Tom Cruise não corre apenas contra o tempo — ele corre contra o fim de uma era. Missão Impossível – O Acerto Final entrega exatamente o que promete no título: a última dança de um ícone da ação que transformou a corrida desabalada em assinatura de estilo. A oitava (e supostamente derradeira) missão de Ethan Hunt é um espetáculo de acrobacias sobre-humanas, IA megalomaníaca, tensão global e uma boa dose de nostalgia. É como se o filme dissesse, a cada explosão coreografada: “lembra por que você ainda vem ao cinema?”
Desta vez, o inimigo é intangível, mas onipresente. A chamada “Entidade” — uma inteligência artificial autônoma que brinca de Deus com o destino das nações — transforma o mundo em um tabuleiro de desinformação. Cruise, fiel à missão de salvar o mundo e a experiência cinematográfica, enfrenta essa ameaça com a mesma seriedade com que se pendura em aviões, escala penhascos ou pula de motos em penhascos. Nada é exagero quando se trata de Ethan Hunt. Ou de Cruise.

O roteiro sabe rir de si mesmo. A “chave cruciforme” que destrói a IA maligna parece saída diretamente de um jogo de videogame dos anos 90, mas é aí que mora parte do charme: essa franquia nunca teve medo de ser brega com elegância. Ao contrário de muitas sagas modernas, que tentam justificar sua seriedade com camadas de cinismo, Missão Impossível encara o absurdo com peito estufado e trilha épica.
Ao lado de Cruise, a gangue habitual está de volta: Benji (Simon Pegg), Luther (Ving Rhames) e a novata Grace (Hayley Atwell) formam o coração e a inteligência emocional da operação. Há até espaço para um novo rosto promissor, o capitão Bledsoe (Tramell Tillman), que surge com o carisma necessário para talvez carregar o bastão num futuro improvável. A série sempre foi boa em plantar sementes — mesmo quando promete encerrar a colheita.

Visualmente, o filme é um primor de precisão técnica. A cena aérea em que Cruise se pendura num avião parece querer fazer com que nos arrependamos de ver qualquer coisa numa tela menor que um prédio. É um grito de resistência contra o streaming, contra a distração, contra a pressa. É como se dissesse: “preste atenção, esta é a última vez que um astro faz isso com o próprio corpo”.
Mas se é uma despedida, ela não é melancólica. Há momentos de pura celebração da própria história da franquia — com flashes de filmes anteriores e uma metalinguagem sutil sobre o próprio papel do herói incansável que desafia a tecnologia, o tempo e até a lógica. Cruise não interpreta apenas Ethan Hunt. Ele é o próprio espírito da ação clássica tentando sobreviver num mundo de pixels e IA.

A comparação com Harold Lloyd pendurado no relógio não poderia ser mais certeira: Cruise segura o ponteiro do tempo com os dentes, fingindo que ainda podemos viver eternamente no clímax de um blockbuster. Ele não quer apenas vencer a Entidade — ele quer atrasar o fim do cinema como o conhecemos. E, por mais impossível que pareça, quase consegue.
Conclusão
Se esse for mesmo o fim, é um fim com honra, suor e parafusos voando. Missão Impossível – O Acerto Final é uma carta de amor à ação física, à sala escura, à emoção sem cortes. E Tom Cruise, correndo mais uma vez para salvar o mundo, nos lembra que, às vezes, o impossível ainda vale a pena.
Confira o trailer:
Ficha Técnica
Direção: Christopher McQuarrie;
Roteiro: Christopher McQuarrie, Erik Jendresen;
Elenco: Tom Cruise, Hayley Atwell, Ving Rhames, Simon Pegg;
Gênero: Ação;
Duração: 169 minutos;
Distribuição: Paramount Pictures;
Classificação indicativa: 14 anos;
Assistiu à cabine de imprensa a convite da Espaço Z