SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O dólar abriu em leve queda na manhã desta segunda-feira (9) com os investidores avaliando o anúncio do ministro Fernando Haddad (Fazenda) de recuar das alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e sob a expectativa de um encontro entre Estados Unidos e China para debater a guerra comercial que os países travam.
Às 9h04, a moeda norte-americana caía 0,24%, cotada a R$ 5,5567. Na sexta-feira (6), o dólar encerrou com uma queda de 0,29%, a R$ 5,569, na contramão do avanço firme que a moeda apresentou no exterior.
É a menor cotação para a divisa americana desde 8 de outubro do ano passado, quando fechou em R$ 5,533. Na semana passada, o dólar acumulou uma queda de 2,63%, e no ano, já recuou 9,85%.
Já a Bolsa fechou praticamente estável, com uma queda de 0,09%, a 136.102 pontos, na contramão dos principais índices de Wall Street, que avançaram mais de 1%, refletindo o otimismo com o mercado de trabalho dos EUA.
No domingo (8), Haddad se reuniu com líderes de partidos e anunciou que chegou a um acordo para diminuir o alcance do decreto com mudanças no IOF e adotar novas medidas para compensar a perda de arrecadação.
As medidas anunciadas foram o aumento da taxação de apostas esportivas, mudança na tributação de instituições financeiras e a cobrança de Imposto de Renda de 5% sobre títulos atualmente isentos, como LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e LCAs (Letras de Crédito Agrícola). Segundo três parlamentares, Haddad também citou na reunião uma mudança na alíquota de JCP (Juros sobre Capital Próprio).
As medidas serão adotadas com a edição de uma MP (Medida Provisória). Haddad disse que vai discutir os detalhes desse plano com o presidente Lula (PT) na próxima terça-feira (10).
Na sexta, os investidores repercutiram o relatório de emprego dos Estados Unidos para maio, o “payroll”, com dados acima do esperado. O mercado afastou preocupações de uma iminente recessão nos EUA diante das incertezas das tarifas do presidente Donald Trump.
Começando pelo cenário internacional, o Departamento do Trabalho dos EUA informou na sexta que o país abriu 139 mil vagas em maio, após 147 mil em abril, enquanto a taxa de desemprego permaneceu em 4,2% pelo terceiro mês consecutivo. Economistas consultados pela Reuters previam criação de 130 mil postos.
Apesar de uma desaceleração em relação ao mês anterior, os dados vieram acima do esperado, acalmando as preocupações dos agentes financeiros sobre uma piora no cenário do mercado de trabalho americano diante das tarifas de Trump.
“O mercado de trabalho dos EUA está mostrando uma resiliência notável diante da incerteza em torno das tarifas do presidente Trump. A criação de empregos permanece bastante robusta e, mesmo após as consideráveis revisões para baixo dos dados de março e abril, não está exatamente em níveis que atuariam como um prelúdio para uma recessão”, afirmou Matthew Ryan, head de estratégia de mercado da Ebury.
Na perspectiva de Ryan, não há indicações claras de que as empresas estejam adiando as decisões de contratação ou orquestrando demissões generalizadas em razão das tarifas.
O dólar chegou a subir no Brasil após o payroll, que veio forte, mas à tarde veio abaixo em razão do cenário doméstico. Na máxima do dia, às 12h16, atingiu R$ 5,619, uma alta de 0,57%, acompanhando o exterior até então.
O resultado acima do esperado do relatório de empregos payroll deu força às apostas de que o BC americano não terá tanto espaço para cortar juros no curto prazo, o que fez o dólar ganhar força ante a maioria das demais divisas.
Ao fim do pregão, o índice DXY, que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas, subia 0,46%, a 99,19.
Operadores continuam a precificar dois cortes de 25 pontos-base pelo Fed neste ano, com o primeiro ocorrendo em setembro. A probabilidade do segundo corte caiu abaixo de 100%, mas ainda se mantém alta.
“Os salários estão subindo a um ritmo saudável, e no ritmo mensal mais rápido desde janeiro, o que deve complicar os esforços do Federal Reserve para atingir sua meta de inflação de 2% em breve”, disse Ryan.
Com ele concorda, Christian Iarussi, economista e sócio da The Hill Capital.
“Esses dados reforçaram a percepção de que a maior economia do mundo segue aquecida o que, por um lado, é positivo para o sentimento global, mas por outro sem dúvidas reduz as apostas em cortes mais agressivos de juros pelo Federal Reserve”, disse.
Nesta sexta-feira, Trump chegou a pedir ao Fed para que reduza a taxa de juros em um ponto percentual. Ele voltou a dizer que o presidente Jerome Powell tem sido muito lento em afrouxar a política monetária do banco central norte-americano.
“A Europa teve dez cortes de juros, nós não tivemos nenhum. Apesar dele [Powell], nosso país está indo muito bem”, disse Trump em publicação no Truth Social.
Outro aspecto tem contribuído para acalmar as preocupações dos mercados com a economia norte-americana: a retomada das negociações comerciais entre os EUA e a China.
Investidores comemoraram notícias que citam o presidente Donald Trump dizendo que três autoridades do seu gabinete se reunirão com representantes da China em Londres, nesta segunda-feira (9), para discutir um acordo comercial.
Na véspera, Trump e o líder chinês Xi Jinping se telefonaram, no que foi o primeiro contato formal entre os dois desde que o republicano assumiu a Casa Branca. Até então, a última conversa havia ocorrido em janeiro, antes da posse.
O telefonema partiu de Trump, segundo a agência estatal chinesa Xinhua. A repórteres no Salão Oval, o presidente afirmou que as discussões comerciais continuam em andamento e estão em boa forma, acrescentando que espera ir à China em algum momento em que Xi Jinping também visite os EUA.
Agora os investidores aguardam novidades sobre as negociações dos EUA com parceiros a fim de projetar qual será o panorama das tarifas de Trump daqui para frente.
No cenário nacional, os investidores temem que a recente queda na aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva possa levar o governo a adotar medidas que aumentem os gastos e gerem mais pressão sobre a dívida pública.
Pesquisas recentes têm indicado queda na popularidade do presidente. De acordo com o levantamento Genial/Quaest, a avaliação negativa do governo é de 43%, e a positiva, de 26%. Consideram a gestão regular 28%, e 3% não sabem ou não responderam.