Na quinta-feira (12), o Boeing-787 decolou lotado de Ahmedabad, na Índia, com destino ao Aeroporto de Gatwick, em Londres. Depois de menos de um minuto no ar, o avião caiu, deixando, ao que tudo indica, somente um sobrevivente: Ramesh.
“Por um momento, achei que também ia morrer. Mas, quando abri os olhos e percebi que estava vivo, tentei destravar o cinto e sair dali”, relembra o homem, ainda no hospital.
O jato subiu cerca de 200 metros e caiu, de nariz para cima, sobre um alojamento de uma faculdade de medicina. Com os tanques cheios, aconteceu uma tremenda explosão.
“Logo depois da decolagem tive a sensação de que o avião ficou parado no ar por uns dez segundos. As luzes da cabine acenderam. Parecia que ele tentava ganhar altitude, mas de repente veio o impacto”, conta Ramesh.
Até o momento, o número oficial de mortos é 279, no avião e em terra.
O acidente deu origem a duas grandes perguntas:
Por que o Boeing caiu?
E como uma pessoa se salvou, ilesa?
A queda
Hoje aposentado e vivendo no Canadá, o comandante Kieling tem 40 anos de experiência como piloto, instrutor e examinador – no Brasil e na China.
Ele levanta três pontos:
1. Por que, para decolar, o avião precisou percorrer a pista até o final, o que dá para perceber pela poeira levantada?
“Essa pista tem 3.599 metros. E metade dessa pista é suficiente para o 787 decolar. Ou para a maioria dos aviões comerciais”, analisa.
2. Por que o trem de pouso se manteve abaixado, se o normal é recolher logo que o avião sai do solo?
“Porque a aeronave teve uma ascensão positiva inicialmente. Era o momento para recolher o trem”, comenta.
Ascensão positiva significa que conseguiu decolar e estava subindo, o que leva ao terceiro ponto.
3. Qual a posição dos flapes?
Os flapes são partes móveis de trás das asas, fundamentais para aumentar a sustentação na decolagem.
“E como nós podemos aumentar a sustentação? Através da velocidade, aumentando a velocidade da aeronave, aumentando a área da asa ou aumentando a curvatura da asa do aerofólio”, afirma.
Para explicar o que aconteceu, uma hipótese seria de pane geral nos motores, assim que o avião decolou.
“Essa possibilidade de falha simultânea nos motores, sem nenhuma razão aparente, é muito difícil”, analisa Kieling.
Outra tese, muito cogitada entre os profissionais da área, é que, logo depois da decolagem, em vez de recolher o trem de pouso, os pilotos tenham recolhido os flapes.
“Eu vi isso em simulador mais de uma vez, durante estresse, durante tensão. O piloto errar”, lembra o especialista.
O sobrevivente
Em meio à tragédia, ainda inexplicada, se destacou o Ramesh, o passageiro que saiu ileso dos destroços em chamas.
“Não sei como consegui escapar. Depois uma ambulância me trouxe aqui para o hospital”, lembra Ramesh.
E então recomeça aquele antigo debate: qual o lugar mais seguro num avião? O comandante Kieling explica.
“Geralmente, o lugar mais seguro é a cauda. Até porque as chamas acabam comprometendo toda a estrutura da nave e a cauda acaba ficando”, afirma.
A análise do comandante é de maneira genérica, porque cada acidente é um acidente. O que torna tudo mais curioso, nesse caso, é o passageiro ter saído ileso estando sentado na poltrona 11A, perto das asas dos tanques de combustível.
E depois da felicidade de sobreviver, tem a questão psicológica. No desastre na Chapecoense, que matou 71 pessoas, por exemplo, um dos casos mais impressionantes é de Alan Ruschel, que voltou a jogar em alto nível.
“Acho que foi a intervenção divina ali, e Deus quis que eu ficasse aqui”, relembra o goleiro.
Antonio Vizintín, sobrevivente da tragédia dos Antes, na qual os passageiros passaram 72 dias perdidos na neve, em 1972, e chegaram até a se alimentar de carne de companheiros mortos, tem uma visão mais prática.
“Acho que é tudo acaso, uma questão de sorte. De a pessoa estar no assento adequado para se salvar. Não acho que tenha nada que ver com a parte mística ou católica”, afirma.
Na Índia, Ramesh se junta a esse grupo muito restrito de pessoas que escaparam de grandes desastres. Como o Ramesh sobreviveu, e o que exatamente se passou com o 787 da Air India, só o tempo – e as investigações – vão dizer.
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