JÚLIA BARBON
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Com a derrubada do sigilo da investigação da Polícia Federal que indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 36 pessoas por uma suposta trama golpista em 2022, tornaram-se públicas as 884 páginas do relatório final do inquérito.
Abaixo, entenda o papel que teria sido desempenhado por cada um dos indiciados, segundo as conclusões da PF. As provas agora serão analisadas pela PGR (Procuradoria-Geral da República), que decidirá se apresenta denúncia ou não.
Bolsonaro nega tentativa de golpe e, assim como outros indiciados, já disse ser alvo de perseguição.
O que diz a investigação da PF
- Jair Bolsonaro, ex-presidente
- “Planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva” dos atos que levariam ao golpe, que não se consumou por “circunstâncias alheias à sua vontade”
- Disseminou narrativa falsa sobre as urnas eletrônicas, incitando apoiadores
- Tinha conhecimento do plano para matar Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes
- Ajudou a elaborar a minuta de decreto golpista
- Convocou e apresentou a minuta aos comandantes das Forças Armadas
- Convenceu o general Estevam Theófilo, chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército (Coter), a aderir ao golpe, diante da recusa do comandante do Exército
- General Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice
- Tentou obstruir as investigações
- Aprovou plano de golpe em reunião com militares em sua casa, em 12 de novembro de 2022
- Faria parte de gabinete de crise pós-golpe, liderado pelo general Augusto Heleno
- Pressionou os comandantes da Aeronáutica e do Exército a aderirem ao plano, inclusive orientando militares a difundir ataques pessoais a eles e a seus familiares
- Tentou ter acesso a informações sobre acordo de delação premiada de Mauro Cid
- Valdemar Costa Neto, presidente do PL
- Pediu “verificação extraordinária” das urnas eletrônicas à Justiça Eleitoral com base em relatório que sabia ser falso
- Foi um dos responsáveis, junto a Bolsonaro, pela decisão de divulgar o relatório fraudulento
- Pessoas que trabalhavam para o PL abasteciam influenciadores com fake news
- General Augusto Heleno, ex-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional)
- Incentivou narrativa falsa sobre as urnas eletrônicas
- Tentou obstruir as investigações
- Participou de reuniões para discutir o golpe
- Seria o líder do gabinete de crise após o golpe
- Aparece em anotações como envolvido na trama
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça
- “Teve atuação relevante” na propagação da narrativa de fraude na urna eletrônica
- Participou da confecção da minuta do decreto golpista, apreendida em sua casa em 10 de janeiro de 2023
- General Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa
- Tratou o TSE como inimigo em reunião de ministros em 5 de julho de 2022
- Emitiu nota dizendo que o ministério “não excluía a possibilidade da existência de fraude” nas urnas pós-resultados, para manter narrativa golpista
- Tentou pressionar os comandantes das Forças Armadas a aderirem ao golpe em encontro no dia 14 de dezembro de 2022
- Almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha
- Aderiu ao golpe e disponibilizou tropas para a ação
- Orientação de Braga Netto era “difundir elogios” sobre ele, reconhecido como “patriota”, em oposição aos comandantes do Exército e Marinha que não aderiram
- Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin
- Assessorou e municiou Bolsonaro com estratégias de ataques às instituições democráticas
- Usou o cargo para determinar a produção de relatórios ilícitos para atacar o sistema eleitoral e o STF
- Elaborou planos para tentar interferir em investigações da Polícia Federal
- Felipe Garcia Martins, ex-assessor de Bolsonaro
- “Atuou de forma proeminente na interlocução com juristas” para elaborar a minuta de decreto golpista, posteriormente apresentada a Bolsonaro
- Faria parte do gabinete de crise após o golpe
- “Forjou uma possível saída do Brasil” no final de 2022, segundo a PF, o que sua defesa nega
- General Mario Fernandes, ex-secretário-executivo da Presidência
- “Teve atuação de extrema relevância no planejamento de golpe de Estado”
- Foi o responsável pela elaboração do plano “Punhal Verde Amarelo”, para matar Lula, Alckmin e Moraes
- Elaborou a minuta para a criação do gabinete de crise pós-golpe, do qual faria parte
- Atuou como elo entre os líderes dos manifestantes golpistas instalados em frente ao Exército em Brasília e a Presidência
- Continuou a incentivar os líderes dessas manifestações em 19 de dezembro, após o plano dar errado
- Tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro
- Identificado pela PF como o grande operador de Bolsonaro na trama golpista, atuando em diversos núcleos do grupo
- Produziu e difundiu “estudos” sobre supostas inconsistências nas urnas produzidas antes de 2020, que embasaram pedido do PL para anular eleições
- Participou de reunião na casa de Braga Netto em 12 de novembro de 2022, dias depois de o plano “Punhal Verde Amarelo” ser impresso
- Articulou, a pedido de Bolsonaro, a “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro” e a disseminação de ataques contra os comandantes da Força que resistiam ao golpe
- Acompanhou o monitoramento de Alexandre de Moraes, por mensagens trocadas com o indiciado Marcelo Câmara
- No dia 8 de janeiro de 2023, recebeu fotos dos atos na Esplanada dos Ministérios de sua esposa, Gabriela Cid, e respondeu: “Se o EB [Exército Brasileiro] sair dos quarteis…e [é] para aderir”
- Fechou acordo de delação premiada com a PF
Outros indiciados e suas atribuições, segundo a PF
12 – Ailton Gonçalves Moraes Barros, integrante do núcleo responsável por incitar a adesão de militares ao golpe de Estado e difundir ataques pessoais aos militares que não aderissem os planos da organização criminosa, sob ordens de Braga Netto.
13 – Alexandre Castilho Bitencourt da Silva, coronel do Exército e um dos autores da “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa e Exército Brasileiro”.
14 – Amauri Feres Saad, advogado e um dos autores da minuta do golpe.
15 – Anderson Lima de Moura, coronel do Exército e um dos autores da “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa e Exército Brasileiro”.
16 – Angelo Martins Denicoli, major da reserva do Exército, forneceu arquivos com informações falsas sobre as urnas eletrônicas para Fernando Cerimedo, que as utilizou para disseminar desinformação.
17 – Bernardo Romão Correa Netto, coronel acusado de integrar núcleo responsável por incitar militares e atacar generais do Alto Comando do Exército.
18 – Carlos Cesar Moretzsohn Rocha, representante do Instituto Voto Legal (IVL), disseminou teses de indícios de fraudes nas urnas eletrônicas que circulavam nas redes sociais.
19 – Carlos Giovani Delevati Pasini, coronel do Exército e um dos responsáveis pela elaboração da “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro”.
20 – Cleverson Ney Magalhães, coronel da reserva e assistente do comandante de operações terrestres do Exército (Coter), única ala da Força que aderiu à ideia golpista.
21 – Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, general da reserva e ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército (Coter), única ala da Força que aderiu à ideia golpista.
22 – Fabrício Moreira de Bastos, coronel do Exército, “teve atuação relevante nos atos desencadeados pelo grupo no intento golpista”, segundo a PF, e auxiliou na escolha dos militares “kids pretos” que participariam de reunião para discutir plano.
23 – Fernando Cerimedo, consultor político argentino que fez live divulgando informações falsas sobre as urnas eletrônicas durante as eleições de 2022.
24 – Giancarlo Gomes Rodrigues, subtenente do Exército cedido à Abin, atuou sob o comando de Ramagem em ações visando criar informações inverídicas relacionadas aos ministros do STF.
25 – Guilherme Marques de Almeida, militar lotado no Comando de Operações Terrestres do Exército (Coter), burlou ordem judicial de bloqueio do conteúdo falso e disponibilizou material produzido por Fernando Cerimedo em servidores fora do país.
26 – Hélio Ferreira Lima, tenente-coronel do Exército, participou da elaboração do plano “Copa 2022”, para monitorar e prender Moraes.
27 – José Eduardo de Oliveira e Silva, padre da diocese de Osasco, participou da elaboração da minuta de golpe de Estado.
28 – Laercio Vergililo, general da reserva, integrante do núcleo responsável por incitar a adesão de militares e difundir ataques pessoais aos que não aderissem aos planos.
29 – Marcelo Bormevet, policial federal cedido à Abin, atuou sob o comando de Ramagem para criar informações inverídicas sobre ministros do STF.
30 – Marcelo Costa Câmara, coronel da reserva e ex-assessor de Bolsonaro, responsável por passar informações a Mauro Cid sobre o monitoramento do ministro Alexandre de Moraes.
31 – Nilton Diniz Rodrigues, general do Exército, atuava como assistente do comandante do Exército, general Freire Gomes, e exercia função estratégica para tentar influenciá-lo.
32 – Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho, influenciador, empresário e neto do ex-presidente do período ditatorial João Figueiredo, divulgou informações falsas para incitar militares a se voltarem contra comandantes contra o golpe.
33 – Rafael Martins de Oliveira, tenente-coronel e integrante do grupo “kids pretos”, apresentou o plano “Punhal Verde Amarelo” a Braga Netto junto a Mario Fernandes e atuou diretamente no monitoramento de Moraes em novembro e dezembro de 2022.
34 – Ronald Ferreira de Araujo Junior, tenente-coronel lotado no Centro de Comunicação do Exército, foi um dos responsáveis pela elaboração da “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro”.
35 – Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros, tenente-coronel, foi um dos responsáveis por propagar e coletar assinaturas de militares para a carta.
36 – Tércio Arnaud Tomaz, ex-assessor de Bolsonaro e considerado um dos pilares do chamado “gabinete do ódio”, foi o responsável por repassar o conteúdo editado da live realizada pelo argentino Fernando Cerimedo contra as urnas eletrônicas.
37 – Wladimir Matos Soares, policial federal, participou do plano “Punhal Verde Amarelo” para matar Lula, fornecendo informações privilegiadas relativas à segurança do hoje presidente.