Kamala escolhe Washington, palco do 6 de Janeiro, para fazer apelo final a eleitor

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FERNANDA PERRIN
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS)

A democrata Kamala Harris deve fazer seu discurso final de campanha à Presidência dos EUA na próxima terça (29), a uma semana da eleição, no mesmo lugar em que Donald Trump negou ter sido derrotado e incitou seus apoiadores a marcharem ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021.

O comício deve ocorrer na Elipse, uma área ao sul da Casa Branca, em Washington. A programação ainda não foi confirmada oficialmente pela campanha.

A escolha simbólica busca ressaltar o principal ataque de democratas ao adversário nesta reta final: Trump é uma ameaça à democracia americana. Kamala deve relembrar a invasão ao Congresso por apoiadores do ex-presidente, na tentativa de impedir a confirmação da vitória de Joe Biden.

A estratégia de democratas é ganhar eleitores indecisos e republicanos avessos a Trump, na esperança de eles fazerem diferença em uma eleição projetada para ser a mais acirrada da história dos EUA.

Vieram a calhar para a campanha as entrevistas nesta semana de John Kelly, o mais duradouro chefe de gabinete do empresário. General reformado, Kelly disse que o republicano é fascista e que dizia, quando presidente, querer ter generais como os do ditador nazista Adolf Hitler. Trump afirma que o ex-aliado, a quem chamou de degenerado em um post nas redes sociais, está mentindo.

As declarações foram exploradas por Kamala durante um evento com eleitores promovido pela CNN na noite de quarta (23). A vice-presidente disse concordar com a classificação de Trump como um fascista, afirmando que ele é instável e inapto para o cargo.

“Ele vai ficar lá, instável e desequilibrado, tramando sua vingança, tramando sua retaliação, criando uma lista de inimigos”, disse a democrata sobre um cenário de retorno do adversário à Casa Branca. Kamala também afirmou que os perigos seriam ainda maiores agora porque não haveria pessoas como Kelly no governo para frear os piores impulsos do chefe.

O foco nos riscos à democracia de uma eventual vitória de Trump é uma mudança na campanha de Kamala. Ao substituir Biden, ela tirou a ênfase dada pelo presidente ao tema para, em vez disso, ridicularizá-lo e tentar apequená-lo.

No entanto, a recuperação do republicano nas pesquisas de intenção de voto nas últimas semanas colocou democratas em alerta. Na última semana, Kamala fez campanha em Wisconsin, Pensilvânia e Michigan, todos estados-pêndulo, ao lado da republicana Liz Cheney, filha de Dick Cheney, vice-presidente sob George W. Bush.

Democratas também estão veiculando propagandas eleitorais com falas de ex-integrantes do governo Trump críticas ao republicano, como seu vice-presidente, Mike Pence, o secretário de Defesa, Mike Esper, e o conselheiro de segurança nacional, John Bolton.

A campanha do empresário, porém, coloca em dúvida a linha de ataque de Kamala. Segundo o Semafor, um assessor do candidato disse, sob condição de anonimato, que a guinada dos democratas nessa direção mostra que Kamala teria desistido dos temas que mais pesam para a escolha dos eleitores, como imigração, impostos e inflação.

Dois dias antes do discurso previsto de Kamala em Washington, Trump fará um comício no Madison Square Garden, em Nova York. O estado não está em disputa (é certo que vai votar nos democratas), e a escolha mira, na verdade, atrair a cobertura da imprensa e dominar o noticiário na reta final da eleição.

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