Com dívida milionária, cursinho do DF fecha às vésperas de vestibular

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Por Camila Coimbra
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O Curso Exatas, uma das instituições de ensino mais conhecidas em Brasília, anunciou no domingo (20), por meio de mensagens em grupo de aplicativo, a suspensão das aulas nas unidades da Asa Norte e de Taguatinga, na reta final das provas do Enem e vestibular da UNB.

No aviso feito pela coordenação do curso preparatório, foi informado que as aulas foram suspensas devido à falta de pagamento de professores e funcionários. “Apesar de inúmeros esforços e tentativas de diálogo com a equipe gestora responsável, não houve manifestação por parte dela para regularizar a situação.”

“Os salários permanecem em atraso por um período que compromete a subsistência pessoal e familiar de nossos professores e colaboradores. Não há mais condições de manter esse sacrifício. Sabemos que esta decisão impacta profundamente a rotina e os planos de alunos, pais e responsáveis, e nos solidarizamos com todos vocês”, afirmou a coordenação em carta.

Professores, alunos e pais foram surpreendidos pela decisão. Em entrevista ao Jornal de Brasília, o professor Matheus Braga, que leciona na instituição há uma década, relatou as dificuldades enfrentadas pelos docentes desde 2019, culminando no agravamento da situação em 2023.

Segundo Matheus Braga, em outubro de 2023, a instituição já não conseguia mais pagar seus funcionários. “Ficamos sem pagamento até o final do ano, e em fevereiro deste ano formamos uma comissão de professores para tentar gerenciar as contas”, contou. A comissão foi responsável por avaliar o rombo financeiro e as dívidas acumuladas. Embora tenham conseguido manter as atividades, o salário dos professores foi reduzido e as dívidas de 2022 começaram a ser parceladas.

Entretanto, o que já estava ruim, piorou. O professor revela que, ainda no final de 2022, mais de R$ 2 mil foram retirados do caixa da instituição, valor que seria destinado ao pagamento dos funcionários até o final de 2023. “Esse montante foi usado para financiar outras despesas e ficamos sem essa quantia essencial”, explicou.

Desde 2019, a escola enfrenta sérios problemas financeiros. De acordo com o relato, um erro de gestão, relacionado à compra de um prédio, deixou a instituição sem caixa, resultando no atraso dos salários dos professores. “Na época, vários colegas saíram, mas eu permaneci. O problema dessa dívida de 2019 só foi resolvido no ano passado, mas logo em seguida já surgiram novas dívidas”, desabafou.

Além dos problemas com pagamentos, pais de alunos começaram a questionar a situação financeira do curso, já que muitos haviam pago as mensalidades adiantadas. No entanto, segundo Matheus, o proprietário do curso alegava que a escola já não era de sua responsabilidade e que estava sob a administração de Renato Landim, que, posteriormente, foi descoberto pelos professores como sendo apenas um laranja utilizado para abrir um CNPJ em nome de outra pessoa. “Nós só conhecemos o Renato no início deste ano, quando fomos atrás dele para tentar resolver a situação. Até então, nem sabíamos quem ele era”, revelou.

A prática de colocar o nome de outras pessoas como responsáveis pelas empresas parece ser uma constante nas ações do proprietário, o que, segundo Matheus, dificulta qualquer ação judicial. “O dono abriu várias empresas no nome de terceiros para evitar que as dívidas fossem associadas a ele. É isso que está acontecendo agora com a unidade do Gama”, denunciou o professor.

O professor também ressaltou que há inúmeros processos na Justiça movidos por docentes que saíram da instituição em 2019 e que até hoje não receberam seus pagamentos. “O maior desafio dos advogados é associar o verdadeiro dono às empresas, já que nada está no nome dele”, lamentou.

Com o fechamento da unidade e sem perspectivas de pagamento, os professores estão organizando uma ação coletiva na Justiça para tentar reaver os valores devidos. “Há colegas com dívidas que chegam a mais de R$ 500 mil, e até agora a Justiça não conseguiu localizar nenhum bem no nome do verdadeiro dono”, concluiu.

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