Delegado compara prisão no caso Marielle a assassinato e diz ter gratidão à vereadora

ITALO NOGUEIRA
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)

O delegado Rivaldo Barbosa comparou a um assassinato a prisão a que está submetido sob acusação de envolvimento na morte da vereadora Marielle Franco (PSOL).

Nesta quinta-feira (24), sete meses após sua prisão, ele afirmou não temer a verdade e declarou ter gratidão pela vereadora, que disse ter conhecido em 2012.

“No dia 24 de março de 2024 eu fui assassinado. Me colocaram dentro de uma viatura, me colocaram dentro de avião, me trouxeram para um presídio federal e me enterraram. Não posso sair daqui do jeito que está. Se for ficar 50, 100 anos, só me interessa sair daqui se a verdade vier”, disse ele em interrogatório ao STF (Supremo Tribunal Federal).

Rivaldo Barbosa é acusado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) de ter auxiliado no planejamento do homicídio de Marielle. Ele era, à época, chefe da Polícia Civil. A denúncia aponta os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão como mandantes do crime -os irmãos negam.

Os três foram envolvidos com base na delação premiada do ex-PM Ronnie Lessa, réu confesso pela execução do assassinato. Como a Folha de S.Paulo mostrou, trechos centrais do relato do colaborador não contaram com provas de corroboração.

Rivaldo disse não conhecer os Brazão. Ele afirmou que Lessa o incluiu na delação para fazer a ligação política dos irmãos com a condução do inquérito na Divisão de Homicídio. Assim como Domingos e Chiquinho, o ex-chefe de Polícia Civil afirmou que Lessa tenta proteger o ex-vereador Cristiano Girão, preso após a CPI das Milícias.

“Não dá para negar aqui que o Ronnie Lessa é uma pessoa sagaz, inteligente e articulada. Tenho convicção que ele criou uma história para proteger o Cristiano Girão. Se eu estou na chefia da DH, precisaria de seis meses para chegar no Cristiano Girão”, disse Rivaldo.

Ele classificou a investigação da Polícia Federal como uma soma de falta de experiência em apuração de homicídio e falta de humildade.

“Foi uma investigação imprudente, gerando uma das maiores injustiças depois da redemocratização do Brasil”, disse ele.

“A verdade não me assusta. Ela está comigo. Eu durmo e acordo todas as noites. Não oro a Deus pedindo liberdade. Peço verdade e liberdade. Eu não posso sair daqui sem que a verdade venha. Minha liberdade tem que vir em razão das verdades. Só saio daqui com a verdade antes”, disse.

Rivaldo afirmou que conheceu Marielle em 2012, por meio do gabinete do ex-deputado Marcelo Freixo, de quem ela foi assessora. Disse que ela fazia a ponte com vítimas de violência atendidas pelo gabinete.

“Ela só me ajudou na minha vida. Rivaldo só chegou onde chegou também por ser Marielle que ajudou.

Não posso matar uma pessoa dessa. Não mato nem uma formiga.”

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