Brasil não aderir à Nova Rota da Seda da China é decisão acertada, diz ex-secretário

DOUGLAS GAVRAS
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O governo do presidente Lula (PT) assinou 37 atos com a China, incluindo cooperação em infraestrutura e indústria, como o Novo PAC, sem adesão formal à Nova Rota da Seda.

Para o consultor e ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil Welber Barral, não aderir é uma decisão acertada, já que não traria vantagens concretas ao país.

A visita de Xi Jinping nesta quarta-feira (20) incluiu reuniões e uma declaração conjunta no Palácio da Alvorada, seguida de um jantar no Itamaraty.

Segundo o Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária), o Brasil abriu mercados na China para uvas frescas, gergelim, sorgo e produtos de peixe como farinha e óleo.

O encontro entre os dois mandatários se dá em um momento de apreensão quanto aos novos rumos do comércio internacional a partir do ano que vem, com a volta de Donald Trump à Casa Branca.

É que uma das principais bandeiras do republicano em sua campanha foi justamente o que parece ser uma nova etapa da guerra comercial, com a taxação de produtos importados chineses em ao menos 60%.

A decisão de não aderir à chamada Nova Rota da Seda, para Barral, se deu por uma avaliação de que o acordo não seria vantajoso para o país.

“A avaliação dos diplomatas brasileiros foi a de que não havia uma vantagem efetiva para que o Brasil entrasse nesse acordo. Mas alguns acordos, principalmente para acesso de mais frigoríficos brasileiros, são importantes”, destaca o consultor.

“O Brasil já recebe investimento chinês, tem um comércio grande com a China e não seria a Nova Rota da Seda a diferenciar isso. Eu concordo, o Brasil tem uma tarefa de diversificar exportações para a China, o que depende de nós.”

O “Belt and Road Initiative”, lançado em 2013 pela China, é um projeto de infraestrutura que inclui rodovias, ferrovias, portos e investimentos em energia.

No encontro com o colega chinês, Lula falou em “sinergias entre as estratégias brasileiras de desenvolvimento, como a NIB (Nova Indústria Brasil), o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), o Programa Rotas da Integração Sul-Americana, e o Plano de Transformação Ecológica, e a Iniciativa Cinturão e Rota”.

Sobre um eventual estreitamento dos laços entre Brasil e China, a partir do início do novo governo Trump nos Estados Unidos, Barral lembra que o comércio do Brasil com os dois países tem uma dinâmica diferente, e que há riscos e vantagens esperados.

Como o Brasil tem um leque de exportação mais sofisticado para os Estados Unidos, principalmente de partes e peças, e concorre com os norte-americanos em diferentes mercados de commodities agrícolas do mundo inteiro, avalia.

“Eventualmente e ironicamente, se os Estados Unidos adotarem medidas contra a China e a China retaliar, isso pode acabar abrindo mais mercado para produtos brasileiros, como aconteceu com a soja no outro governo Trump”, diz o consultor.

O país asiático é o maior parceiro comercial do Brasil e, a corrente de comércio entre os dois países (ou seja, a soma entre importações e exportações) era de US$ 9,1 bilhões em 2004.

De janeiro a outubro deste ano, o volume já estava em US$ 136,3 bilhões, de acordo com o Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços).

Nos dez primeiros meses deste ano, as exportações brasileiras para a China foram de US$ 83,4 bilhões (29,4% do total). As vendas ao segundo colocado, os Estados Unidos, ficaram em US$ 32,9 bilhões.

Na pauta de produtos vendidos aos chineses têm destaque a soja (14%), os óleos brutos de petróleo (13%) e o minério de ferro (8,9%).

“A China é o maior parceiro comercial do Brasil desde 2009. O superávit com a China é responsável por mais da metade do saldo comercial global brasileiro”, destacou o presidente Lula em seu discurso na cerimônia de assinatura dos acordos.

No sentido inverso, as compras de produtos chineses pelo Brasil somaram US$ 52,9 bilhões no mesmo período (24% do total).

Os produtos adquiridos vão desde óleos combustíveis de petróleo (6%), adubos e fertilizantes (5,1%) e demais produtos da indústria de transformação (4,5%).

“Vamos aprofundar a cooperação em áreas prioritárias como economia, comércio, finanças, ciência e tecnologia, infraestrutura e proteção ambiental. E reforçar a cooperação em áreas emergentes como transição energética, economia digital, inteligência artificial e mineração verde”, afirmou o líder chinês, em declaração à imprensa.

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