ex-marido de Anic foi quebrado, mas até o momento a polícia não encontrou provas que apontem o viúvo como mandante do crime. Os advogados de Benjamim negam qualquer participação.
2. Como Anic foi morta?
Abraçadeira, conhecida como “enforca-gato”, foi o equipamento utilizado para matar Anic, aponta laudo
Reprodução
Um laudo do exame de necropsia do dia 18 de outubro revelou que a causa da morte de Anic foi estrangulamento, com o uso de uma abraçadeira plástica, também conhecida como “enforca-gato”.
Em coletiva de imprensa, a defesa do homem tinha afirmado que Anic teria sido morta após levar um soco no pescoço.
Procurada, a advogada de defesa de Lourival, Flávia Fróes, confirmou o uso da abraçadeira plástica, mas ressaltou que um sangramento comprova que ele desferiu também o soco que tinha relatado inicialmente.
Caso Anic: defesa de um dos réus dá nova versão do crime
A versão, segundo ela, seria comprovada pelo material encontrado nos lençóis do motel onde teria ocorrido o assassinato.
Fontes ligadas à investigação, no entanto, dizem que o lençol foi encontrado enterrado com a vítima e estava cheio de lama, dificultando o encontro de material genético de Anic. O material está sendo coletado para análise, para determinar realmente se havia sangue da vítima ou não.
3. Lourival teve ajuda ou não para matar, enterrar e concretar o corpo?
Trabalho de escavação na casa de Lourival
Reprodução
Em sua confissão, Lourival alega que cometeu o crime sozinho, desde o momento em que saiu do motel em Itaipava com Anic já morta até enterrar e concretar o corpo dela em um buraco na garagem de sua casa, em Teresópolis, na Região Serana.
Após a reprodução simulada realizada na quarta-feira, em Petrópolis e Teresópolis, na Região Serrana, a Polícia Civil investiga se Lourival teve ajuda para ocultar o cadáver de Anic.
Caso Anic
Reprodução
4. Quais são as principais hipóteses investigadas para o crime?
A busca por Anic durou quase 7 meses. Inicialmente, acreditava-se que ela tinha sido sequestrada.
A defesa de Lourival Fadiga alega que não houve extorsão mediante sequestro com resultado morte, como afirmava a polícia, e sim homicídio. Com isso, o caso sairia da Vara Criminal de Petrópolis, onde o processo corre, e iria para um tribunal do Júri.
A confissão de Lourival foi feita para tentar eximir a responsabilidade no crime dos filhos e da mulher de Lourival. Em outubro, Maria Luíza e Henrique deixaram o Complexo Penitenciário de Gericinó. Rebecca permanece presa.
A Polícia Civil tem três hipóteses principais para o crime:
Extorsão com resultado morte ;
Extorsão mediante sequestro com resultado morte ;
Homicídio qualificado e extorsão
Reprodução simulada
Lourival Fatica no local da reprodução simulada
Carlos Miranda/g1
Lourival participou da reprodução, na quarta. Na primeira parte, ele ficou dentro de um carro semelhante ao que utilizava no dia que a vítima foi vista viva pela última vez, perto de um shopping em Petrópolis. Uma perita da Polícia Civil fez o papel de Anic.
Perita da Polícia Civil fez o papel de Anic na reprodução simulada
Carlos Miranda/g1
A segunda parte da reprodução aconteceu em um motel no distrito de Itaipava, em Petrópolis. Segundo Lourival, foi lá que ele teria matado a vítima.
Lourival no motel em Itaipava onde confessou ter matado Anic.
Rayssa Motta/ TV Globo
Uma reprodução simulada também aconteceu na casa de Lourival, em Teresópolis, onde o corpo de Anic foi encontrado.
A polícia chegou ao local pouco depois das 15h e tirou a terra da frente da garagem para tentar reproduzir a dinâmica do momento em que o corpo de Anic foi enterrado e concretado, segundo a versão de Lourival.
Polícia faz reprodução simulada na casa de Lourival Fatiga, em Teresópolis
Marcus Wagner/Intertv
Um homem que teria ajudado Lourival a cavar o buraco também foi chamado para participar da reprodução. Segundo a Polícia, ele não é investigado por suspeita de participar do crime. Uma boneca chegou a ser usada para simular o corpo de Anic.
Relembre o caso
Reconstituição do caso Anic
Reprodução; Carlos Miranda/g1
A advogada foi vista pela última vez em 29 de fevereiro, parando o carro em um shopping na Rua Teresa, em Petrópolis, e andando a pé pelo polo comercial. Nenhuma câmera flagrou Anic sendo rendida, mas o carro de Lourival foi visto na região e no mesmo horário.
Ainda no 29 de fevereiro, à noite, o marido de Anic, Benjamin Cordeiro Herdy, recebeu no celular uma mensagem enviada do número dela comunicando do sequestro. Mas, nessa hora, Anic provavelmente já estava morta.
A pessoa que escrevia a Benjamin exigiu um resgate de R$ 4,6 milhões e mandou que todas as tratativas até a soltura fossem conduzidas por Lourival. O homem era um faz-tudo dos Herdy e virou amante de Anic.
Para os investigadores, o “sequestrador” era Lourival o tempo todo. Entre transferências, compras de bitcoins e saques em dólar, Benjamin pagou R$ 4,6 milhões aos “sequestradores”, na esperança de rever a esposa. A soltura seria no dia 11 de março, mas Anic não apareceria.
O esquema só foi descoberto graças à filha de Anic, Lara, que desconfiou da atitude de Benjamin diante de Lourival, e procurou a polícia em 14 de março.
A família de Anic divulgou o seguinte texto, assinado pelo advogado João Vitor dos Santos Ramos:
“Em relação à reprodução simulada realizada no dia 23 de outubro de 2024, quem acompanhou a diligência teve a oportunidade de testemunhar mais um lamentável episódio de espetacularização do caso.
Conforme amplamente noticiado, a diligência tinha como objetivo reproduzir a mais recente versão inventada por Lourival. Sem entrar no mérito da excentricidade da iniciativa dessa reprodução, que foi determinada pelo juízo, sem oposição do Ministério Público, após meses de investigação e a partir do requerimento convenientemente formulado por Lourival após novamente modificar a sua versão, Lourival apenas comprovou, na prática, seguir mentindo.
Embora as inconsistências da última narrativa de Lourival sejam evidentes, o excelente trabalho realizado pela Polícia Civil do estado do Rio de Janeiro mais uma vez não teve dificuldade em elucidar, agora no contexto da reprodução simulada, que o medíocre discurso ensaiado por Lourival não tem o mínimo indício de veracidade.
Por esse motivo, não é correto falar em conflito ou guerra de versões entre Lourival e Benjamim, principalmente porque Benjamim é vítima e os fatos imputados a Lourival, Rebecca, Maria Luiza e Henrique decorrem de criteriosa apuração realizada pela Policia Civil e constam de denúncia oferecida pelo Ministério Público, de modo que, se é possível falar em conflito de versões, esse conflito existe internamente e tão somente entre as inúmeras versões contadas por Lourival – pessoa que por anos se apresentou falsamente como policial federal, conforme atestado por diversas testemunhas.
Nesse contexto de sucessivas alterações nas versões de Lourival, o resultado da reprodução simulada, que será externado de maneira técnica pelos peritos, será somado ao vasto acervo probatório dos autos e corroborará a extorsão mediante sequestro e com resultado morte, além da grave ocultação de cadáver, perpetrada pela organização criminosa familiar formada por Lourival, Rebecca, Maria Luiza e Henrique.
Assim, a família de Anic segue acreditando no avanço das investigações, sobretudo em relação à localização e à recuperação dos 950 celulares, cuja aquisição e remessa foi negociada por Maria Luiza, assim como em relação aos dólares e demais valores ainda não recuperados e que estavam sendo manejados por Henrique, quando ambos estavam em liberdade – que na última semana fora restabelecida, em franco prejuízo das iniciativas de recuperação dos produtos e dos proveitos do crime”.
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