Bolsonaro surfa na crise do Carrefour e acusa Lula de ‘submissão’ a Macron

TAMARA NASSIF
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) comentou sobre a crise envolvendo a carne brasileira e o grupo francês Carrefour nesta terça-feira (26).

Em postagem no Instagram, aludiu à defesa do agronegócio durante seu mandato e acusou o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de “submissão globalista”, dizendo que o petista “se cala para não desagradar seu amigo francês” -no caso o presidente da França, Emmanuel Macron.

“Sempre enfrentamos e sempre iremos enfrentar todos esses ataques com firmeza, protegendo nosso agronegócio e nossa soberania das narrativas e ataques daqueles que temem um Brasil forte e independente”, escreveu o ex-presidente.

“Mas, hoje, lamentavelmente enquanto Macron apoia e aplaude o boicote e a propagação de mentiras contra nossos produtos, Lula se cala para não desagradar seu amigo francês.”

Ele ainda disse que o “interesse da França nunca foi proteger o meio ambiente, mas sim barrar a competitividade brasileira e difamar nosso agronegócio” e que o “Brasil merece mais do que isso”.

“Merece uma liderança firme e não a submissão globalista do Governo Lula; merece uma atitude corajosa e não viralatismo da esquerda perante as pressões internacionais como as agendas woke e ESG”, escreveu.

O imbróglio entre setores da agropecuária brasileira e a rede Carrefour teve início na semana passada.

Em comunicado nas redes sociais, o CEO da varejista, Alexandre Bompard, informou que as lojas francesas não comprariam mais carne vinda do Mercosul, diante do “risco de inundar o mercado francês com uma produção de carne que não respeita suas exigências e normas”.

A declaração desencadeou um boicote de produtores brasileiros, que deixaram de entregar carne para unidades do Carrefour no Brasil.

Até esta terça, 23 frigoríficos haviam declarado adesão à suspensão do fornecimento, incluindo gigantes como JBS, Marfrig e Masterboi. Segundo fontes do setor, o desabastecimento afetava mais de 150 lojas do Carrefour no Brasil.

O movimento recebeu apoio do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), e, em pouco tempo, ganhou contornos de incidente diplomático.

Na noite de segunda-feira, a Embaixada do Brasil em Paris divulgou um comunicado em que disse respeitar a “oposição de qualquer setor ao acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia”.

“Tal posição, no entanto, não pode justificar uma campanha pública baseada na disseminação generalizada de desinformação sobre os produtores brasileiros.”

O texto afirma que o Brasil “se orgulha de ser, há décadas, um fornecedor seguro de proteína animal para o mercado europeu” e que governo brasileiro “tem o objetivo de combater a desinformação”. E, segundo a embaixada, é falsa a declaração de que haveria risco de inundação no mercado francês de produção de carne do Mercosul que não respeita suas exigências e normas.

Em reação à crise, a rede global recuou e publicou uma carta de retratação dirigida ao mercado brasileiro.

“Nossa declaração de apoio à comunidade agrícola francesa na última quarta-feira sobre o tema do acordo de livre comércio com o Mercosul deu origem a discordâncias no Brasil que é nossa responsabilidade resolver. Jamais colocaríamos a agricultura francesa contra a agricultura brasileira, pois nossos dois países compartilham o amor pela terra, sua cultura e a boa comida”, diz a carta publicada nesta terça.

O texto, no entanto, não informa se a rede voltará a comprar produtos do Mercosul.

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