AO REDOR DE RODARTE

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O goleador  vascaíno Saulzinho (Saul Santos) – principal artilheiro do Campeonato Carioca-1962 –  achava o meia Nílton Rodarte, do Olaria, um belo jogador. Principalmente, pelas atuações dele em duas vitórias sobre a Turma da Colina, ambos em 1962. De tanto elogiá-lo, um dia, o “Almirante foi buscá-lo, mas, esquisitamente, só o escalou durante parte do amistoso  Vasco da Gama x Gotyacaz, um daqueles caça-níqueis em que o treinador troca mais da metade do time durante a virada do primeiro  para o segundo tempo.

O gaúcho Saulzinho nunca reclamou dos seus meias-lançadores, o pernambucano Vevé e o baiano Viladônega, mas a torcida vascaína achava que ele podia marcar muito mais gols jogando do lado de armadores mais espertos, fato sacado pelo Almira que negociou o pernambucano Vevé, com o Bahia, e o baiano Viladônega, com o Atlético-MG.  Quanto ao Rodarte, quem era aquele cara?  

Cidadão paulistano, nascido no 16 de janeiro de 1939, Nílton Rodarte rolava a bola no futebol de salão do Palmeiras,  em 1952, quando lhe propuseram passar  para o gramado e o time juvenil. Foi subindo na base e, um dia, lhe chamaram pra substituir o contundido Mazzola (José  João Altafini) durante treino da Seleção Brasileira que se preparava para a Copa do Mundo-1958.  Foram 45 minutos trocando passes com Garrincha, Pelé e Canhoteiro, entre outros cobrões, experiência que valeu-lhe chance no time principal do Palmeiras que enfrentou o Fluminense, amistosamente  (0 x 0, em 29.03.1959). Deve ter rolado uma bola legal e sido visto por algum cartola do argentino Huracan, que encantou-se com o seu futebol e o levou. Em hora errada, pois o clube estava trocando de diretoria e os que entraram preferiram valorizar os atletas da terra, como os craques Nestor Rossi e Menéndez, e dispensar os estrangeiros.

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Foto: Reprodução

Desempregado, Rodarte foi tentar a vida no Rio de Janeiro, onde América, Flamengo e Fluminense não lhe deram atenção. Sorte a do Olaria, que descobriu nele um grande meia, capaz de deixar o seu goleador Jaburu (Jorge de Souza Mattos) muito na cara do gol. Resultado: ele e Jaburu foram parar na Seleção Brasileira do Torneio Pré-Olímpico-1960, no Peru. Entrou contra o anfitrião – 30.04.1960, no Estádio Nacional José Diaz, em Lima, por esta formação: Carlos Alberto (Port de Desp-SP); Nonô (Flu), Jurandir (Marília-SP), Gil (Palm) e Maurício (Olaria); Maranhão (Vsc) e Rodarte (Olaria); Wanderley (Vsc), China (Bota), Bruno (Bota) e Waldyr (Palm), comandados pelo treinador Francisco de Souza Ferreira, o Gradim.

 Em 1962, temporada em que Saulzinho foi o principal artilheiro do Campeonato Carioca, com 18 gols, para ele, o Vaco da Gama perdeu a chance de disputar o título com duas derrotas para o Olaria – 0 x 1, em 15 de j ulho de 1962, na Rua Bariri – “com Rodarte e Cané infernizando a nossa zaga” – e 1 x 3, em 14 de outubro de 1962, em São Januário – “com o Rodarte armando e o Jaburu encapaçando” (os três tentos), contou a este colunista – Ernâni; Murilo, Sérgio ou  Navarro, Haroldo e Casimiro; Nélson e Valdemar; Valter, Cané, Rodarte e Romeu era o time bariri dirigido por Jorge Vieira.

Por ali, circularam notícia de que ele interessava a Napoli, Sampdoria e Roma, mas o governo italiano atrapalhou o negócio, considerando que a fuga de dinheiro do país poderia afundar a Itália em crise financeira. Sem futebol italiano, Rodarte voltou aos gramados paulista e, entre 1963/1964, defendeu o Juventus. Em 1965, esteve no São Paulo e no XV de Novembro de Piracicaba. Pelo “Nhô Quim” (apelido do alvinegro piracicabano) fez, talvez, a sua maior partida, em 25 de agosto de  1965. Sem Pelé, em Santos 0 x 0 XV de Piracicaba, na Vila Belmiro, ele aconteceu. Infernizou a defesa santista e só não bateu na rede porque o goleiro Gilmar deveria “ter usado chuteira com bico maior e não cortado as unhas”. No dia seguinte, um jornal publicou a manchete:    

 “Na ausência de Pelé, Rodarte comandou o show” – Sílvio; Virgílio, Percuma e Dorival; Chiquinho e Proti; Nondas, Rodarte, Verner, Emílio e Sabino foi o time piracicabano, enquanto o anfitrião alinhou: Gilmar: Carlos Alberto Torres, Mauro Ramos, Orlando Peçanha e Geraldino; Lima e Salomão; Dorval, Coutinho, Toninho Guerreiro e Pepe, que jogaram para 4.604 pagantes que não sentiram saudade do “Rei do Futebol” naquela partida.

A grande atuação encaminhou Rodarte para a Francana e o Comercial de Ribeirão Preto que, em 1966, foi o campeão do interior e terminou Paulistão em quarto lugar. Por sinal, ele chegou a ser técnico interino da equipe. De 1967 a 1971, encerrou a carreira pelo ?Alianza, de El Salvador, time que treinou, também. Ao voltar ao Brasil, torou-se corretor de imóveis,em Ribeirão Preto. As últimas notícias sobre ele dizem que ainda vive, aos 88 de idade.

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