Qual é o espaço da vida no trabalho contemporâneo?

A repercussão da PEC sobre o fim da escala 6×1 traz a oportunidade para pensarmos o trabalho e o trabalhador no contexto cultural e econômico do século XXI, de avanço das tecnologias. 

O conceito de trabalho varia conforme a cultura, a história e as ideologias. Há séculos, o termo se referia à atividade física para a garantia do próprio sustento. Não era valorizado, o que não significava desimportância. 

Atribui-se a origem do termo ao latim tripalium, instrumento usado na lavoura. Depois, passou a nomear uma ferramenta de prática da tortura. Tradicionalmente, o trabalho é relacionado à dor, algo exercido por servos e escravos. 

Aí vieram a Renascença, o Protestantismo e o Iluminismo. Jamais seríamos os mesmos. O trabalho passaria a ser interpretado como oportunidade para aprimorarmos o ofício a que nos propomos. Seria um meio de transformar o ambiente em que vivemos, dizia Georges Friedmann. 

O Protestantismo legitimou o trabalho como exercício divino que permite o enriquecimento pessoal. O trabalho como virtude, não como desprestígio. O trabalho “dignifica o homem”, conforme palavras de Benjamin Franklin. 

Existe uma pressão social por uma interpretação específica de sucesso. Nessa visão, nós somos autores e, praticamente, agentes únicos do que nos tornamos. O Estado de bem-estar social foi sendo minado a partir dos anos 1970 e 80. As empresas também se comprometem menos com o desenvolvimento dos funcionários, que precisam ter tempo para buscar por si elementos de crescimento profissional.

Há um vídeo famoso na internet em que o ator Pedro Cardoso critica a desvalorização econômica do trabalho: a pessoa compra um apartamento de 1 milhão, mas não quer pagar R$ 5 mil ao pintor.

O trabalhador sozinho não consegue dignificar o trabalho. É preciso que haja uma cultura econômica nesse sentido, de fazer o orgulho surgir do próprio ofício. Mas, que a vida não se resuma ao trabalho. 

Bruno Lara, jornalista