A psicologia e o fanatismo ideológico

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Confesso que estou me cansando de discutir o impacto do fanatismo ideológico no campo da psicologia, um processo que parece corroer a ciência, como um câncer silencioso. O que me exaure é a baixa qualidade desse tipo de fanatismo. Já notaram que os fanáticos nunca se envolvem em debates verdadeiros? Eles partem diretamente para a agressão ou tentam desqualificar seus oponentes sem qualquer argumento válido, sempre retornando ao mesmo discurso repetitivo e vazio.

Quanto mais complexas e difíceis as perguntas se tornam, mais cresce a ansiedade de um fanático ideológico por dar respostas simples, com uma única sentença, que apontam, sem hesitação, os culpados por todos os nossos sofrimentos e nos asseguram de que, uma vez que eliminemos os ‘malvados’, todos os nossos problemas imediatamente terminarão.

Recentemente, ouvi um desses fanáticos atribuindo as queimadas ao agronegócio. Sério? É de conhecimento comum que incêndios causam enormes prejuízos ao setor, como no caso da cana-de-açúcar. Hoje, a palha restante da colheita é reutilizada, enriquecendo o solo e mantendo a umidade. Claro, há quem ainda utilize queimadas por ignorância, mas são exceções, incapazes de causar os grandes incêndios que presenciamos, algumas até criminosas, como tivemos recentemente. Inclusive, é bom lembrar que para conseguir, atualmente, empréstimo nos bancos públicos o agro precisa apresentar boas práticas.

Mas para o fanático ideológico, a solução é sempre destruir o “vilão” de plantão. Eles pregam a volta à agricultura familiar do século passado, como se fosse possível apagar tudo e começar do zero. Para eles, é simples: eliminar quem pensa diferente e garantir que todos sigam suas regras para evitar “contaminação”.

Esse comportamento me lembra a Síndrome de Jerusalém, pois saem profetizando suas verdades e em alguns casos encantando e aglomerando discípulos. Para quem nunca ouviu falar sobre essa síndrome, trata-se de um grupo de fenômenos mentais envolvendo a presença de ideias obsessivas de temática religiosa, delírios ou outras experiências de cunho psicótico que são desencadeados durante visitas à cidade de Jerusalém. Não é endêmica de uma única religião, mas afeta judeus e cristãos de variadas formações socioculturais, e ilustra bem como ideologias fanáticas podem se assemelhar a obsessões religiosas.

Fanáticos ideológicos, especialmente no campo da psicologia, deveriam entender que o mundo é multifacetado, e nem tudo pode ser definido em termos absolutos. Infelizmente, a cada dia surgem novos tipos de fanáticos, cada um com sua causa: anti-tabagistas que demonizam os fumantes, defensores do meio ambiente que querem banir plásticos, vegetarianos que atacam carnívoros. Eles aumentam o tom de voz e esperam que o volume seja suficiente para convencê-los de que estão certos.

É claro que nem todo protesto apaixonado é fanatismo, da mesma forma que nem todo protesto colérico contra alguma injustiça. Mas, como bem apontou o escritor Amós Oz, o fanatismo se manifesta em uma rigidez dogmática, em uma recusa ao diálogo e na hostilidade com quem ousa discordar. Eu mesmo já fui alvo de ataques simplesmente por escrever alguns temas aqui nesse espaço. Esses fanáticos ignoram o valor do debate, pois acreditam que já possuem a única verdade. Blindados em suas próprias crenças, isolam-se do mundo e fortalecem sua intolerância à diferença, ironicamente, em nome de uma suposta igualdade – desde que todos sejam iguais a eles.

Muitos desses fanáticos se ancoram em autores como Shakespeare, Dostoiévski e Chanoch Levin, citando a repulsa presente em suas obras. Mas o que eles não percebem, por pura ignorância, é que esses sentimentos são sempre acompanhados por nuances como compreensão, compaixão e até humor. O fanático, no entanto, prefere sentir a pensar.

Todos nós já cruzamos com um fanático ideológico. Se ainda tiver dúvidas sobre como identificá-los, a definição de Winston Churchill é precisa: “Um fanático é alguém que nunca muda de opinião e nunca permite que o assunto mude.”

Até a próxima!

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