Alerta na imprensa. Berço do homem-bomba de Brasília enviará novos mensageiros

(Imagem: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)

Ainda existem muitos esperando a sua vez de agir no berço do bolsonarismo raiz, onde foi gerado o homem-bomba de Brasília (DF), o chaveiro Francisco Wanderley Luiz, 59 anos, o Tio França, que na quarta-feira (13) atacou com bombas caseiras a estátua da Justiça e o prédio do Supremo Tribunal Federal (STF), na Praça dos Três Poderes. Ao ver que estava cercado pelos seguranças do STF, ele simplesmente acendeu o pavio de uma bomba, deitou-se no chão, colocou o artefato debaixo da sua cabeça como se fosse um travesseiro e esperou que explodisse. Quem foi o homem-bomba de Brasília? Em 2020, foi candidato, pelo PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, 69 anos, a vereador em Rio do Sul, município industrial de 72 mil habitantes na Serra do Mirador, interior de Santa Catarina. Fez apenas 98 votos, insuficientes para se eleger. Radicalizou-se contra o STF durante o governo Bolsonaro (2019 a 2022). E, segundo sua ex-mulher Daiana Farias, decidiu que ia matar o ministro do STF Alexandre de Moraes, 55 anos, depois da tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, quando bolsonaristas quebraram tudo que encontraram pela frente no Palácio do Planalto, no Congresso e no STF. O ex-presidente Bolsonaro publicou uma longa nota sobre o episódio, dizendo que se tratou de um fato isolado de uma pessoa com perturbações mentais. As investigações sobre o caso estão sendo feitas pela Polícia Civil de Brasília e pela Polícia Federal.

Há um detalhe já consolidado nesta história sobre o qual vamos conversar: a origem do berço dos bolsonaristas raiz. Em 1973, Bolsonaro iniciou a sua carreira no Exército, sendo aprovado na Academia Militar de Agulhas Negras (Aman), em Resende (RJ). Em 1983, ele publicou na revista Veja um artigo com o título “O salário está baixo”, no qual cobrava uma melhora nos soldos pagos para a tropa. Pela publicação do artigo, ficou preso durante 15 dias. No ano seguinte, voltou às páginas da Veja. Uma matéria informava que ele e o colega Fábio Passos tinham espalhado bombas em lugares estratégicos para pressionar pelo aumento dos salários. Toda a carreira militar do ex-presidente é contada no livro O Cadete e o Capitão: A vida de Jair Bolsonaro no Quartel, publicado em 2019 pelo jornalista Luiz Maklouf Carvalho. Li o livro, é uma boa e explicativa leitura. Em consequência dessa história dos salários, Bolsonaro saiu do Exército e, em 1989, se elegeu vereador na cidade do Rio de Janeiro. A sua plataforma inicial era a defesa das famílias dos militares. Em 1985, havia acabado a ditadura militar que governou o país desde o golpe de estado de 1964. Bolsonaro então adicionou ao seu discurso o saudosismo do golpe de 64. E a defesa dos torturadores da ditadura, como o coronel gaúcho Carlos Alberto Brilhante Ustra (1932 a 2015), que usava o codinome Tibiriçá e se notabilizou por maltratar prisioneiras grávidas. Posicionou-se publicamente contra as minorias, em especial as mulheres. Fez isso durante mais de três décadas, quando ocupou o cargo de vereador e depois de deputado federal (1991 a 2019). Nesta época, sempre que se julgava esquecido pela imprensa, chamava os repórteres e proferia absurdos que frequentemente o colocavam na capa dos jornais. Não há registro de que, como deputado, tenha apresentado um projeto significativo. Em 2018, graças a um somatório de fatores, incluindo o atentado que sofreu ao ser esfaqueado, durante a campanha, por Adélio Bispo, acabou sendo eleito presidente da República. Aqui acontece um divisor de águas na vida do ex-presidente. Trata-se do seguinte. Enquanto era parlamentar, o seu discurso de ódio atingia um público que se limitava aos seus eleitores no Rio. Por ter se tornado presidente, esse discurso, enriquecido com ataques às instituições, como o STF, virou manchete dos noticiários. Além de servir como uma luva na mão dos seus apoiadores, muitos dos quais não tinham uma bandeira política para defender. Agora, eles tinham. No seu governo, consolidou-se o movimento bolsonarista, com seguidores nos quatro cantos do Brasil. O discurso de ódio passou a ser manejado por uma poderosa máquina de fake news. Quando concorreu à reeleição e perdeu para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 79 anos, os seus seguidores acamparam na frente dos quartéis do Exército, onde foram registradas cenas incríveis, como os manifestantes tentando se comunicar com extraterrestres, entre outros absurdos. Depois de realizarem vários atentados em Brasília, como a tentativa de explodir um caminhão carregado com 60 mil litros de gasolina de avião no Aeroporto Internacional da Capital Federal, a situação chegou ao auge em 8 de janeiro de 2023, com o quebra-quebra na Praça dos Três Poderes, que resultou em 1,5 mil pessoas presas.

Um ano e nove meses depois do 8 de janeiro de 2023, o STF condenou 257 pessoas e validou o acordo de 476 acusados. Quatro foram considerados inocentes e o restante está sendo julgado pela corte. No campo político, os deputados bolsonaristas, entre eles Ana Caroline Campagnolo (PL-SC), 33 anos, estão trabalhando em um projeto de anistia para os presos e condenados pelo 8 de janeiro. O ataque do homem-bomba em Brasília estragou os planos dos bolsonaristas. Vão ter que esperar o assunto esfriar para voltar a insistir com a anistia. Fiz dois posts sobre o assunto: PL da anistia aos golpistas não conseguirá apagar as imagens de 8 de janeiro, publicado em 1º de novembro. E, seis dias depois, Se Trump soltar os invasores do Capitólio o Brasil anistiará os golpistas de 8 de janeiro? Além prejudicar o andamento da anistia, o homem-bomba também interrompeu os festejos dos bolsonaristas pela vitória do presidente eleito dos Estados Unidos Donald Trump (republicano), 78 anos. Bolsonaro está com dois problemas urgentes que precisa resolver. O primeiro é a sua inelegibilidade, sentenciada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até 2030. E o segundo é se afastar dos bolsonaristas raiz para voltar a flertar com os indecisos, que são os quem elegem.

Durante o seu governo ele já tentou este afastamento e não conseguiu. Em 15 de julho de 2022 publiquei o post Pregadores da intolerância política vão dizer que seguiam ordens no caso de Foz? Na ocasião, em Foz do Iguaçu, oeste do Paraná, o bolsonarista raiz Jorge José da Rocha Guaranhos, agente penitenciário federal, invadiu a festa de aniversário do guarda municipal e tesoureiro do PT municipal Marcelo Alizo de Arruda, 50 anos, e o matou a tiros. O então presidente Bolsonaro, que concorria à reeleição, tentou tirar o corpo fora. Por outro lado, se conseguir se afastar dos bolsonaristas raiz poderá atirar o grupo no colo de um dos seus adversários políticos, o ex-coach Pablo Marçal (PRTB), 33 anos, terceiro lugar nas eleições municipais da cidade de São Paulo. Ele pretende ocupar o lugar de Bolsonaro e concorrer a presidente em 2026. Há outro fato. O ídolo de Bolsonaro, Trump, está colocando em postos-chave os seus seguidores raiz. Que influência terá esta decisão na estratégia do ex-presidente brasileiro, que é exatamente o contrário?

Texto publicado originalmente em Histórias Mal Contadas.

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Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social — habilitação em Jornalismo, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul — Ufrgs. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora (RS, Brasil) de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

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