Caso Gritzbach: novo inquérito apura se PMs da escolta, agentes corruptos e hacker também têm participação na morte de delator


MP pediu para Polícia Civil investigar se mais pessoas estão envolvidas na execução. DHPP já havia apontado seis suspeitos e agora investiga ao menos outros 25 nomes. Um novo inquérito policial apura se mais pessoas, além das seis já indiciadas, estão envolvidas no assassinato de Vinicius Gritzbach, empresário que delatou à Justiça criminosos do Primeiro Comando da Capital (PCC) e do Comando Vermelho (CV) e acusou policiais de corrupção.
A pedido do Ministério Público (MP), agora serão investigados policiais militares que faziam a escolta ilegal dele, policiais civis suspeitos de corrupção e até um hacker operador de bitcoins.
Aliás, foi na volta de uma viagem a Alagoas para cobrar uma dívida desse hacker, que era seu ex-sócio, que Gritzbach foi executado com tiros de fuzil ao desembarcar no aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo. A morte, ocorrida em novembro de 2024, foi registrada por câmeras de segurança (veja abaixo).
Vídeos mostram por diferentes ângulos execução de empresário no Aeroporto de Guarulhos
Passados seis meses, o caso Gritzbach, que enriqueceu lavando dinheiro de facções no mercado imobiliário, ajudou a comprovar a ligação de dezenas de policiais com o crime organizado.
Como o caso Gritzbach escancarou o envolvimento de 27 policiais de SP com o PCC e CV
Agora, de acordo com o MP de Guarulhos, pelo menos 25 pessoas são alvo dessa segunda frente aberta pelo Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil.
O primeiro inquérito, que levou ao indiciamento de seis pessoas pelo homicídio, incluindo os atiradores, já foi concluído.
Abaixo, veja quem são os novos investigados pela morte de Gritzbach:
15 policiais militares detidos que faziam “bico” como seguranças particulares de Gritzbach e podem ter afrouxado a escolta do empresário;
9 policiais civis que estão presos e o empresário acusou de extorquir R$ 40 milhões dele; e
Pablo Henrique Borges, operador que fazia transações com criptomoedas e, segundo a investigação, devia R$ 4,4 milhões a Gritzbach. Ele está em liberdade. Sua defesa não foi localizada pela reportagem.
“O caso não está totalmente ‘rachado’ [esclarecido]. Isso a opinião pública precisa saber”, disse o promotor Rodrigo Merli, em uma entrevista à imprensa em março. “Nós, evidentemente, ainda suspeitamos de algumas pessoas, que são esses núcleos”.
Os PMS da escolta ilegal de Gritzbach já foram investigados pela Corregedoria da Polícia Militar, mas em outro inquérito, que concluiu que eles vendiam aos criminosos informações sigilosas sobre operações policiais. Todos os 15 PMs que faziam segurança para o empresário estão presos e foram denunciados pelo MP por crimes como organização criminosa e falsidade ideológica.
Os nove policiais civis são investigados ainda num inquérito da Polícia Federal sobre corrupção. Oito deles estão detidos e o nono responde em liberdade. Eles também são réus por lavagem de dinheiro.
Hacker pagou dívida em joias
Anéis encontrados com Gritzbach após ele ser morto têm as iniciais do hacker e da ex
Reprodução
No caso do hacker Pablo Borges, não há pedido de prisão contra ele e, por isso, é investigado em liberdade.
Segundo a polícia, ele era sócio de Gritzbach na lavagem de dinheiro. A dupla usava criptomoedas e imóveis de luxo para encobrir a origem do dinheiro do tráfico do PCC e do CV.
Gritzbach: por que 3 investigações apuram ligaçao de delator com policiais e facções
Depois, quando o clima azedou entre eles, Gritzbach passou a se referir a Pablo como “Picareta” ou “Pilantra” por conta do dinheiro que o ex-sócio devia a ele.
O empresário foi a Alagoas se encontrar com um intermediário para pegar umas joias de Pablo para quitar a dívida. As peças estavam na bagagem de Gritzbach quando foi executado.
“O fato de as joias serem de propriedade de Pablo mostra que, possivelmente, Antonio Vinicius Lopes Grtizbach foi atraído para o estado de Alagoas sob o pretexto de ‘receber’ valores devidos e esta pode ser uma etapa do plano de execução, que pode ter outros mandantes envolvidos”, escreveu a delegada Luciana Peixoto no relatório do DHPP entregue ao Ministério Público.
Segundo o DHPP, as joias que Gritzbach recebeu no Nordeste tinham as iniciais dos nomes de Pablo e da ex dele, que não é investigada no caso e atualmente estaria separada dele (veja abaixo.)
Pablo já havia sido investigado por fraude bancária. Em 2020, uma reportagem do Fantástico mostrou que ele chefiava uma quadrilha que acessou ilegalmente 20 mil contas bancárias e causou prejuízo de R$ 400 milhões no sistema financeiro. Ele chegou a ser preso por dois dias e assinou um acordo de delação com o MP.
Motivos do crime
Cigarreira tinha réplica de arma dourada em sua casa
Reprodução/TV Globo
Segundo a promotora Vania Stefanoni, as pessoas envolvidas no assassinato de Gritzbach receberam dinheiro em troca, mas ainda não se sabe quanto.
Para o DHPP, ele foi morto a mando de dois traficantes ligados ao PCC e ao CV: Emilio Carlos Gongorra Castilho, o “Cigarreira”, e Diego dos Santos Amaral, o “Didi”.
Os motivos do crime foram porque:
Gritzbach desfalcou financeiramente os bandidos que investiram dinheiro na compra de imóveis de luxo e na aquisição de criptomoedas;
era suspeito de ter mandado matar dois membros do PCC;
e ainda entregou à Justiça os integrantes das quadrilhas para quem lavava dinheiro.
Três policiais militares foram contratados para executar Gritzbach: o cabo Denis Antonio Martins e o soldado Ruan Silva Rodrigues foram os atiradores; o tenente Fernando Genauro da Silva dirigiu o carro usado na fuga deles.
O grupo contou com o apoio de um “olheiro”: Kauê do Amaral Coelho, o “Jubi’, que tem ligação com o PCC, seguiu o empresário no aeroporto e deu informações aos executores sobre a chegada dele.
Dos seis indiciados pela morte, os três PMs estão presos. Os dois mandantes e o “olheiro” seguem foragidos.
O g1 não conseguiu localizar as defesas de todos os investigados. Em outras ocasiões, seus advogados negaram envolvimento deles na morte do delator.
Veja quem é alvo da Polícia Civil na morte de Gritzbach
Arte/g1
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