BRUNO RIBEIRO E JULIANA ARREGUY
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e seu secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, protagonizaram um evento com ares de pré-campanha eleitoral durante a festa de filiação do secretário ao PP, nesta quinta-feira (22), em uma casa noturna da Vila Olímpia, zona sul da capital paulista.
Derrite foi explícito ao se colocar como candidato ao Senado, justificando que esse é o motivo de seu retorno à legenda -da qual havia saído em 2022-, enquanto Tarcísio, apontado como possível presidenciável no próximo ano, disse que o grupo de dirigentes partidários que os acompanhava estava unido e que “quer fazer a diferença”.
“Uma coisa que é importante, que não pode passar despercebida, é o simbolismo desta reunião aqui. É a quantidade de lideranças que nós temos aqui, do Brasil inteiro. Para quem duvida que esse grupo vai estar unido no ano que vem, eu digo para vocês: esse grupo estará unido”, afirmou o governador.
O grupo citado por Tarcísio era composto por presidentes nacionais de partidos que estavam com ele no palco: Valdemar Costa Neto (PL), Renata Abreu (Podemos), Gilberto Kassab (PSD), Antonio Rueda (União Brasil) e Ciro Nogueira (PP). À exceção de Valdemar e Renata, os demais dirigentes integram o primeiro escalão do governo Lula (PT). Apesar disso, já se articulam para lançar uma candidatura de oposição à reeleição do presidente em 2026.
“Esse grupo vai ser forte, esse grupo tem um projeto para o Brasil. Esse grupo vai fazer a diferença. Esse grupo sabe o caminho. No momento em que há dúvida, no momento em que tem muita gente lá em Brasília perdida, que não sabe o caminho, e em que as decisões são tomadas de forma casuística, às vezes até de forma irresponsável, tem o grupo aqui, que está unido, que sabe o caminho, que quer fazer a diferença”, discursou Tarcísio, sem citar diretamente Lula.
Segundo aliados de diversos desses dirigentes, o grupo aguarda um aval de Jair Bolsonaro (PL) para a indicação de Tarcísio como candidato à Presidência no próximo ano. Oficialmente, o governador afirma que disputará a reeleição.
Ciro Nogueira foi o primeiro a abordar o tema no palco, pouco antes do discurso do governador.
“Os governadores de São Paulo sempre erram ao serem eleitos: querem logo disputar a Presidência e se colocam como candidatos”, disse o dirigente.
Na sequência, completou: “E é por isso que talvez o Brasil vá chamar o governador Tarcísio de presidente muito em breve. Ou agora ou em 2030. E quem vai decidir isso é o povo de São Paulo e o povo do Brasil.
Mas pode ter toda a certeza: se houver essa decisão, governador, tanto o União Brasil quanto o Progressistas estarão ao seu lado.”
Valdemar, embora defenda que Bolsonaro -atualmente inelegível- será o candidato à Presidência em 2026, afirmou que o PL também aguarda uma definição sobre a situação eleitoral de Tarcísio.
“Nós temos que ver o que o Tarcísio vai resolver para que a gente possa resolver a nossa vida”, declarou.
O presidente do PL também ressaltou que, no fim das contas, a decisão sobre quem será o candidato ao Planalto caberá ao próprio Bolsonaro.
“Quem vai dizer quem será o candidato a presidente é o Bolsonaro. Por quê? Porque ele é o dono dos votos”, disse.
O evento ocorreu na casa noturna Vila JK, que, segundo a equipe de Derrite, tem capacidade para mil pessoas e estava lotada de prefeitos e vereadores do interior, além de deputados, senadores e convidados dos partidos. De acordo com assessores do PP, mais de 80 prefeitos estavam no local. O partido comanda 47 prefeituras em São Paulo.
Dois presidentes de partidos que apoiam Tarcísio no estado não compareceram: Baleia Rossi (MDB) e Marcos Pereira (Republicanos). Há mais de um ano, circulam rumores -alimentados por Valdemar- de que Tarcísio poderia deixar o Republicanos e migrar para o PL. No caso do MDB, parte da bancada federal da sigla insiste em apoiar Lula em 2026.
Outra ausência foi a do prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB). Embora Derrite tenha se colocado como pré-candidato ao Senado, integrantes de partidos avaliam que ele também poderia disputar o governo paulista caso Tarcísio realmente concorra à Presidência. Nunes também tem interesse no cargo.
Ciro Nogueira reforçou, ao chegar à cerimônia, que, caso Tarcísio se lance à Presidência, o partido defenderá a candidatura de Derrite ao governo de São Paulo.
“Aí, o Derrite deve ser candidato ao governo. Nós vamos defender isso, mas é lógico que é uma construção”, afirmou.
O secretário da Segurança comentou as ausências. Sobre Nunes e Baleia Rossi, disse que ambos tinham compromissos, mas que o prefeito o telefonou. “Existe uma rivalidade minha e do Ricardo [Nunes] aqui em São Paulo contra a criminalidade.”
Derrite, ex-capitão da Polícia Militar, foi eleito deputado federal em 2018 pelo PP e desde então manteve proximidade com o grupo político de Bolsonaro. Em 2022, porém, o PP apoiou a campanha de Rodrigo Garcia (então no PSDB) ao governo paulista, no primeiro turno, o que motivou Derrite a trocar o partido pelo PL.
Agora, o secretário retorna ao PP para disputar o Senado, já que o PL pretende lançar Eduardo Bolsonaro. Em 2026, cada estado elegerá dois senadores. A troca partidária foi negociada de forma amigável por Ciro e Valdemar.
“Não tem por que esconder que o desejo nosso, que a minha saída do PL, tem um contexto -e o contexto principal é a vaga para o Senado”, disse Derrite a jornalistas, após o evento.