Caso Anic: laudo revela que advogada morreu por estrangulamento com abraçadeira


Em um primeiro relato público, a defesa de Lourival Fatiga tinha relatado um soco no pescoço como o que causou a morte. O g1 apurou que o meio utilizado foi uma abraçadeira, também conhecido como “enforca-gato”. Anic
Arquivo Pessoal
O laudo de exame de necropsia de Anic Peixoto Herdy diz que a vítima foi morta por estrangulamento, através de asfixia mecânica. O documento indica que o meio utilizado pelo assassino para o estrangulamento foi uma abraçadeira, também conhecido como “enforca-gato”, segundo o g1 apurou.
A documento aponta uma causa para a morte diferente do que foi relatado em um primeiro momento pela defesa de Lourival Fatiga, que confessou ter matado a vítima. Em coletiva de imprensa, a defesa do homem afirmou que Anic teria sido morta após levar um soco no pescoço.
Procurada, a advogada de defesa de Lourival, Flávia Fróes, confirmou o uso da abraçadeira plástica, mas ressaltou que um sangramento comprova que ele desferiu também o soco que relatou. A versão, segundo ela, seria comprovada pelo material encontrado nos lençóis do motel onde teria ocorrido o assassinato. Ela também disse que Lourival já tinha falado sobre a abraçadeira.
Caso Anic: defesa de um dos réus dá nova versão do crime
“Ele confessou que usou a braçadeira, que apertou com bastante força, conforme está na audiência na Justiça, que é anterior ao encontro de cadáver. Se a morte foi por asfixia, isso não invalida que ele tenha dado o soco. Desde a confissão dele, ele disse que utilizou essa mecânica no pescoço da Anic”, alega Flavia Froes.
Abraçadeira, conhecida como “enforca-gato”, foi o equipamento utilizado para matar Anic, aponta laudo
Reprodução
Após a reprodução simulada realizada na quarta-feira, em Petrópolis e Teresópolis, na Região Serrana, a Polícia Civil tenta agora entender alguns detalhes sobre a morte de Anic e como ela foi enterrada e concretada na garagem da casa de Lourival Fatiga.
A polícia ainda quer entender se Lourival agiu sozinho, como ele alega em sua versão sobre os fatos, ou se teve ajuda para conseguir tirar o corpo de Anic do carro e depois enterrar e concretar a vítima.
Reprodução simulada
Lourival Fatica no local da reprodução simulada
Carlos Miranda/g1
Lourival participou da reprodução, na quarta. Na primeira parte, ele ficou dentro de um carro semelhante ao que utilizava no dia que a vítima foi vista viva pela última vez, perto de um shopping em Petrópolis. Uma perita da Polícia Civil fez o papel de Anic.
Perita da Polícia Civil fez o papel de Anic na reprodução simulada
Carlos Miranda/g1
A segunda parte da reprodução aconteceu em um motel no distrito de Itaipava, em Petrópolis. Segundo Lourival, foi lá que ele teria matado a vítima.
Lourival no motel em Itaipava onde confessou ter matado Anic.
Rayssa Motta/ TV Globo
Uma reprodução simulada também aconteceu na casa de Lourival, em Teresópolis, onde o corpo de Anic foi encontrado.
A polícia chegou ao local pouco depois das 15h e tirou a terra da frente da garagem para tentar reproduzir a dinâmica do momento em que o corpo de Anic foi enterrado e concretado, segundo a versão de Lourival.
Polícia faz reprodução simulada na casa de Lourival Fatiga, em Teresópolis
Marcus Wagner/Intertv
Um homem que teria ajudado Lourival a cavar o buraco também foi chamado para participar da reprodução. Segundo a Polícia, ele não é investigado por suspeita de participar do crime. Uma boneca chegou a ser usada para simular o corpo de Anic.
Relembre o caso
Reconstituição do caso Anic
Reprodução; Carlos Miranda/g1
A busca por Anic durou quase 7 meses. Inicialmente, acreditava-se que ela tinha sido sequestrada.
A advogada foi vista pela última vez em 29 de fevereiro, parando o carro em um shopping na Rua Teresa, em Petrópolis, e andando a pé pelo polo comercial. Nenhuma câmera flagrou Anic sendo rendida, mas o carro de Lourival foi visto na região e no mesmo horário.
Ainda no 29 de fevereiro, à noite, o marido de Anic, Benjamin Cordeiro Herdy, recebeu no celular uma mensagem enviada do número dela comunicando do sequestro. Mas, nessa hora, Anic provavelmente já estava morta.
A pessoa que escrevia a Benjamin exigiu um resgate de R$ 4,6 milhões e mandou que todas as tratativas até a soltura fossem conduzidas por Lourival. O homem era um faz-tudo dos Herdy e virou amante de Anic.
Para os investigadores, o “sequestrador” era Lourival o tempo todo. Entre transferências, compras de bitcoins e saques em dólar, Benjamin pagou R$ 4,6 milhões aos “sequestradores”, na esperança de rever a esposa. A soltura seria no dia 11 de março, mas Anic não apareceria.
O esquema só foi descoberto graças à filha de Anic, Lara, que desconfiou da atitude de Benjamin diante de Lourival, e procurou a polícia em 14 de março.
A defesa de Lourival afirma que Benjamin foi o mandante do crime. Os advogados que representam Benjamin negam as acusações.
A família de Anic divulgou o seguinte texto, assinado pelo advogado João Vitor dos Santos Ramos:
“Em relação à reprodução simulada realizada no dia 23 de outubro de 2024, quem acompanhou a diligência teve a oportunidade de testemunhar mais um lamentável episódio de espetacularização do caso.
Conforme amplamente noticiado, a diligência tinha como objetivo reproduzir a mais recente versão inventada por Lourival. Sem entrar no mérito da excentricidade da iniciativa dessa reprodução, que foi determinada pelo juízo, sem oposição do Ministério Público, após meses de investigação e a partir do requerimento convenientemente formulado por Lourival após novamente modificar a sua versão, Lourival apenas comprovou, na prática, seguir mentindo.
Embora as inconsistências da última narrativa de Lourival sejam evidentes, o excelente trabalho realizado pela Polícia Civil do estado do Rio de Janeiro mais uma vez não teve dificuldade em elucidar, agora no contexto da reprodução simulada, que o medíocre discurso ensaiado por Lourival não tem o mínimo indício de veracidade.
Por esse motivo, não é correto falar em conflito ou guerra de versões entre Lourival e Benjamim, principalmente porque Benjamim é vítima e os fatos imputados a Lourival, Rebecca, Maria Luiza e Henrique decorrem de criteriosa apuração realizada pela Policia Civil e constam de denúncia oferecida pelo Ministério Público, de modo que, se é possível falar em conflito de versões, esse conflito existe internamente e tão somente entre as inúmeras versões contadas por Lourival – pessoa que por anos se apresentou falsamente como policial federal, conforme atestado por diversas testemunhas.
Nesse contexto de sucessivas alterações nas versões de Lourival, o resultado da reprodução simulada, que será externado de maneira técnica pelos peritos, será somado ao vasto acervo probatório dos autos e corroborará a extorsão mediante sequestro e com resultado morte, além da grave ocultação de cadáver, perpetrada pela organização criminosa familiar formada por Lourival, Rebecca, Maria Luiza e Henrique.
Assim, a família de Anic segue acreditando no avanço das investigações, sobretudo em relação à localização e à recuperação dos 950 celulares, cuja aquisição e remessa foi negociada por Maria Luiza, assim como em relação aos dólares e demais valores ainda não recuperados e que estavam sendo manejados por Henrique, quando ambos estavam em liberdade – que na última semana fora restabelecida, em franco prejuízo das iniciativas de recuperação dos produtos e dos proveitos do crime”.
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