
Neste sábado, 24 de maio, o Brasil celebra o Dia Nacional do Café, data instituída em 2005 pela Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) para marcar o início da colheita nas principais regiões cafeeiras do país . A ocasião destaca a importância econômica e cultural do café, uma das bebidas mais consumidas no país, presente em 9 de cada 10 lares brasileiros.
Em Roraima, embora a cafeicultura ainda esteja em fase de consolidação, iniciativas locais têm se destacado, como o Café Monte Roraima, fundado em 2020 por Gabriel Dias. A empresa nasceu de forma despretensiosa, com a compra de apenas duas sacas de café da Comunidade Indígena Mangueira, em Alto Alegre. Desde então, Gabriel tem se dedicado a incentivar a produção local, oferecendo um café puro, sem misturas, e sempre recém-torrado, garantindo frescor e qualidade aos consumidores.

“A gente nasceu com um ideal: fazer o roraimense tomar o café que ele mesmo planta. Nossa proposta é valorizar o produtor local e mostrar que temos qualidade aqui também”, afirmou Gabriel.
A empresa atua desde a seleção até a torrefação, com foco em qualidade em todas as etapas. Segundo o empreendedor, todo o processo começa no campo, com um trabalho de orientação junto aos produtores.
“A gente acompanha desde a colheita. Só compramos grãos maduros, que passaram por uma secagem adequada, sem mofo e sem contaminação. É um café que foi bem cuidado na lavoura. Depois, fazemos a catação manual dos grãos e testamos a torra em pequenos lotes, buscando o ponto ideal para realçar o sabor”, explicou.
A torrefação é feita em Boa Vista, com equipamentos próprios. A cada nova remessa, Gabriel realiza testes sensoriais, ajustando o perfil da torra de acordo com a origem do grão e suas características naturais, como acidez, doçura e corpo.
“A gente não faz torra em grande escala. O foco é no frescor. Cada lote é torrado na semana da venda, então o cliente recebe um café recém-saído do torrador. Isso faz toda a diferença no sabor e no aroma”, contou.

A parceria com comunidades indígenas tem sido fundamental para o crescimento da cafeicultura no estado. Além da Mangueira, outras comunidades como a Kauwê têm investido no cultivo de variedades adaptadas às condições amazônicas, como o “Robusta Amazônico”, desenvolvido pela Embrapa Rondônia. Essas iniciativas promovem não só sustentabilidade econômica, mas também valorização cultural e respeito às práticas agrícolas tradicionais dos povos originários.
“É importante que o consumidor local entenda o valor do café daqui. A gente sempre consumiu café de fora, e muitos ainda não sabem que existe produção de qualidade em Roraima. Nosso desafio é mudar esse pensamento”, afirmou Gabriel.
Atualmente, o Café Monte Roraima comercializa tanto grãos moídos quanto em grão. As vendas são feitas diretamente pelas redes sociais e parcerias com cafeterias e empórios locais. O produto leva o selo de empresa cadastrada na SUFRAMA e carrega o orgulho de ser 100% roraimense.
“Um dos nossos maiores orgulhos é quando um cliente diz que o café lembra o da avó, aquele cheirinho na hora da torra. Isso mostra que estamos no caminho certo, resgatando memórias afetivas com um produto regional.”
O governo de Roraima, em parceria com instituições como o Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural de Roraima (Iater) e a Embrapa, tem promovido eventos de networking, fornecido assistência técnica especializada e incentivado práticas sustentáveis de cultivo. O Projeto Café Roraima é um exemplo dessas ações, buscando fortalecer a produção local, melhorar a qualidade dos grãos e abrir novos mercados para o café roraimense.
“Nosso sonho é ver o café de Roraima sendo reconhecido nacionalmente. E isso passa por investimento, capacitação e principalmente pelo apoio do próprio povo. Quando o roraimense valoriza o que é nosso, tudo muda”, concluiu Gabriel.
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