Com seca, ribeirinhos andam 6 km por dia para buscar água no interior de Roraima

Moradores, incluindo crianças, auxiliam na busca por água na comunidade Panacarica, no Sul de Roraima (Foto: Divulgação)

Há três meses, a seca tem obrigado moradores da comunidade Panacarica, na região do Baixo Rio Branco, em Caracaraí, na divisa de Roraima com o Amazonas, a buscar água a 1,6 quilômetros de distância, diretamente no rio Paraná Panacarica. Trecho do curso d’água, cujas águas ficam mais próximas da população em época chuvosa, agora é um banco de areia que lembra um deserto.

Imagens de satélite mostram a comunidade Panacarica em outubro de 2024 (esquerda) e janeiro de 2022 (direita) (Foto: Reprodução Google Earth)

Dependendo da necessidade, moradores chegam a caminhar, em média, até lá, duas vezes ao dia e a distância da comunidade pode ficar maior na medida em que a seca se agrava. A agricultora Francisca Alves de Souza, 58, e seus outros cinco familiares, diariamente, passam por esse caminho, e a jornada diária pode totalizar a 6,4 quilômetros. Eles levam baldes, garrafas pets e até sacolas para coletar a água para consumo próprio, cozinhar e fazer outros afazeres domésticos.

“A gente já não está mais aguentando fazer isso”, admitiu ela, explicando que usa hipoclorito de sódio para purificar o líquido. “Os idosos também já não estão mais aguentando, a caminhada é longa eles já não conseguem chegar à beira para tomar banho, lavar roupas”.

Ela ainda exemplifica que crianças que estudam pela manhã, para tomar banho, começam a caminhar em direção ao rio às 5h, apesar do risco de se deparar com jacarés e arraias no curso d’água, sem contar as onças que caminham pela praia.

Alunos do período vespertino costumam ir à escola sem tomar banho, por causa do calor por volta de meio-dia. Em um vídeo que circula nas redes sociais, uma professora revelou que precisou unir turmas de dois turnos e que “nunca tinha visto uma seca tão grande” como essa.

Moradores da comunidade Panacarica, no Sul de Roraima, receberam mangueiras como doações (Foto: Divulgação)

Para tentar aliviar a situação, moradores receberam doações de mangueiras e um motor bomba para puxar a água e abastecer as 23 famílias que vivem na localidade. Mas segundo Francisca Alves, o equipamento não tem a potência suficiente para levar o líquido com mais rapidez aos moradores e consome muita gasolina, cujo litro chega a R$ 10 na região. “Nem todo mundo tem condição de comprar”, lamentou.

Doações

A moradora sugere que a população ajude a instalar poços artesianos na comunidade e doe caixas d’água de 1 mil litros para armazenar a água. Para doações, os interessados podem entrar em contato com o (95) 99177-6405 (WhatsApp).

Além disso, a Comissão Pastoral da Terra de Roraima, da Igreja Católica, iniciou uma campanha solidária para ajudar os moradores. Quantias em dinheiro podem ser enviadas para a conta da pastoral, do banco Itaú: Agência (1352), Conta Corrente (226540).

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